🥀|ℭ𝔞𝔭𝔦𝔱𝔲𝔩𝔬 𝔮𝔲𝔞𝔱𝔯𝔬 |🥀

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𝕬companho Hanna até a saída ouvindo suas queixas sobre aritmética complicada que ainda precisa resolver. Tranco a porta e me deparo com a figura de um homem escorado no portão, fumando um cigarro. Ele mantém a mão no bolso do sobretudo.
Peço silêncio a minha amiga com um gesto. Aproximo lentamente e viro-o para mim com um toque no ombro.
-Nicholas?- pergunto surpresa, me afasto um pouco. -O que faz em frente á minha casa?
-Também gostaria de saber - Hanna para ao meu lado, cruzando os braços nas alturas dos seios.
-Vou levar-las para o colégio de hoje em diante - Ele joga o cigarro no chão, pisando em cima, alterna seus olhos azuis entre nós duas.
-Assim do nada? Não preciso de guarda- costas, Castarelli - Reviro os olhos, o empurrando para o lado - Vamos para o colégio Hanna, sozinhas.
-Escutei na rádio que dois adolescentes após terem sido expulsos pela Layla do camarim, planejaram a morte dela estão sendo procurados - Ele cruza os braços, olhando fixamente para os meus olhos - Uma testemunha disse que ouviu a conversa.
-Queriam me acusar de vingança contra a cantora? - Respiro fundo, frustrada - Isso é um absurdo- Olho para a minha amiga que está calada - Você acredita que jogaram a culpa em mim e no Nicholas?
Hanna encara um ponto na fachada de tijolo cinza e branco. Seguindo seu olhar, tampo a boca com horror ao ver as palavras escritas com carvão. Sinto as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
-Fique calma, Marie -Nicholas me abraça. Escondo o rosto no seu sobretudo, manchando-o com as minhas lágrimas.Ele faz carinho nas minhas costas, consolando-vamos depor na polícia quando nos chamarem e sair dessa juntos. Essa testemunha falsa não vai nos incriminar.
Fecho os olhos, ainda com as palavras escritas na parede na mente. Minha emoção muda do horror para a raiva.
-É um absurdo mesmo - Hanna quebra o silêncio-Ela só quis avisar a cantora, não fez nada de errado.
-Vamos para o colégio, Hanna - Afasto de Nicholas, pegando meu lencinho bordado com a letra M no bolso. Limpo o rosto, decidida a esquecer o que aconteceu - As aulas vão me distrair.
-Hoje vocês vão faltar - Nicholas diz com convicção sorrindo de lado e olhando para nós duas com mistério. Seus olhos azuis revelam que ele tem um plano-Tenho uma ideia melhor para te animar, Marie.
-Nicholas, a educação é nosso futuro - Hanna me surpreende com a sua resposta- Não podemos perder uma aula.
-Hanna, você não queria escapar da aula de aritmética? - provoco cruzando os braços e erguendo uma sobrancelha - agora tem a chance de faltar e resolver as questões depois.
-O que esta pensando, Nick? - Hanna pergunta curiosa e animada - Faltar hoje não fará nenhum mal, né?
-Você vem também, Hanna? - Ele aumenta o sorriso olhando para ela -
ela  prefere ir para o  colégio- Brinco olhando para ela rindo- A professora vai dar aula de aritmética no primeiro horário.
Nicholas morde o lábio, rindo também. Dou um pigarro para ficar séria.
-Vamos - ela revira os olhos e desce da calçada.
Nicholas oferece os braços. Conversamos sobre coisas aleatórias até chegar na casa dele. Hanna e eu tentamos descobrir para onde ele vai nos levar. Ele diz que é lição prática que  vamos aprender fora da sala de aula.
Castarelli sai da garagem dirigindo um Ford model T. É um carro preto, brilhante e imponente. Hanna e eu ficamos boquiabertas com as formas redondas da carroceria, as rodas de madeira com pneus de borracha. Os faróis redondos e o radiador dianteiro. Os bancos são de couro preto. O motor ronca forte e barulhento. Há um escapamento na lateral que solta uma fumaça branca.
