Acordo com um terrível som de violino desafinado, amaldiçoando toda a existência de Erika, minha colega de quarto. Sinto meu rosto ainda pegajoso devido à noite anterior, olhos colados com o rímel escorrido pelo rosto.
-- Garota... qual foi o caminhão que te atropelou? -- Escuto a voz de Erika me questionando enquanto tenta afinar seu violino, preparada para as aulas do dia.
Levanto-me lentamente, sentada na cama, disposta tal qual um zumbi. -- Sophia, o nome dele é Sophia. -- Respondo arrastando meus pés para fora da cama, me arrepiando imediatamente por conta do contato com o chão gelado.
Gostaria de passar o meu dia todo ali, debaixo das minhas cobertas quentes, mas infelizmente fui criada por uma mãe chinesa autoritária, o que me fez me sentir inútil caso não levante antes das oito da manhã. O clima do quarto ainda não estava leve, devido a discussão que nós duas tivemos, mas creio que Erika entendeu o meu lado na história. Desde o incidente nosso quarto estava mais organizado que nunca, às vezes dar a louca funciona.
-- Como você teve a proeza de ir em uma festa do centro às segundas? Geralmente é só pros fortes.
-- Ninguém me avisou desse detalhe. -- De repente ela se toca de algo. -- Pera, como você sabe que eu fui em uma festa?
-- Meu bem, a YSR não brinca em serviço. -- Ela diz em meio a algumas risadas fracas
-- O que? -- Meu corpo se enche de pânico e me encontro desesperada em procura do meu celular, jogando todas as mantas que antes estavam na cama ao chão, em procura da bolsa que fui a festa. Quando finalmente a encontro e abro seu zíper sinto um forte cheiro de álcool que embrulha meu estômago, pego o meu celular e o ligo, lembrando instantaneamente do motivo pelo qual eu o desliguei, minha mãe.
Assim que sua tela acende, me deparo com milhares de notificações, todas da minha mãe, encarei o contato dela do messenger por alguns minutos, sem coragem para abrir a conversa.
Decido esquecer isso por algum tempo e me concentrar em algo que garanta a minha reputação no momento. Abro a página da YSR, com diversos posts, o mais recente com uma foto de Loren e Owen na noite passada, em um momento um tanto íntimo, um beijo intenso.
Com minha boca aberta de surpresa, olho para Erika. -- Pois é garota. -- ela diz em afirmação.
Não abro os comentários, com medo de ver a reação dos outros alunos, arrasto a página de notícias para baixo, a procura de mais. Existia também um post sobre Jaden, onde ele estava batendo um papo casual com outro garoto no balcão do bar. A foto não continha nada demais, o problema maior era a legenda, que com certeza mudaria a interpretação de muitas pessoas.
"Na festa do dia anterior, Jaden é visto com um garoto constantemente, seria ele o atual namorado do bailarino?". Além de manipular os leitores era uma mentira, Daiyu passara a noite anterior com Jaden e não tinha visto o tal garoto.
– O Jaden deveria assumir logo isso, ficar negando só vai piorar. – Erika diz em tom de deboche.
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Após sua rotina matinal, Daiyu se dirige como de costume a sua primeira aula do dia. A sala de artistas agitada como sempre, todos com casacos devido ao frio deste dia, Daiyu sentada a sua cadeira se encolhendo na mesma e se aconchegando em seu moletom da Rosethorn.
O tempo passava lentamente, diferente das outras aulas de piano. Daiyu lutava contra seu próprio sono, lutando para não fechar seus olhos. Costumava prezar por suas noites de sono, para que seus estudos fluíssem melhor, mas nesta terça estava semelhante a um zumbi, com olheiras gigantes e cabelo despenteado.
Em um vacilo, se permite deitar em sua cadeira, apenas para descansar sua cabeça, sem forças para aguentar o peso da mesma, e quando menos percebe é acordada com um tapa do professor Christopher em sua mesa. – Creio que já tenha escolhido o grupo em que deseja trabalhar senhorita Shen. – Ele diz em um tom ameaçador.
Com a cabeça semi levantada Daiyu escuta o professor, tremendamente constrangida. Corrige sua coluna e sente a atenção da turma voltada para si.
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Estressada saiu de sala com sua pequena bolsa caindo pelo seu ombro, sua cabeça estava latejando, marcou uma nota mental que nunca mais visitaria lugares assim, pelo menos não em dias úteis. A questão é que não queria admitir para si que a noite anterior, apesar de caótica e cansativa, havia sido uma das melhores. A roda de dança foi uma das coisas mais divertidas que ela participou nesses meses, afinal ouvir Sophia uma vez na vida não tinha sido de todo o mal.
Não havia nenhuma publicação que provasse que Daiyu foi na festa de low creek, então mesmo naquela triste ressaca, sua consciência continuava tranquila, andando leve pelos corredores, sem olhares pesando em suas costas, ao contrário de alguns alunos daquele conservatório
Puxou de sua bolsa que levava de companhia a todas suas aulas um comprimido para sua dor e engoliu rapidamente, com a ajuda de um gole da água de sua garrafa também em sua bolsa e seguiu seu caminho para as próximas aulas, afinal ainda continuava sendo uma terça-feira.
