Estranhas Reações de Tiago e Bruno

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Estava na cozinha procurando algo pra fazer, e insisti pra que me deixasse ocupar em alguma coisa, e então me puseram pra descascar batata. Ótimo eu gostava de batata.
Quando descasquei 4 kg de batatas, e as coloquei na máquina de fatiar, as deixando como palito, eu fui dispensado do meu serviço, quando já estava dando cinco horas, isso significava que logo meu primo chegaria do trabalho.
Meus tios estavam cada um ocupado em seus passatempos, minha tia estava no jardim com um regador, enquanto Silvio rastelava as folhas do gramado. O portão de casa levantou automaticamente, e o carro do meu primo adentrou e se dirigiu pra garagem coberta. Estacionou ao lado de uma moto bem grande, de certo pertencia a Bruno...
Tiago abriu a porta do seu carro e saiu, espreguiçando, trazendo o seu blazer apoiado no ombro. Ao passar por mim na soleira da porta da sala de estar, ele jogou seu blazer na minha cabeça.
- Coloque no meu quarto.
Não mandei ele tomar naquele lugar por receio de minha tia escutar. Eu peguei seu blazer, que estava bem perfumado, e dobrei de qualquer jeito e subi as escadas, enquanto Tiago ia para a cozinha.
No corredor caminhei até a porta do quarto do meu primo e girei a maçaneta, adentrando. O quarto de Tiago era impecável, tudo bem arrumado metricamente em seu devido lugar. Ele era muito vaidoso em todo sentidos.
Levei seu blazer até o closet, e ali deixei em cima de uma mesinha de apoio. O quarto de Tiago era mais completo, o meu não havia closet, só um guarda-roupa, mas estava bom do mesmo jeito. Estava de costas, olhando as fileiras de roupas bem limpas nos cabides. E saber que ele jogava fora aquelas roupas apenas usadas poucas vezes... que desperdício! Ao me virar me assusto repentinamente com Bruno apoiado na porta do closet, me olhando em silêncio. E fiquei olhando, pois ele estava sem camisa e de calça jeans, desabotoada. O que ele fazia ali?
- Você me assustou! - tento me recompor. Bruno estava me avaliando. Droga porque ele tinha que ser assim? - Será que pode sair do caminho?
Ele riu e se afastou.
- Pode sair.
- Obrigado! ‐ respondi ríspido, e sai do closet. Ao sair, Bruno me segurou no antebraço, me fazendo parar. - Porque está me segurando?
Ele me soltou.
- Não sei. Me deu vontade, acho.
Me virei para ele.
- Não gosto que me toque sem mais ou menos.
- Então tenho que ter um bom motivo pra te tocar? - Bruno enfiou as mãos dentro dos bolsos da jeans.
Suspirei.
- Ah esquece, apenas não me toque mais - me virei pra sair, quando Tiago adentrou seu quarto bebendo uma coca de latinha. Fiquei no meio do quarto, com Bruno atrás e Tiago na minha frente. Que situação constrangedora.
- O que está fazendo? - meu primo perguntou me olhando com um olhar de desagrado. Antes que pudesse responder, o ogro se manifestou atrás de mim:
- Ele veio por seu blazer no closet.
Logo Bruno passou por mim, e foi em direção a meu primo, e pegou sua lata de coca e deu uma golada. - Depois a gente se vê.
E saiu levando o refrigerante do meu primo. Achei meio estranho, mas não disse nada.
- Agora você pode sair. - Eu comecei a caminhar, mas Tiago estendeu o braço no meio do caminho, e fui obrigado a parar. - O Bruno é meu amigo, ele tem liberdade de entrar aqui a hora que quiser, então não fique surpreso, e nem crie teorias paranóicas, fui claro?
Olhei para o meu primo me sentindo intimidado:
- Sim, muito claro. Agora vou sair, com licença.
Quando sai do seu quarto, e fechei a porta, senti mais relaxado. Eu evitaria de entrar novamente ali, a não ser que não tivesse jeito mesmo. Meu primo havia ficado muito incomodado de me ver com Bruno.

