Episódio 1

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 O caminho na estrada era tedioso e cansativo. Estavam há o quê? Quatro horas viajando, no mínimo, e o céu já estava clareando. Pequenas manchas rosadas se formavam no horizonte, às vezes escondidas pelas árvores e às vezes pelas montanhas verdes das fazendas. O que, de certa forma, era agradável.

Bruna continuou apoiada no vidro, com os cachos escuros se soltando do coque improvisado que fez antes de sair de casa, provavelmente, a presilha que escolheu não aguentaria até o final da viagem. "Que ótimo", pensou, observando o próprio reflexo na janela e ouvindo a voz de sua mãe em seus pensamentos.

Luís, o motorista, a olhou pelo retrovisor, talvez imaginando o mesmo que ela, porém se limitou a ajustar o ar-condicionado em silêncio. A culpa não era dela, já que não foi avisada da viagem até o rapaz estar parado em frente ao apartamento no meio da noite.

De repente, seu celular vibrou no bolso da jaqueta. Era mais uma mensagem de seus pais perguntando se já havia chegado, como se ela soubesse dizer. Então, Bruna revirou os olhos e deixou o celular no mudo.

Ainda tentou espiar o GPS do motorista, mas não dava para ver quanto tempo faltava até aquele lugar. Sem opção, a menina virou de lado, jogando as pernas sobre o banco de couro, e mais uma vez o rapaz atrás do volante observou pelo espelho em silêncio. Talvez não tivesse importância, afinal o carro era dela, não era? Mas a imagem do carro freando bruscamente e a arremessando na estrada veio à tona. Ela respirou fundo duas vezes, tentando não ficar inquieta no banco de trás, até que acabou ajeitando a postura virada para frente, bem presa ao cinto de segurança, como deve ser. Luís olhou novamente pelo espelho e Bruna teve a impressão de vê-lo relaxar os ombros.

O sol já estava alto no céu quando o carro parou e a menina acordou com o motorista falando com um homem na guarita, que indicou o caminho com má vontade

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O sol já estava alto no céu quando o carro parou e a menina acordou com o motorista falando com um homem na guarita, que indicou o caminho com má vontade. Ela deu de ombros e virou-se para a janela outra vez. Dava para ver seus cachos se desfazendo pelo vidro, além do extenso gramado do lado de fora. Era como um gigantesco campo de golfe, com a grama verde e bem aparada.

A primeira vez que passou por aquele lugar foi exatamente daquele jeito. Se lembrava de ficar olhando o horizonte enquanto seu pai lia o panfleto do colégio, animado com a pista de corrida e a área de ginástica. Ela nem chegou a ver essas coisas, já que acabou em uma sala cheia de alunos para fazer a prova. Todos mantinham as cabeças baixas, encarando páginas de livros, resumos e anotações, como se suas vidas dependessem daquilo.

Ela se lembrava de como o medo a atingiu naquele dia, não tinha se preparado para a prova e nem sequer sabia que teria que fazê-la. Apenas entrou no carro conforme sua mãe mandou.

"É só mais uma competição", ela repetia para si mesma, tentando acalmar os nervos antes de se sentar na primeira fileira. Preferia assim, longe de distrações, somente ela e o som ritmado do relógio. E no instante em que o livro de questões foi entregue, Bruna já estava focada.

Ela leu uma atrás da outra, marcando o gabarito sem hesitar, e obrigando os alunos do lado a tentar acompanhar sua velocidade. Mas era impossível acertar qualquer uma das alternativas com aquele ritmo.

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