Capítulo 01

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Hadassa

“ — Sempre esteja preparada para ver, sentir e fugir de homens como esse.”

Era a cena do meu pai mostrando em direção a uma tela de televisão, lembro-me de ter feito meus oitos anos de idade e ele, Jonas, me ensinava como lidar em meio caos de uma bandidagem, pelo fato de ser sua primogênita.

A notícia no jornal tratava-se de uma mulher que largou a sua vida para se relacionar com um bandidinho de merda. Não foi apenas esse relato que ele mostrava durante todos os anos da minha vida, mas vários outros, eu assistia ao seu lado.

Jon sempre atuou na vida como um bom pai, afinal, sou sua única filha, a primogênita da sua relação. Eu, Hadassa, sendo sua filha sempre me sentia privilegiada em assistir seus ensinamentos durante toda minha adolescência.

Aos meus quinze anos de idade, eu me sentia uma cópia do meu pai, tornando-se uma verdadeira identidade tediosa dele, uma pessoa que em uma mesa de jantar falava sobre casos e jornais. Como se pegasse casos criminais para desvendar, opinar e acusar.  Isso tornou-se um roteiro na minha vida.

"Orgulho do papai." Ele sempre falava.
"Vista-se assim, filha." Eu sempre permitia.

Queria tornar-me como ele, meu pai sempre foi perfeito.

"Esses bandidinhos não merecem nossa pena. Ele são melhores mortos." Ele sempre moldou minha mente.

Eu queria ser seu orgulho. Ele sempre foi perfeito, eu me tornaria como ele, afinal, sou sua primogênita, seu primeiro amor. Eu não queria ser a filha que fornecia apenas trabalho para criação, consequentemente, sempre gostei de fazer tudo que ele queria e levar para dentro de casa orgulho.

"Odeia-os!" Eu ouvia.
"Estude!" Eu estudava.
"Não faça isso!" Eu sempre fui seu orgulho.

Hadassa, o que mudou? Talvez a morte da minha mãe há dois anos atrás. Meu pai continua o mesmo, seu semblante, seu trabalho, mas agimos como se fôssemos dois estranhos. O caso mal resolvido da morte da minha mãe levou pra dentro da nossa casa várias discórdias.
Meu pai, Jonas, é o melhor agente de investigação, atua como detetive desde seus vinte e três anos, e seu maior fracasso é o caso da minha mãe ficar estável, sem provas e sem um réu para a condenação.

Hilary Becker, ela tinha pele branca, suas sardinhas eram lindas, cabelo ruivo e o temperamento era de uma mulher risonha e feliz. Casou-se com meu pai na Alemanha, onde ela vivia desde sua infância, e após meu pai finalizar seus estudos, ele trouxe-a para o Brasil, Rio de Janeiro — onde ela viveu seus melhores momentos com sua filha e marido.

Até o dia que foi morta. No dia 19 de junho de 2021, o toque da música Jazz ficou marcado na vida do meu pai, foi a última música ouvindo ao lado da minha mãe em um dos bares no Rio de Janeiro, antes dela ir ao banheiro e simplesmente sumir. Desesperados, nós distribuímos fotos para os jornais locais, buscando descobrir se alguém havia visto.

Seis dias depois, a busca terminou: o corpo foi encontrado atrás do cemitério de São João Batista. Ela foi raptada, estuprada, assassinada e carbonizada. Seu corpo estava todo corroído com ácido, e até hoje, dois anos depois, o caso nunca foi resolvido, pois não há provas, testemunhas e possibilidades circunstanciais. Câmeras, vigilância, nada dentro do caso que condena alguém.

Eu como uma detetive recém-formada no mercado, não consegui acesso ao caso.
Penso na possibilidade de como alguém pode ter sido tão inteligente em cobrir qualquer rastros.

Meus pensamentos sobrevoam. Ouço o som alto da balada, as luzes balançam conforme o corpo de todos dentro daquele cúbico local balança com as batidas de uma música eletrônica. Acompanho, o que faz meu corpo balançar levemente no ritmo da música, é um remix de eletrônico que toca.
Bebo a minha bebida com um gosto doce e faço uma careta, o gosto não é bom, é um pouco forte e doce. Eu não sei qual drink estou bebendo, pois nesse momento as bebidas estão sendo compartilhadas com minha amiga.

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