Fui pro quarto suíte e deparei com uma cama de solteiro armada a um canto, criando um espaço bem aberto da cama de casal onde Bruno estava deitado, e mexendo no seu celular. Fui pra minha cama, e sentei.
- E aí o que achou? - indagou Bruno sem tirar os olhos do seu celular.
- Hum... acho que teria sido melhor eu ter ocupado o outro quarto, assim lhe daria mais privacidade - disse a ele.
Bruno riu.
- Não tenho vergonha de ficar a vontade mesmo com você me olhando, eu posso dormir pelado de boa, e não me importo nenhum pouco, pois você não vai fazer nada, não é mesmo? - Dessa vez ele levantou o olhar para mim.
Fiquei me sentindo desconfortado com aquela pergunta idiota:
- Oras e o que acha que eu poderia fazer?
Bruno ria maliciosamente para mim:
- Quer mesmo que eu responda?
Arquejo irritado:
- Se está preocupado ou inseguro, posso muito bem ir dormir em qualquer outro lugar, assim seu corpo imaculado não correrá o risco de ser profanado! - me pus de pé.
Bruno riu e estendeu a mão:
- Não é necessário, fique de boa. Eu sei que vai se comportar.
- O mesmo espero de você! - retruquei.
- Hum, eu vou tentar - disse.
- Tentar não, você irá me respeitar, do contrário vou sair desse quarto, aliás, você perdeu na competição, e me prometeu que não ia fazer qualquer gracinha.
Bruno espreguiçou:
- Sim, eu lembro dessa parte do acordo. Não se preocupe, vai estar em boas mãos.
- Assim espero!
- Mas e se houver necessidade?
Estranhei aquilo:
- Como poderia ter?
- Oras, existe muitas possibilidades de você precisar de minha ajuda, e aí terei que que agir - disse ele, parecendo sério agora.
Não estava entendendo onde ele queria chegar com aquela conversa:
- Seja mais específico!
- Muito bem, e se você estiver passando por uma cãibra na perna? Você vai precisar de mim, pra fazer uma massagem, ou se estiver tendo algum pesadelo, vou ter que te acordar pra não sofrer... eu sou incapaz de ver alguém sofrendo e não ajudar - disse ele.
Fiquei olhando pra ele desacreditado.
- Eu não tenho cãibra, e não costumo resmungar enquanto estou sonhando.
Bruno levantou as mãos:
- Então tudo bem. Mas e se...
O interrompi:
- Tudo bem, nessas condições eu permito que... que me ajude, e faça o que achar que tem que ser feito.
- Ótimo, o mesmo vale para mim. Você cuida de mim, eu de você. Combinado assim?
Suspirei.
- Beleza, combinado.
- Me passa teu WhatsApp.
- Pra quê?
Ele riu:
- Oras pra quê mais seria?
- Eu não quero - disse, sentindo meio nervoso. - Quero dizer, eu quase não uso.
- Mas eu insisto. Me passa seu WhatsApp?
Droga...
- Olha se eu passar e você ficar me enviando aqueles áudios de gemidos só pra me passar vergonha... - fui logo lhe advertindo.
Bruno riu:
- Não estou mais na quinta série, não se preocupe.
Meio desconfiado, passei a ele. E Bruno logo conferiu.
Meu celular tocou a notificação. Me levantei e fui pegar meu celular que estava dentro da minha mochila. Abri meu WhatsApp e vi a mensagem de Bruno:
"Você é um chato".
Revirei os olhos, e olhei para ele:
- Obrigado!
- Não vai responder minha mensagem?
- Não, vou ignorar. Só respondo ser for algo de útil - rebati e levei meu celular pra minha cama. Eu já tinha salvo o Wi-Fi da casa dos meus tios no celular.
- Então vou mandar só elogios na próxima vez.
Suspirei:
- Não vai encher meu WhatsApp de fotos com mensagens, eu odeio aquilo.
