Breve História 7 | Flores

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     - Um buquê de rosas variadas, por favor... Hmm... Duas dúzias...

   A garota a minha frente me olhou surpresa e franziu o cenho. Depois sorriu, como se eu fosse um espécime único.

   Observei, com as mãos nos bolsos, a garota andar até a estufa e lá começar a pegar alguns botões de rosa, escolhendo, com cuidado, as rosas mais bonitas... Rosas...

   Sorri e comecei a andar pela pequena floricultura, observando as flores que faziam a loja ter um cheiro doce e agradável. Aquele cheiro que você se vicia sem perceber, e que te enche de lembranças...

   Eu lembro que a primeira vez que a vi, seus cabelos ruivos estavam soltos contra o vento e cheiravam a uma mistura fantástica de flores.

   Ela andava ao meu encontro, despreocupada, com uma bolsa nas costas e um caderno nas mãos.

   Não pude desgrudar meus olhos daquela visão que pareceu aquecer meu coração e me fez esquecer todo o restante do mundo - Mais tarde eu soube que aquilo que eu sentia, se chamava amor à primeira vista.

   - Algum problema, cara? – um amigo meu perguntou me empurrado; eu sorri.

   - Não... – balancei a cabeça, mas não desgrudei os olhos da garota que continuava andando, sem perceber que eu a observava fascinado.

   - Vamos mais rápido então. Estamos atrasados.

   Quando ela passou por mim, pude ver seus olhos azuis e os lábios tão vermelhos que lembravam morango, mas acima disso tudo; da beleza e da simplicidade de sua figura, pude sentir o cheio que o vento deixou de seus cabelos. Um cheiro que eu nunca mais esqueceria. Cheiro de flores.

   Eu não sabia ao certo há quanto tempo aquela garota morava na mesma rua que a minha, nem mesmo sabia se era a primeira vez que eu a via. Eu sabia apenas que precisava conhecê-la.

   Depois daquela manhã, eu não a vi durante uma semana inteira.

   Eu plantava guarda em meu portão para saber onde ela morava. Mas ela não aparecia...

   Eu esperava toda manhã ela aparecer novamente, com os cabelos ao vento, mas era sempre em vão...

   No quarto dia eu pensei que iria ficar louco, por isso resolvi não parecer idiota e parar de tentar revê-la. Era melhor esquecer.

   Dois meses depois, minha vida estava novamente no caminho que devia andar, mas é engraçado que, quanto mais você procura equilíbrio, mais sua balança parece pesar para apenas um lado.

   Lembro de estar andando pelas calçadas do centro da cidade e parar em frente a vitrine de uma pequena floricultura. Observei as diversas flores que desabrochavam em diversas cores, através do vidro e sorri. Aquelas flores me fizeram lembrar vagamente do cheiro floral do cabelo de fogo daquela garota que nunca mais vi.

   A loja estava movimentada, constatei olhando além do vidro transparente, e entrar nunca passaria pela minha cabeça, se aquilo não me fosse tão nostálgico. Talvez aquela floricultura fosse o mais próximo que eu poderia chegar da garota que me fascinou sem ao menos saber.

   Quando abri a porta, uma campainha tocou e eu senti meu coração se apertar, reconhecendo, lá no fundo, aquele cheiro que ficou marcado em mim. Olhei para os lados, achando que fosse ver o que eu tanto esperava ver, mas não vi. Uma mulher olhou em minha direção e logo desviou o olhar. Ninguém veio me atender. Era estranho ser o único homem em meio a sete ou oito mulheres.

   Andei por entre as flores, observando as cores, os formatos e cheirando algumas. Algumas eram altas, tapando a visão, outras eram pequenas e delicadas. Passei os dedos pela pétala de uma flor que eu nunca havia visto e me voltei para observar a fileira de rosas que eram postas sobre uma mesa de madeira. Os caules eram altos, com algumas folhas.   Os botões eram vermelhos, brancos, rosas... Variadas cores. Percorri lentamente o balcão das rosas, impressionado, e jurei que algum dia eu compraria rosas para alguém.

   Estiquei o braço para pegar a única rosa que estava com o botão aberto em meio as outras, mas também senti que uma mão cobria a minha acidentalmente.

 Ergui o rosto para pedir desculpas, mas me deparei com um par de olhos azuis. Os lábios cor morango estavam entre abertos e os cabelos fogo, estavam presos.

   Ela parecia mais surpresa do que eu, e seus olhos azuis como o céu brilhavam tão intensamente que meu coração entrou em disparo em apenas vê-los.

   - Desculpe – ela murmurou tímida, afastando sua mão que cobria a minha, que segurava a rosa.

   Eu pude sentir que sorria. Lá estava ela novamente, como eu, há dois meses, sonhava encontrar...

   Ergui a rosa para cheirar e percebi que aquele era o cheiro que me perseguia há semanas. O cheiro do cabelo cor fogo da garota a minha frente. Cheiro de rosa.

   - É sua – com um gesto calculado entreguei a rosa para ela, que recebeu, envergonhada.

   - Obrigada – ela sorriu.

   Meu coração voltou a se aquecer vendo aquele sorriso. Em seguida, ela me deu as costas e foi para trás do balcão que separava a loja da estufa. Percebi que ela trabalhava ali. Nada mais natural...

   - Espero que sua namorada goste das rosas...

   Ouvir aquele comentário me fez rir.

   Três anos depois e ela ainda se integrava perfeitamente àquele lugar.

   Me voltei para o balcão e tirei a carteira do bolso, sem desviar os olhos dos cabelos ruivos que caiam sobre os olhos azuis e dos lábios que ela segurava suavemente com os dentes, me provocando.

   - Ela é fascinada por rosas – respondi ainda sorrindo.

   - Dizem que um buquê de rosas variadas expressa várias emoções...

   Ao terminar de fazer a decoração do buquê, ela me entregou e sorriu.

   - Boa noite... Feliz dia dos namorados...

   Acenei com a cabeça e a fitei intensamente antes de sair da loja e esperar por poucos segundos do lado de fora.

   Logo a porta da loja se abriu e eu abri os braços para sentir o corpo delicado se jogar de encontro ao meu.

   A beijei lentamente, mas com paixão e me afastei, sorrindo.

   - Te amo – sussurrei entregando buquê.

   Ela me observou por instantes e sorriu.

   - Eu também te amo.

   Voltei a abraçá-la, sentindo o perfume de seus cabelos... Aquele cheiro que te vicia e que você nunca esquece: cheiro de flores.

--------------------- FIM.

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