Começou como mais um dia para entrar na minha lista de rotinas sem graça. Nos últimos dias, o governo havia mandado caixas de comidas enlatadas para toda a cidade, mas eu não estava com fome então fui dormir sem jantar.
Porém, nessa manhã minha mãe acordou passando mal e com um pouco de febre. Dei alguns remédios para ela e fui para a escola. Na hora do intervalo, eu, Anne, Phelipe, Naty e Luke fomos para a cantina ver o que tinha de comer, porém era aquela comida enlatada do governo.
Mas por algum motivo somente o cheiro daquela comida estava me enjoando, então eu saí da cantina, fazendo com que meus amigos saíssem junto comigo, então ficamos sem o almoço da escola.
Quando o horário das aulas acabou eu voltei para a casa, entretanto, assim que cheguei em casa me deparei com toda a minha família passando mal, inclusive os meus cachorros. Mas como eles já haviam tomado o remédio que eu recomendei para a minha mãe mais cedo, eu apenas entrei no meu quarto e fui dormir.
Porém em média de umas 18:00 da tarde, eu acordei com o meu cachorro latindo alto na minha janela. Pensei que provavelmente ele estava querendo minha atenção como sempre fez. Mas assim que estendi a mão para fazer carinho em sua cabeça, ele tentou me morder. Mas ele nunca havia nem se quer tentado me morder.
Em choque, olhei para ele e fiquei paralisado no mesmo momento. Meu cachorro estava com um semelhante selvagem, espumando pela boca, rosnando de forma agressiva, o que o impedia de me alcançar era as grades da minha janela. Mas o que mais me assustava eram seus olhos, estavam vermelhos como se estivesse com conjuntivite, porém sem as íris e pupilas. Eram brancos e sem vida, como se só seguisse seus instintos primitivos, ir atrás de comida.
Comecei a chorar incontrolávelmente, mas assim que eu voltei a pensar direito, saí correndo para conversar com a minha mãe e explicar o que estava acontecendo. Mas assim que eu entro na sala de estar, preferiria nunca ter saído do meu quarto, tanto quanto minha mãe, meu pai e meus irmãos estavam se contorcendo e se estribuchando no chão, eu corri para socorrer a minha mãe, e a última coisa que eu me lembro antes de todos pararem de se mexer, era das lágrimas da minha mãe escorrendo pelo seu rosto enquanto tentava pronunciar o meu nome.
As únicas coisas que podiam ser ouvidas na minha naquele momento era os meus gritos de tristeza e desespero junto aos latidos dos meus cachorros do lado de fora. Rapidamente começo a ouvir leves batidas na porta com um o choro da minha cachorra. Depois de tanto pensar eu abri a porta, analisando, percebi que a minha cachorra estava normal. Com lágrimas no rosto eu a abracei enquanto ela me lambia. Porém assim que a pego no colo, sinto uma mão segurando o meu calcanhar, assim que eu olho para baixo, me deparo com meu irmão Rafael tentando me puxar para baixo. Ao reparar em seu rosto, percebi que ele estava agindo da mesma forma que o meu cachorro anteriormente. Assim que ele tenta me morder, eu não tive outra opção a não ser voltar para o meu quarto com a minha cachorra.
No meio do caminho, encontro minha família tentando se levantar e avançar em mim. Não tinha mais nada a fazer a não ser chorar. Se passam algumas horas e eu lembro que deixei a porta da cozinha aberta, fazendo com que minha família vá para o lado de fora da casa. Aproveitei essa oportunidade para fechar a porta com eles para o lado de fora.
Eu não podia ficar parado, tinha que dar um jeito de sair dali de alguma forma. Peguei minha bolsa e comecei a enchê-la com itens da minha dispensa. O problema seria sair de lá com a minha cachorra. Vasculhando pela casa, encontrei um kit de primeiros socorros, armas para defesa pessoal e a caixa de ferramentas do meu pai. Dentro dela achei um velho facão, um pequeno Machado e um amolador.
