Capítulo 2

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16 de outubro.

A primeira tentativa de suicídio de Sarah.

  As garotas sempre costumam dizer que a vida de uma mulher se torna difícil a partir dos 13 anos. Eu nunca entendi o porquê, até eu fazer 13 anos.

  -Feliz aniversário filha.

  Diz minha mãe sem muito ânimo ou qualquer expressão em seu rosto, apontando para a mesa onde encima tinha uma caixa para mim. Eu abro.

  Eram frustrantes sutiãs.

  Puta que me pariu.

  Eu sorrio de maneira simpática e agradeço a ela, minha vontade era enfiar esses sutiãs no cu da sociedade. Eu posso parecer ingrata mas eu preferia receber qualquer outra coisa menos roupas íntimas. Sei lá, é a porra do meu aniversário e você me dá um sutiã.

  EU NEM TENHO PEITOS!

  Eu me retiro para o meu quarto, fecho a porta. Começo a vestir meu uniforme escolar, penteio meus cabelos e passo um batom. Eu nunca me arrumei bastante pra escola, bem...

  Eu gosto de um cara, mas ele é meu amigo de infância. Ou seja, ele já me viu descabelada, suja de terra, talvez já até me viu comendo bosta. Então não teria motivo pra me arrumar pra ele, porquê se ele gostar de mim de verdade ele ainda me amaria, eu espero...

  MAAAS! Hoje como é meu aniversário, eu decidi que vou me declarar pra ele, hoje depois da escola. Eu não tenho certeza se ele sente o mesmo por mim, eu até dúvido muito disso. Porém eu prefiro matar essa curiosidade de saber a verdade e finalmente tirar esse sentimento que eu guardo a anos. Eu acho que gosto dele desde os meus 9 anos...

  Finalmente pronta para a escola, eu desço as escadas e me despeço da minha mãe que nem sequer me responde. Hoje eu até que estava animada, tirando o fato de literalmente ninguém se importar com o meu aniversário, é... eu estava animada.

  Chegando na escola eu já dou de cara com Alice e a Maggie, minhas duas melhores amigas. Alice era tipo aquelas patricinhas de filme super metidas e a Maggie era uma adolescente revoltada, e eu?
Eu era só a Sarah, a sem graça.

  -HOJE É O GRANDE DIA!!!

  Eu exclamo me referindo ao Tommy, o cara que eu gosto. Dou um mega abraço nelas e tenho absoluta certeza que elas se esqueceram do meu aniversário...

  -É hoje que você vai comer aquela bundinha gostosa do Tommy?

  Diz Alice de maneira sarcástica e Maggie começa a rir. Eu dou um tapinha na cabeça de Alice e dou uma risada também. Alice era tão boba as vezes.

  Deu a hora de entrar na sala e infelizmente eu não fico na mesma sala das meninas mas, felizmente eu e o Tommy somos da mesma sala!!!
Sim, eu posso observar ele o dia inteiro.

  Eu caminho em direção a minha sala e sinto uma mão no meu ombro. Quando eu me viro pra trás eu vejo o Tommy sorrindo pra mim. Eu fico totalmente corada.

  "-FELIZ ANIVERSÁRIO SARAH!"

  Ele diz em um tom alto e animado com um enorme sorriso estampado no rosto. Eu sorrio imediatamente, ouvir isso me deixou muito, muito feliz! Eu o agradeço e o abraço, andamos conversando até chegar na sala.

  Nós dois entramos na sala, eu me sento na minha carteira e o Tommy fica falando com os seus amigos. 
Caramba, acho que estou com borboletas na barriga ou deve ser os sintomas de ficar quase 2 dias sem comer nada. Mas eu estou animada, espero que Tommy goste de mim. E só de pensar nisso me deixa agitada.

(...)

  Após a aula eu vou ao portão da escola. A maioria já foi embora e Tommy é sempre o último a sair, eu vou chamar ele pra andar comigo até minha casa e no caminho eu vou me declarar.

  Eu aviso Tommy e aceno pra ele, que vem andando em minha direção. Já rindo de nervosa e com a testa suando eu digo:

  -Oi Tommy!
  "-Oi Sarah, porquê ainda não foi?"
  -Bem... eu fiquei matando o tempo aqui com as meninas e me esqueci da hora...
  Eu queria te perguntar se você quer ir até em casa comigo? só pra fazer companhia...
 
  "-Claro! Vamos, sem problemas."
 


  Tommy era sempre gentil comigo, era até inacreditável existir um garoto tão doce quanto ele. Acho que foi isso que me fez gostar dele.

  Eu e Tommy vamos caminhando lentamente em direção a nossas casas. O Tommy é tão fofo, ele tem um monte de sardas no seu rosto e seu cabelo é bagunçado e escuro, chega a ser impossível não se apaixonar por alguém como ele.

  Eu me viro e paro de caminhar, acho que estou pronta pra falar.

  "-Parou por quê?"
  -Bem, Tommy. Eu na verdade esperei você sair da escola pra poder te falar uma coisa que faz tempo que eu escondo...

" -Oque seria?"

  Tommy questiona com um olhar confuso, que o deixa mais fofo ainda.
Com a ansiedade a mil e me tremendo toda eu respondo:

  - Eu gosto de você.
Já faz um tempo que eu queria ter te falado, mas só tive coragem agora. Eu não espero que você sinta o mesmo por mim, ou que possa retribuir e eu não quero estragar nossa amizade...

  Eu continuo falando muito, as vezes eu falo demais quando tô nervosa ou ansiosa. Eu não conseguia nessa hora se quer olhar pro rosto de Tommy, meu rosto estava completamente vermelho e minhas mãos tremendo. Acho que nunca passei por nada mais difícil do que ter que contar oque eu sinto frente a frente de um garoto.

  Eu sigo falando mas Tommy me interrompe, ele se aproxima me puxando pra perto.

Ele me beija.

Eu consigo sentir o calor do rosto dele, suas mãos segurando meus braços, o macio do seu moletom, seus lábios, sua respiração tocando meu rosto.

Eu congelei.

  "-Eu gosto de você também Sarah."

  Tommy diz olhando no fundo dos meus olhos, seus olhos brilhavam naquela hora.  O sol tocava sua pele e o vento soprava seu cabelo, eu tinha certeza que naquele momento eu estava admirando ele de boca aberta.

  Nunca fui muito de acreditar em Deus, mas acho que dessa vez ele me abençoou. Pelo menos uma vez na vida, por um momento, naquele instante eu me senti feliz e tão satisfeita.

  Tommy sentia o mesmo por mim.

A dor de Sarah se transforma em poesia (How to kill an angel) Onde histórias criam vida. Descubra agora