Episódio 1.1

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Quantas vezes teriam que repetir aqueles cartões até aquela garota entender? Gabriela revirou os olhos quando Sarah errou a resposta pela quarta ou quinta vez. Se tinham uma vantagem, como ela disse, então por que todos tinham que decorar aqueles autores?

Nunca fez sentido para Gabi o fascínio que as pessoas tinham por livros velhos como Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro ou qualquer outra história de Machado de Assis. Mas ainda assim, até ela saberia diferenciar um texto de Guimarães Rosa e Clarice Lispector, não era para ser tão difícil. Embora Sarah fizesse parecer impossível.

Desse jeito, eles perderiam para os estrelas outra vez... e com razão, independente se ela tinha uma carta na manga ou não.

De repente, a porta se abriu num baque e Navarro enfiou a cabeçona para dentro com aquele sorriso irritante e cheio de si.

— O que querem aqui? — André pousou as mãos no quadril, sem muita paciência.

— Que bonito, todos vocês reunidos — Navarro riu junto com os dois patetas atrás dele — Mas estão esquecendo de uma coisa muito importante...

Aquele insuportável balançou uma pequena folha de papel diante deles e André a tomou facilmente.

— Isso é ridículo, não é nossa vez!

— Diga isso para a coordenadora — não era possível que o sorriso ficasse ainda mais presunçoso — E você conhece as regras... Tudo feito até às dezesseis.

André bufou, mas o trio terrível foi embora sem olhar para trás, deixando o eco das risadas preencher o corredor e uma enorme lista de afazeres nas mãos do representante de classe.

— Que droga! Logo agora? — Sarah se levantou num pulo, espalhando os cartões de perguntas e respostas sobre a mesa.

— E por que temos que fazer o que aquele imbecil diz? — Gabi cruzou os braços, respirando fundo para manter a serenidade no tom de voz.

— Por causa do passe da biblioteca... Essa é a única vantagem que temos hoje.

André percebeu que Gabriela abria e fechava a boca, como se quisesse dizer alguma coisa, mas sem saber o quê. Então, ele continuou.

— Temos passe livre na biblioteca, então nenhum estrela pode usar a sala se algum de nós estiver aqui. Nem se for para pegar um livro e ir embora.

— É óbvio que querem tirar isso da gente... Mas não podemos deixar! — Beatriz estava com os punhos cerrados.

— Eles não vão tirar! — André estufou o peito confiante — Se a gente se dividir, terminamos bem antes das quatro!

E assim Sarah e seus amigos se dirigiram ao andar de cima, um dos meninos liderou outro grupo para o quintal e André arrastou Gabi para a cozinha, deixando o restante dos pixotes para acompanhar a menina de cabelos ruivos, de quem Sarah não parava de se gabar.

Quem olhasse para o piso da cozinha, desconfiaria da urgência daquelas tarefas. O porcelanato quase branco parecia impecável, a louça estava lavada e não havia nem uma sujeirinha nas mesas do refeitório. Porém, à medida que André foi colocando as cadeiras para cima, a poeira foi aparecendo e se juntando pelos cantos em pequenas bolas felpudas.

— Atchim! — o representante de classe quase derrubou uma das cadeiras de cima da mesa e Gabi não conteve o riso.

A menina mordeu o lábio inferior, sem saber o que dizer, mas ele só acenou para que continuasse tirando as coisas do caminho enquanto ele tentava se recompor. No entanto, assim que Gabi começou a varrer aquele piso reluzente, uma nuvem de poeira se levantou, invadindo as narinas do pobre coitado. E, então, André não parou mais de espirrar.

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