Mathias ainda tentava assimilar que o que acontecera a pouco tempo atrás, e embora Humberto ficasse tagarelando em seu ouvido e contando histórias que vivenciara com Barreto para a família, ele não conseguia focar em nada que não fosse a menina se atirando para cima dele.
— Eu não acredito nisso, Tito!
Marta de repente disse, e então Mathias percebeu que todo mundo gargalhava pra cacete. Piscou levemente, e embora não fizesse ideia do que estavam rindo o barman fez o mesmo, balançando a cabeça e soltando um suspiro.
— Isso por que vocês não sabem o quanto minhas amigas ficavam falando do Mathias no meu ouvido no colégio. — foi a vez de Luiza falar. — "Me apresenta o pai do seu amigo", "aquele velho é uma perdição", eu sinceramente nem sei como aguentava.
Todos riram novamente, mas Mathias a encarou na mesma medida que ela estava fazendo com ele. Quer dizer, não na mesma medida. A maneira que Luiza o encarava com aqueles olhos cor de mel era pura lascívia, provocação e algo quase como um deboche. Ele não estava entendendo mais porra nenhuma. E de verdade, estava preferindo acreditar que fosse algo no fundo de sua mente de um velho quarentão querendo o trair, afinal, Luiza era nova pra caralho.
A tarde já caía, e era possível ver o pôr do sol transformar o céu num alaranjado lindo e confortável. Bebiam um café canelado, tal qual Luiza fizera dizendo que aprendeu enquanto trabalhou de barista na grande Paulista. Era gostoso, amargo e doce na medida certa, com uma espuma de leite fina sobre a bebida.
Foi de maneira sútil que Mathias conseguiu esquecer de certa forma aquela cena insalubre de mais cedo. Dentre conversar paralelas ele nem via mais a jovem mulher ali, entre eles.
Talvez fosse salvação divina.
— Tito, a gente queria fazer um convite. — Marta disse abrindo um sorriso discreto enquanto retirava pães de queijo do forno.
Barreto franziu a testa. Não é como se ele precisasse de convite para visita-los. Bebericou do café fervente, e pegou um pão de queijo da assadeira que a loira colocara na bancada. Quase se queimou com o maldito.
— Convite? pra que? — perguntou, confuso.
O casal se entreolhou antes de Marta sinalizar com o olhar para que Humberto falasse.
— Pra ir pra Angra com a gente. — o Azevedo falou animado.
Mathias soltou um riso, antes de levantar os ombros. Sem reação ele somente bebericou da bebida fervente, balançando a cabeça em certa surpresa. Ele imaginaria que a família fizesse viagem, mas mesmo com essa superproteção toda, ele não esperava que estivesse incluído nos planos.
— É sério? — perguntou, desviando o olhar de um para o outro.
— Por que não seria? — Marta arqueou a sobrancelha, pousando as mãos na cintura.
— Eu não sei... — ele desviou o olhar — Tem o bar, e...
— Que isso Mathias, já tá arranjando desculpa é? — Humberto comentou, balançando a cabeça e torcendo o nariz — Uma semana só, teus funcionários não conseguem segurar sem você?
É, tinha isso. Claro que conseguiam, Mathias já viajou por um mês inteiro sem ao menos se preocupar com o bar. Na verdade, desde que se tornara um homem solteiro — ou um velho jogado na sarjeta — grande parte do tempo de Barreto era dedicado ao Eclipse bar. E sinceramente ele nem reclamava, afinal, amava de verdade o que fazia.
— Aliás, a Lu vai levar uma amiga, e eu também posso levar uma! — Marta disse, dando uma piscadela para Mathias, que apenas riu enquanto negava com a cabeça.
— Posso saber o que os velhos estão fofocando?
A voz doce e brincalhona da Azevedo mais nova invadiu o ambiente. Quando Mathias virou o rosto, seu olhar caiu sobre a ruiva, que descia as escadas de mármore enquanto permanecia com um riso bobo nos lábios avermelhados.
Sem ao menos perceber, os olhos azuis percorreram cada centímetro do corpo de Luiza. Ela usava uma mini saia jeans num tom claro com um cinto mais grosseiro, um top faixa branco, uma camisa social na mesma cor do top e um clássico par de all star.
A garota estava linda, linda até demais.
Quando seus olhos castanhos flagraram Mathias quase que a secando sem ao menos pensar em disfarçar, um sorriso maroto se estendeu no rosto da mulher, que quase riu ao notar Barreto piscar os olhos algumas vezes antes de desviar para qualquer canto da casa que não fosse ela.
Seu plano estava só começando, e já estava sendo divertido pra caralho.
— Estamos tentando convencer o Tito a ir pra Angra com a gente. — Marta disse, dando de ombros — Mas ele insiste em arrumar desculpa.
Barreto revirou os olhos, soltando uma risada. Luiza sentou na banqueta ao seu lado, o olhando de soslaio perguntou sinceramente curiosa.
— Porque não vai Mathias? bom, se o problema for mulher, eu tenho umas três ou quatro amigas que não se importariam nem um pouco em passar uma semana com você... — Luiza disse brincalhona, puxando uma risada de todos.
O mais velho logo negou com a cabeça, olhando para a ruiva de relance.
— Não, o problema não é mulher. — disse, ainda rindo — Eu só não tenho certeza se consigo deixar o bar por uma semana. Mas vou tentar.
— Tenta... ia ser muito legal se você fosse. — os olhos castanhos o fitaram com uma pitada de lascívia, embora a maldita voz soasse inocente e gentil.
Mathias preferiu fingir que não percebeu o olhar descarado da mais nova o olhar de cima abaixo, antes de soltar um riso travesso.
Era possível Luiza estar se insinuando para ele e ao mesmo tempo jogar outras mulheres pra cima dele? Porra, aquilo era confuso demais.
E a maneira como ela parecia estar se divertindo tanto com aquilo enquanto o fazia de refém de sua brincadeirinha, sem entender completamente suas intenções, o deixava ainda mais desconcertado, confuso e caótico.
— E você, hein, tá indo pra onde tão arrumada assim? — Humberto perguntou para a filha.
— Vou sair com as meninas, vamos num barzinho. — respondeu, suspirando.
— Hum... se for dormir fora avisa, hein? — O Azevedo disse, a voz um tanto quanto preocupada.
Ela soltou um riso, assentindo e se levantando. Luiza ajeitou a alça da bolsa no ombro e estalou a língua. Então, Mathias sentiu o pesar da mão delicada da ruiva sobre seu ombro, perto demais de seu pescoço.
— Espero que consiga ir com a gente, Mathias. — ela permitiu que seus dedos dançassem de maneira lenta sob o ombro dele — A viagem ficaria ainda mais divertida com você por perto.
Mathias forçou um sorriso surpreso e fodidamente desconcertado. Principalmente quanto flagrou o olhar da garota cair em seus lábios de maneira súbita. A palma dela arrastou até o final de seu ombro, antes de finalmente o libertar de seu toque estupidamente sugestivo. Puta que pariu.
— Se cuida filha, se divirta! — Marta exclamou, vendo a ruiva se distanciar e se despedir com um aceno de todos.
E enquanto a noite caía, Barreto se perguntava quando que havia jogado pedra na cruz para merecer aquilo.
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MENINA VENENO
RomanceOnde recém divorciado de um casamento conturbado, Mathias Barreto encara o verão carioca na pior das hipóteses: sozinho e trabalhando. Por sua vez, seu melhor amigo preocupado com a mudança repentina na vida de Mathias, se sente na necessidade de in...