“Tecnicamente, psicopatas não são legalmente insanos. Eles sabem a diferença entre o certo e o errado. São pessoas racionais, muitas vezes altamente inteligentes. Alguns conseguem ser bastante charmosos. Na verdade, o que mais assusta neles é o fato de parecerem tão normais.”
Harold SchechterHadassa
São quatro horas da manhã, e faz vinte minutos que meu pai chegou ao local, eu estou em pé do lado de fora da ambulância para confortar o choque da Soraia, enquanto ela está sentada na dentro da ambulância com outras pessoas, respirando com a ajuda de um oxigênio.
Meu pai mantém-se dentro do carro a uma certa distância. Eu sei que ele está aqui por causa do meu celular na bolsa da Soraia que havia tocado horas depois dos corpos de bombeiros e viaturas chegarem. Mas ele não fez o trabalho de descer do carro e vim aqui, e o tom de voz dele no telefone não foi a melhor demonstração de preocupação.
A revolta do meu pai é algo que vem há dois anos. Normalmente, se fosse meu pai de dois anos atrás, estaria aqui como todos familiares dos jovens, abraçando e clamando pela vida da filha mesmo que tenha sido uma noite de festa.
Para meu pai eu não sou nada além de uma filha rebelde. Seus sentimentos foram moldados dessa maneira nos últimos tempos.Volto a raciocinar quando ouço a voz da mãe da Soraia assim que o carro branco freia em uma longa distância. O barulho razoável dos pneus derrapando no chão ultrapassa minha audição.
— Filha! — a voz da Zaya soa alta pela rua em meio às gritarias de desespero das pessoas.
— É a minha mãe. — Soraia tira o aparelho do oxigênio. Certamente comovida em ver sua mãe.
A moça de pele branca envolta de uma uma calça e blusa social desce do carro, suas sandálias fazem barulho contra o chão enquanto caminha na nossa direção em passos rápidos. Tão rápido ao ponto de desmanchar seu cabelo cacheado e preto preso em um coque. Ela se aproxima da Soraia, entrando dentro da ambulância. Em forma de preocupação, os braços passam em volta do ombro da minha amiga, sem levantar do banco da ambulância, Soraia corresponde ao abraço materno.
Meus ouvidos ofuscam um barulho deprimente, sinto meu estômago revirar.— Mãe, eu vi gente morrendo. — chora baixo contra a barriga da sua mãe, que abaixa o rosto, beijando o topo da cabeça da filha.
— Você está viva.
— Deus queria eu viva. Mas para isso, outras pessoas morreram.
— Eu vou cuidar de você, filha. Vai ficar tudo bem.
Respiro fundo.
Em silêncio, como se minha presença fosse invisível, eu aperto meu celular em minhas mãos, e em passos lentos saio em direção a rua cheia.
O cheiro da fumaça paira sobre o ar.
Cheiro de morte, de desgraça.Eu vejo pessoas sem vida nos braços dos amigos. Pessoas com a pele do corpo despedaçada pelo fogo. Uma minúscula porta para muitas pessoas não foi o suficiente. Vários estavam naquele local para descontar a fúria da vida que leva, sentir-se em uma altura relevante que a bebida e droga proporciona. Para no fim, ver a luz das trevas, da intoxicação da fumaça e do fogo.
Eu fiquei em estado de alerta com todo acontecido, eu só queria esquecer mais uma das brigas com meu pai.
Protejo meus braços ao virar a rua, meus passos nesse momento são automáticos pela calçada com meus saltos altos.
A essa altura do horário, moradores encontram-se na rua pela notícia que divulga rapidamente, porém essa rua onde meu pai avisou que estaria, está vazia de pessoas.Estudo com meu olhar estreitos pelo cansaço se encontro algum carro na cor vermelha, um Hyundai Tucson parado na rua. Não encontro-o, então, sinto uma mão firme segurar meu braço. A força do contato da mão gélida toca minha pele quente. Assustada, tento me afastar de imediato. Paraliso, meus olhos caem sobre o homem alto, pele escura e seu corpo em uma camisa social. É meu pai.
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Páginas Obscuras- Degustação
RomantizmFrancês foi criado em um convívio onde não poderia ter ou expressar um espaço para dor ou medo. Filho de um cara obscuro, ainda novo, Francês foi treinado para ser um assassino, a convivência ao ser filho de um homem tão impiedoso causava transtorno...