- Então vou enviar uns nudes meus.
Olhei pra ele.
- Envia só um, e te bloqueio.
- Sem nudes então.
- Acho bom mesmo.
- Você não deve ter muitos amigos pelo jeito - observou Bruno.
Dei de ombros:
- Não preciso de muitos, só de um e tá bom, assim não gasto muito dinheiro comprando presente no Natal - respondo e eu mesmo dou uma risadinha da minha piada.
- Está fazendo graça.
Fico mais sério agora:
- Eu não.
- Porque você gosta de ficar mais no reservado?
- Porque está perguntando tantas coisas pra mim? Você tem meu primo pra amolar.
Bruno riu:
- Eu já sei tudo sobre o Tiago, mas de você não sei nada ainda.
- E porque estaria interessado em saber sobre mim?
- Já que vamos ser companheiros de quarto, temos que saber o básico de seu colega, não acha?
Suspirei:
- Não acho, aliás, meu tempo aqui é temporário, vou ficar apenas três semanas, então não precisamos ser amigos.
Bruno me olhou como se eu tivesse lhe ofendido. Tentei explicar melhor:
- Não quis dizer que não acho útil termos um vínculo, mas veja bem... você é o melhor amigo do meu primo, que ele me detesta, então para não criar mais inimizade com ele, é melhor eu não interferir no seu ciclo de amizade, e vice versa.
Bruno se pôs de pé. Fiquei intimidado.
- Eu já disse a você, e vou repetir. Eu e seu primo não somos casados.
Fiquei me sentindo um idiota:
- Eu entendi Bruno... sei que você não tem nada haver com a minha inimizade com o Tiago, mas ainda assim...
- Não quero nem saber. Se você não quer ser meu amigo achando que isso vai alterar a amizade que tenho com seu primo, então fique despreocupado, pois não vai, eu sei resolver as coisas com Tiago - ele disse sério e dessa vez eu senti culpado de verdade.
- Então beleza... talvez a gente pode dar a chance de nos conhecemos um pouco, e sermos colegas... mas isso vai depender de como você vai me tratar daqui pra frente! - O avisei firme. Bruno mudou seu jeito repentinamente:
- Eu vou continuar sendo o mesmo, e você vai gostar de mim sendo como sou.
- Então vai ser uma tarefa muito difícil!
- Eu tenho paciência - piscou e riu pra mim. - Você vai gostar de mim, tanto que vai pegar no meu pé.
Arquejo e reviro os olhos:
- Seu excesso de confiança me irrita sabia?
- É que eu confio no meu taco.
- Você é um idiota - digo.
- E você é um chato - ele responde.
- Achei que ia me dizer "viado" - me surpreendo.
- Viado você é em tempo integral.
- Você é mesmo um sacana.
- As vezes - Bruno me dá um sorriso safado. - Eu vou tomar banho, logo vamos jantar.
- Pode ir, não tô te segurando.
- Não e nem seria capaz, você é fraco.
- Posso te surpreender - desafio.
- Pago pra ver - debocha Bruno e vai pro banheiro.
Ele deixa a porta aberta, faz isso pra testar se vou lá espiar. Que idiota.

Quando resolvo sair do quarto e ir pra qualquer lugar até ele sair do chuveiro a porta do nosso quarto é reaberta. Na soleira Tiago fica me observando incrédulo:
- O que faz no quarto do Bruno? - antes que eu pudesse explicar, ele me vê próximo a cama de solteiro, e fica mais furioso após compreender o que estava óbvio. - Você vai dormir aqui com ele?
Não sei como ia dizer aquilo, pois meu primo estava com cara de que não queria explicações.
- Hum, olha Tiago, eu tentei falar...
- Não quero saber o que você disse, eu quero que saía agora daqui - me interrompeu rispidamente.
Eu não ia se opor, era sobre isso que eu temia desde o momento, mas o idiota do Bruno não quis me ouvir! Seria um alívio pra mim sair dali, e quando fui saindo, ouvi a voz de ironia as minhas costas:
- Vai mesmo sair com o rabinho entre as pernas? - Bruno estava na soleira da porta do banheiro, sem camisa, e com a toalha enrolada na cintura.