Guardei tudo dentro da mochila com exceção do machado. Comecei a machadar o forro do meu quarto para poder sair e escapar pelo teto. Amarrei a minha cachorra nas minhas costas e comecei a subir. Me doía tanto ver meu outro cachorro e minha família daquela forma, mas sabia que não poderia fazer nada por eles. Após conseguir pular o muro, comecei a correr em direção a primeira loja de ferramentas que encontrei, porém o lugar parecia perfeitamente normal naquele local. Tão normal que comecei a me perguntar se seria somente em minha casa que aquilo havia acontecido. Mesmo assim, pedi para o vendedor ir ao estoque pegar um soco inglês específico para mim, assim que ele saiu da minha vista, pego a catana que estava na prateleira e saio correndo. Até perceber que eu não tinha algum lugar como abrigo, então voltei para casa. Por sorte, consegui subir no muro e voltar para dentro de casa, mas não sem perceber que em alguns dos meus vizinhos, eles estavam batendo em seus portões com agressividade assim como a minha família, porém alguns deles estavam com sangue na boca, isso me causou tanto desespero e agonia que quase me fez cair.
Ao entrar comecei a ligar para as pessoas que eu estava torcendo que estivessem vivas. Porém, ninguém atendia minhas ligações ou retornava minhas mensagens. Estava perigoso de mais ir lá fora para simplesmente ir de casa em casa. Não sabia quem estava daquele jeito ou não. Se passou alguns dias, e eu aproveitei aquelas noites para dormir e pesquisar formas de sobrevivência enquanto ainda existia Internet, até ser interrompido com meu cachorro começando a arrancar as grades da minha janela enquanto minha família estavam conseguindo abrir buracos nas portas de ferro para entrar. Aparentemente estavam finalmente sentindo o meu cheiro, e aquela espécie de contaminação estava dando a eles mais força e melhorando as suas habilidades. Porém, isso lhes trazia uma fraqueza, assim eles entraram dentro de casa novamente, mesmo sentindo o meu cheiro no ambiente, pareciam não me enxergar, mas não podia fazer barulho, pois a cada ruído que eles ouviam eles começavam a correr na direção do barulho.
Mas não demorou muito para a minha cachorra começar a latir e atrair a atenção da minha família para mim, aquele era meu fim, não havia mais o que eu fazer, porém, minha família é atraída para fora da minha casa com uma sirene e barulho de tiros. A sirene cessou e os disparos pararam. O que havia acontecido? Os disparos foram para a minha família? Foi o que eu pensei, até começar a ouvir os gemidos dos meus irmãos. Comecei a gritar até eles começarem a me ouvir, atrai eles para um dos quartos e os tranquei, para que assim ninguém aos machucassem.
Ao saí para rua, parecia a cena de filme de terror, corpos de civis baleados, membros arrancados, corpos de policiais destroçados, e no final da rua uma pequena horda daqueles infectados por essa doença esquisita.
Subi em um dos muros e fui pulando de telhado em telhado para chegar na casa do meu amigo Luke, que por sorte era o mais próximo de mim. Porém ao chegar lá, vejo sua mãe que também foi transformada e com sangue na boca, gritei pelo meu amigo, na esperança de encontrá-lo de qualquer modo. Porém, não ouvi nada além do choro de seu irmão mais novo, entrei em desespero ao ver que assim que ela ouviu o choro de seu filho, correu para atacá-lo, fiquei imóvel apenas ouvindo os gritos da criança sendo silenciados com o som de ossos e carne rasgando. Senti tanta raiva ao ver aquele ser acabar com a vida de uma criança tão pequena, que não me segurei em pegar minha catana e vingar meu amigo e seu irmão. Assim que sai daquela casa, finalmente me dei conta do que aqueles policiais, aquela sirene e aqueles disparos estavam fazendo aqui. Ao ver marcas grossas de penal no meio da rua. Eles vieram para salvar os civis que estavam vivos ainda.
Eu fui abandonado, tava sozinho. Era somente eu e minha cachorra. Correndo pelo meu bairro encontrei o dono de um mercadinho local, tentando desesperadamente abrir o cadeado do portão. Até ser atacado por uma horda de infectados, deixando suas chaves cair e ser desmembrado por aqueles monstros.
