Episódio 1.2

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A vitória é uma conquista para poucos, para pessoas assim como ele: inteligentes, íntegras e que se destacam em meio aos simplórios. Por isso, Navarro havia sido escolhido para descobrir a tal arma secreta dos pixotes.

— É claro que eles vão achar um jeito de trapacear! — Matheus estava deitado na cama, arremessando a bolinha anti-stress várias vezes.

— Mesmo se conseguissem colar... Não teriam como ser mais rápidos que a Fernanda — Pedro deu de ombros, como sempre, sem tirar os olhos daquele livro estropiado que lia tanto.

Os dois não paravam de tagarelar desde que ficaram sabendo do complô dos pixotes, deixando a imaginação correr solta por todo trajeto de volta para o quarto. Mas não importava o que fosse, eles descobririam e acabariam com essa tal arma secreta de qualquer jeito.

Fernanda era imbatível, sem dúvidas, afinal era para isso que servia aquela "Sininho da vinte e cinco de março". Se não fosse isso, eles já teriam se livrado dela há muito tempo. O que queria dizer que eles não pagariam para ver o seu fracasso, não se eles pudessem impedir.

Então, Navarro vestiu a blusa preta de sua marca favorita, ajeitou o relógio com pulseira de couro que ganhou no Natal e encarou os dois patetas que ainda estavam discutindo. Matheus havia chamado a atenção de Pedro o suficiente para ele largar o livro sobre o colchão sem marcar a página.

— Seguinte — Navarro colocou o escapulário que usava diariamente — Isso aqui vai distrair eles o suficiente pra gente descobrir o que estão escondendo...

Ele ergueu o papel dobrado na altura da cabeça, era a lista de afazeres da semana que, a pedido do presidente da turma, virou um bilhete único com acesso exclusivo à biblioteca. Tudo o que eles tinham que fazer era garantir que os pixotes não terminassem as tarefas a tempo.

— E como você pretende fazer isso? — Pedro recostou na cabeceira com as sobrancelhas erguidas. Navarro odiava aquele tom.

— Vamos ter que dar um jeito! — disse entre dentes.

— Não deve ser tão difícil — Matheus parou para analisar a bolinha de borracha, como se procurasse por algum defeito — Só atrapalhar eles...

— Eles não são imbecis, Matheus — Pedro revirou os olhos.

— Você acha?

— Não é uma má ideia — Navarro deu um passo para frente e Pedro bufou — Vamos, não temos o dia inteiro!

Ele foi na frente com o peito estufado, sentindo o escapulário roçar no peito a cada virada e ouvindo nada além do som dos seus passos e dos ares-condicionados. Então, o rapaz abriu a porta violentamente, deixando a maçaneta se chocar contra a parede da biblioteca, e todos os olhares se voltaram para ele como tiros de canhão. Seus lábios naturalmente se curvaram para cima ao ver o desprezo dos pixotes.

— O que querem aqui? — Andrézinho colocou as mãos nos quadris e tentou engrossar a voz.

Navarro sabia que se quisesse ainda poderia assustá-lo, mas, no fim, respondeu qualquer coisa, ouvindo o riso dos amigos atrás de si, e balançou a lista de tarefas na cara de André, que a arrancou de suas mãos rápido demais. De repente, os olhos dele se arregalaram e, em seguida, se estreitaram.

— Isso é ridículo! Não é nossa vez! — e ali estava a presa, caída na armadilha.

— Diga isso para a coordenadora — Navarro deu de ombros, com o sorriso cada vez mais largo. — E você conhece as regras, tudo pronto até às dezesseis...

Ele não segurou a risada que se formou no fundo do peito. Eles só precisavam esperar a biblioteca esvaziar para encontrar o segredo dos pixotes.

Matheus e Navarro foram direto para a mesa de sinuca, enquanto Pedro sentou com as pernas no sofá para ler aquele livro velho outra vez. Haviam acabado de dar a primeira tacada, quando um grupo de pixotes atravessou o corredor às pressas, seguindo direto para o andar de cima. De repente, um segundo grupo passou por eles tão apressados quanto para chegar ao quintal.

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