-Moças- se inclina no banco para abrir a porta -Entrem, por favor.
Hanna e eu entramos. Ela se senta no banco  espaçoso atrás, enquanto fico ao lado do motorista.
O painel e o volante são de madeira. Há alguns botões além do acelerador e o freio de mão. No velocímetro, mostra que pode atingir até 65 km/h.
-Gostaram da minha maquina nova? - Ele pergunta, notando nossa admiração pelo carro- Esse modelo tem quatro cilindros de vinte cavalos de potência- desliza a mão pelo volante.
-Uau - diz Hanna se apoiando no banco da frente- coloca esse carro para correr.
Seguimos a viagem, cantando uma música, enquanto saímos da cidade.
Ele estaciona o carro em um campo aberto e amplo cercado de árvores altas e frondosas. Pássaros cantam escondidos nos galhos, deixando o ambiente agradável. O terreno é de terra batida e coberto de grama rasteira.
-Nicholas, onde estamos? - Hanna pergunta, curiosa, com seus olhos castanhos passeando pelo campo.
-Estamos no campo para a nossa aventura - Ele responde misterioso descendo do carro- Marie, assume o volante.
-Para que? - Pergunto, obedecendo a sua instrução, sem entender nada -Não é uma das suas pegadinhas,né?
-Claro que não, magrela- Ele abre a porta do outro lado e entra, revirando os olhos - Prometi uma licao pratica fora da escola. Vou ensinar vocês a dirigir o dia inteiro.
Arregalo os olhos surpresa, olho para a Hanna que compartilha a mesma emoção.
-Desde quando você dirige? -Pergunto, curiosa. Esqueci de perguntar.
-Meu tio que mora em Londres me ensinou- Responde dando de ombros - Chega de perguntas e vamos para a nossa aula.
-O que eu faço?- Pergunto confusa, segurando o volante de madeira. O motor ronca alto me assustando.
-Relaxa um pouco, magrela - Ele disfarça a risada com uma tosse- Para dirigir, tem que ficar relaxada.
Reviro os olhos nervosa.
-Você rindo não ajuda, Castarelli-Olho para ele ameaçadoramente-Para de rir e me ensina.
-Desculpa- Ele respira fundo, parando de rir - Pisa no acelerador com cuidado e solta o pé da embreagem na mesma proporção-Ele orienta, calmo.
Faço o que ele pede, receosa. O carro começa a andar em linha reta. Seguro o volante com força, para não sair da linha.
-Vai com calma, magrela. Sinta o carro, pense que é uma extensão de você- ele continua orientando.
Pelo canto do olho, vejo Nicholas sorrindo de lado, orgulhoso do meu desempenho. Seus cabelos negros, assim como os meus, se espalham enquanto dançam com o vento.
Sigo os conselhos dele e, aos poucos, entendo todas as funções e me sinto a vontade.
Nicholas me elogia pelo progresso e corrige os meus erros com paciência.
-Vou trazer vocês aqui mais vezes, quando puder - Ele diz convicto -Magrela, você tem potencial. Só precisamos  acertar alguns detalhes.
-Quando é a minha vez? - Hanna pergunta, ansiosa para aprender também.
-Já, Já- Nicholas responde - Vocês são as pioneiras em dirigir um carro.
-Graças a você, que é doido por ensinar -Hanna brinca abrindo os braços.
-Vocês estão fazendo muitas conquistas nesta década- ele diz sorrindo - Fico feliz em ajudar as duas a alcançar esses feitos , que muitas estão buscando.
-Muitas pessoas ainda tem preconceitos- Digo suspirando - Por exemplo meu pai, que acha que as mulheres devem cuidar da casa e não se interessar por ciência, política e economia, porque são assuntos masculinos.
-Eles precisam se atualizar-Rebate Nicholas, revirando os olhos - O mundo está mudando e Hanna, é a sua vez.
-Finalmente - ela pula do carro, abrindo a porta do motorista.
Troco de lugar com ela, concordando com o Castarelli. Hanna se sai melhor do que eu na primeira aula de direção.

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