Hadassa
Eu admito. Sou péssima em mentiras, e acho que a possibilidade de mentir não é comigo. Mas eu tenho um pai que praticamente me odeia por todos esses meses, Jonas me trata como uma mulher qualquer na sua vida, e a única coisa que permite ele conversar comigo ultimamente, é o caso onde está trabalhando.
Solto uma respiração sem ânimo algum, guardo todas as evidências que eu havia montado há poucas horas atrás. Eu tenho a certeza que ele irá procurar por algo, então guardo em uma pasta todas fotos e escritas debaixo do guarda-roupa.
Meus pés tocam na superfície inferior da casa, na sala, e em poucos minutos a sirene da polícia ilumina aqui dentro pelas janelas.
Fala sério.
Decerto ele realmente acha que eu fiz algo para matar a garota.Minha expressão é séria, tranquila e contém sarcasmo quando a porta enorme de madeira é aberta, meu pai surge com seu semblante sério.
Ele está fardado pela roupa do trabalho e suas botas.Que humilhação!
— Tem dez minutos para me dizer qual caralho tem nesta sua cabeça de envolver com um caso que já está sendo resolvido. — sua voz é rude.
— Eu estou procurando provas.
Seus lábios soltam uma risada irônica.
Em pé, um pouco à frente da porta, ele mexe no seu coldre da arma, e dá dois passos, cruzando seus braços pretos.— Você está parecendo uma criança mimada — sua voz soa, e seus olhos me examinam. — Sabe qual é seu próximo passo daqui? Ir depor dentro da porra da delegacia, tem noção a humilhação que você me traz?
Respiro fundo.
— As enfermeiras ficaram assustadas quando descobriram que a Júlia já havia sido interrogada por um dos agentes, e logo em seguida entrou outra agente, você.
— E acharam algo, ou vão dizer que ela se suicidou? Que eu falei algo que afetasse a cabeça dela? — meu tom de voz aumenta. — Júlia estava bem! Mas sabe qual a real? Vão deixar o caso mofando assim como o da Hilary, a alemã encontrada morta atrás da porra de um cemitério — refiro-me à minha mãe.
Suas veias saltam no seu pescoço pelo ódio formando-se dentro do seu corpo. Não só ele, mas o meu corpo esquenta por inteiro, dos pés à cabeça. Lembranças surgem sob nossas visões quando nos encaramos.
Minha nuca soa pelo nervosismo.No entanto, ele continua parado, paralisado com minha voz pelas lembranças rasas da minha mãe. Eu o encaro, raivosa.
Ainda estou com a mesma roupa durante todo o meu dia. A fome me deixa fraca, pois o prato de comida ficou dentro do microondas desligado.— Entra dentro da viatura — sua voz é fria. — Vamos ir para a delegacia agora, neste exato momento. Você irá depor, irá falar tudo o que fez e falou, falar o motivo que estava lá. Alimentar essa sua loucura na cabeça que quer descobrir casos — ele aponta pra mim. Sua expressão emite raiva. — Torça para não ser uma suspeita de ter colocado algo na cabeça da vítima, o que levou a um suicídio.
— O que está falando? Você acha realmente que eu iria brincar com algo assim, ou melhor, você acha que eu teria uma audácia assim? — interrogo.
— Você está atuando com o trabalho em casos de família, crianças sumidas e trabalhos em empresas. Não em um caso como o da boate que pegou fogo. Está usando a porra do seu oficial para entrar em um hospital onde a filha do agente Adão estava, que inclusive, foi encontrada morta essa noite.
— Você só pode estar de brincadeira.
— Quem está é você, Hadassa. Você está brincando de casos criminais, enquanto pessoas morrem.
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Páginas Obscuras- Degustação
RomanceFrancês foi criado em um convívio onde não poderia ter ou expressar um espaço para dor ou medo. Filho de um cara obscuro, ainda novo, Francês foi treinado para ser um assassino, a convivência ao ser filho de um homem tão impiedoso causava transtorno...