Sem muita escolha, peguei a chave e fui correndo para a casa da Anne, eu precisava ver como ela estava. Ao chegar lá, a sua casa estava quieta, até eu entrar e quase ser atacado pelos seus cachorros que também foram infectados. Tranquei eles no porão para que não me machucassem mais, até olhar para a janela e encontrar Anne encolhida e tremendo em sua cama.
Começo a chama, porém ela não confia em mim para abrir a porta, ela estava atormentada pelo medo e parecia ser a última que estava em sua casa. Mesmo assim, peguei alguns mantimentos de sua dispensa e a passei pela janela, para que ela tenha o que comer até eu voltar, eu prometi que não a deixaria para trás, isso fez com que ela pegasse minha mão. Assim que sai da casa da Anne fui correndo para casa de Phelipe, a casa dele estava toda ensanguentada, parecia uma zona de guerra. Não sabia o que era pior, achar que ele estava contaminado ou se havia partido de vez.
Na mesma hora me lembrei da Naty, a namorada do Phelipe. Eu precisava saber se ela estava bem, mesmo sendo um pouco longe de onde eu estava.
Ao chegar lá, vejo sua família arranhando a porta para entrar na casa novamente, me dando esperança de ela estar viva. Usei o mesmo método de de entrar pelo teto, para encontrar a Naty machucada, chorando no canto do quarto. Assim que eu entrei e alertei que eu estava ali, ela me abraçou e despencou de tanto chorar. Dava pra ver o desespero no seu rosto, perguntei a ela se os machucados que ela tinha foram feitos pela sua família. Mas pela nossa sorte foi tentando se esconder. Usei o meu kit de primeiro socorros para cuidar dos seus ferimentos, assim que vi que ela conseguia andar, ajudei ela a sair pelo buraco do teto, a protegendo até chegar novamente na casa da Anne. Ao chegarmos lá, entramos dentro da casa e abri a porta do quarto de Anne. Eu não aguentava segurar as lágrimas de tão aliviado que eu estava de encontrar pelo menos as duas bem. Barricamos as entradas para afastar os infectados, enquanto usávamos a casa da Anne como abrigo.
Usamos a terra de uma pequena horta que o avô de Anne para plantar alguns suprimentos caso os nossos acabassem. Eu saia de vez enquanto para procurar mais comida, armas, remédios em farmácias, rotas de fugas, sobreviventes, e informações sobre os infectados.
Uma vez sai pela manhã para vasculhar o perímetro, até encontrar a biblioteca central, onde eu poderia achar informações. Encontrei dois livros de sobrevivência,de como usar e criar armas, um de caça, um de armadilhas e um mapa geral da cidade. Voltando para o abrigo, encontrei uma carro grande e forte, com a chave na ignição. Sabia bem pouco como dirigir, então apenas peguei a chave e voltei para as meninas. Começamos a planejar como sair de lá, eu seguir sempre fugindo do assunto do Luke ou do Phelipe. Fomos buscar o carro bem devagar, pois pelo menos Anne sabia dirigir. Pegamos tudo que tínhamos para pegar, colocamos no carro e antes de sairmos da cidade voltamos para meu bairro. Fomos para o mercado que eu tinha a chave para pegar tudo que deu e enchemos o carro.
Mas quando estávamos saindo, Naty disse para irmos atrás de Phelipe. Nessa hora eu comecei a chorar e expliquei para elas que eu não achei ele.
Naty chorou praticante a viagem toda até ela cair no sono ao lado da minha cachorra. Assim que saímos da cidade, nos adentramos na mata e escondemos o carro. Usamos os livros, as ferramentas e recursos para construir um abrigo no alto, algumas armadilhas em volta, cavamos até acharmos uma fonte de água para bebermos e fazermos outra horta, e aprendemos a fazer armas e lutar com elas, para nos proteger e caçar.
Nós até que estávamos ir bem, iríamos ficar por ali por mais um tempo até conseguirmos avançar para um lugar melhor.
Já perdi minha família, meu cachorro, meus amigos e tudo que eu tinha. Irei proteger minha cachorra e as meninas com a minha data ou vou morrer tentando.Continua...
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Zona De Quarentena
HorrorEm meio a um ataque zumbi jovens tentam se adaptar ao novo mundo. Em meio a tantas mortes, ataques, transformações e constantes mudanças, tentam proteger um ao outro ao máximo.