Engoli a seco.
- Bruno, eu acho melhor ir... não achei que fosse uma boa ideia desde o começo.
- Eu não acho que seja uma ideia ruim, eu confio em você, e você pode confiar em mim, nada de ruim vai acontecer, então porque não dá essa chance? - insistiu Bruno, ignorando de momento a presença de meu primo.
Tiago arquejou forte, fazendo sua presença ser notada, não que não tivesse sido, mas ele agora queria ser ouvido:
- Não sei porque ele tem que dormir aqui se tem outro quarto vago! - disse meu primo, como se achasse absurdo a ideia de seu amigo Bruno. - Eu devo lembrá-lo que meu primo aqui gosta de homens? E você ainda assim, tá de boa, com ele dormindo aqui?
Droga! Não queria ser humilhado daquele jeito, não mais. Antes que Bruno pudesse replicar, falei num tom firme:
- Tiago chega disso! - estava com raiva. -  Para com esse ciúme idiota, eu não vou abduzir seu boy magia, não precisa fazer essa tempestade no copo d'água, você tá fazendo papel de ridículo sabia?
Bruno deu uma gemida "ai" , mas eu não estava querendo apoio ou aplausos. Já meu primo me olhava como se fosse me degolar vivo.
- Você ficou louco?... - Tiago deu uns passos a frente, e recuei uns pra trás. - Eu posso te moer no murro sua bicha abusada!
Bruno escorou no batente da porta, cruzando os braços, apenas assistindo.
Eu não deixei barato, já que havia começado, ia terminar, mesmo que levasse um soco na cara:
- Vai lá valentão, me soca, me bata, você talvez precisa provar que é ainda um machão debaixo dessa máscara de super hétero, mas ao contrário de mim, eu tenho coragem de me assumir, e não vivo enrustidamente pelos cantos!
- VOU TE MATAR!
Fechei os olhos instintivamente quando vi meu primo em fúria partindo de punho fechado pra cima de mim. Ele ia me socar pra valer. Esperei, nada de sentir o soco. Reabri os olhos, e me surpreendi. O pulso de Tiago estava imobilizado pela mão de Bruno, que havia entrado na minha frente. Fiquei observando os dois se encarando, seriamente, e sabia que tinha que parar Bruno.
- Por favor, não briguem, vocês são amigos! - disse e toquei no braço de Bruno. - Por favor, eu vou embora dessa casa, se você não o soltar!
E Bruno sorriu, e o soltou, dizendo:
- Eu e o Tiago brigar? Isso é o cúmulo, só estávamos nos exercitando os braços. Relaxa, não ia brigar com meu amigo.
Tiago abaixou o braço com um gesto de raiva:
- Bruno quero conversar com você a sós, no meu quarto! - e girando nos calcanhares, saiu do quarto. Eu vi Bruno suspirando:
- E lá vamos nós outra vez - ele foi saindo, quando o puxei pelo braço. - Hei me solte, você não gosta quando eu te toco, então não deve me tocar também!
Ignorei sua piada.
- Porque me defendeu?
- Eu não te defendi. Só segurei o braço dele. Nada demais - riu Bruno. Mas eu não me dei por satisfeito. - Olha Gil, não é da minha natureza ver caras mais fortes batendo nos mais indefesos... talvez seja o hábito, como trabalho de segurança numa casa noturna, estou acostumado apartar brigas de valentões sabe... - ele disse rindo, e piscou pra mim, e acariciou o meu queixo gentilmente com a mão. - Agora tenho que dar a seu primo o que ele vem a tempo merecendo.
E saiu do quarto ainda com a toalha na cintura, e não o impedi mais. Tiago e Bruno tinham algo bem estranho, disso eu não tinha mais dúvida.

Bruno - O amigo do meu primoOnde histórias criam vida. Descubra agora