- Parabéns pra você, nessa data querida...
1... 2... 3...
Quando eu chegar à 10, ele vai aparecer.
7... 8... 9...
- Dez! - exclamei baixo, sorrindo para as pessoas em minha frente, esperando.
- Apague as velas, Mariana.
Olhei para minha mãe, atordoada. Haviam parado de cantar e me olhavam com o sorriso morrendo nos lábios, sem entender meu estado de paralisia nostálgica.
- As velas, Mariana... - ela insistiu lançando um olhar para as pessoas e depois para mim, que tentei não deixar meu sorriso sumir.
- Claro... - apaguei todas as velas num só sopro, vendo as pessoas batendo palmas e voltando a rir e a gritar. Olhei para elas entre a fumaça que o fogo produziu, tentando, em vão, vê-lo entre os convidados. Ele havia ido embora, como me disse há mais de 10 anos.
Comprimi os lábios e saí de trás da mesa com pessoas querendo me abraçar e me parabenizar.
- Obrigada - eu sussurrava, querendo chegar à porta. Escapar de minha própria festa.
- Não vai cortar o bolo, Mari? - olhei para Luciana e apontei para minha mãe que já fazia isso por mim.
- Já volto.
O fim de tarde anunciava um céu estrelado e uma lua cheia. Nada mais romântico. Suspirei, olhando para o jardim vazio. Ele não viria. Nunca mais. Fechei os olhos, segurando o desejo de xingar o céu e culpá-lo pela minha irritação e profunda tristeza.
Mesmo sabendo que isso iria acontecer, não dava para segurar essa profusão de raiva e saudade.
Me sentei na balança do jardim e me balancei durante alguns instantes, tentando atingir o céu logo acima de mim. Se fosse possível... Se fosse possível, eu não pensaria duas vezes.
A balança ao meu lado se movimentou com o vento, que atingiu meus cabelos e meu rosto quente.
- Mariana...
Sua voz era como o vento: revigorante e suave. Não parei de me balançar para olhá-lo. Dei mais impulso.
- Mariana... me ouça.
- Já estou ouvindo. Se veio me dizer adeus, diga logo.
Ele ficou em silencio, sentado na balança ao lado da minha, olhando para o céu, como eu. Parei de balançar, sentido meus pés se arrastarem pela areia. Tirei o cabelo do rosto e me virei para ele.
- Vai embora, não vai?
- Sabe que sim. Vim porque me chamou. Esta será a ultima vez que nos vemos.
Engoli em seco e balancei a cabeça lentamente.
- Então pode ir embora, porque não te chamei - me levantei e tentei correr novamente para minha casa, onde todos me esperavam.
- Mariana... - sua voz soou ao meu ouvido e eu parei, me voltando para ele, que continuava sentado na balança de cabeça baixa.
- Não me chame mais, por favor... – pedi amargurada.
Ele ergueu o rosto em minha direção. Aquele rosto que era habitado por nenhuma expressão e que nunca mudou ao longo dos anos, mas que eu aprendi a adorar e que, finalmente, me vi perdidamente apaixonada.
- Eu não quero dizer adeus - ele disse baixo.
- Porque isso? Porque tem que me deixar? - me agachei na grama e tapei o rosto com as mãos. Apertei os olhos, sem chorar.