31 - Remorse Becomes Rage

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Debruçado sob o antigo painel de controle da Arca, Marcus Kane escutava os murmúrios do Conselho Arkadiano enquanto olhava para a foto que segurava em mãos. Estreitando-se, suspirou fundo e a dobrou-a cuidadosamente enquanto aproximou-se do resto do grupo. Quando todos o olharam com rostos fechados e demonstraram o mesmo tipo de comoção ao se calarem, o homem entendeu o que eles faziam. Ele sabia exatamente qual era o assunto que movia a todos ao seu redor, mas que parecia não poder ser discutido perto dele.

Marcus sempre fora um homem de poucas emoções no quesito aparências. Desde que sua esposa faleceu e ele puxou a alavanca que arrancaria sua vida, o homem prometeu não se deixar levar por mais nada na sua vida. Nunca. Lembrou-se de si mesmo, preocupou-se consigo mesmo enquanto a filha vivia presa. Pelo menos, ela estava a salvo.

Sem liberdade alguma, mas a salvo de todos os perigos iminentes da Arca. E agora, bem, ele não podia dizer o mesmo. Celeste já não estava mais ali para contar história, e nem sequer discutir o assunto principal da ocasião.

Marcus sentira que aquilo fora pior que ter que tomar conta de si mesmo. Agora, era como se ele não tivesse razão alguma, motivo algum para continuar. Era como se todos os caminhos em sua vida tivessem sido bloqueados, e nenhum deles o levaria de volta a sua filha.

— 49 dos nossos morreram por conta de um mecanismo de autodestruição interno do Monte Weather.

A voz de Charles Pike ressoou e cortou o silêncio estranho que formou-se quando Marcus se aproximou. Ele sempre fora assim: indiscreto, insensível e ia direto ao ponto. Mesmo quando a situação pedia o contrário.

Marcus não se obsteve. Ele sabia que Charles estava certo. O memorial das vítimas do incidente ocorrido no Monte Weather já havia passado, e ele não estava ali como um pai que perdeu a filha numa tragédia. Kane estava ali como um líder, um homem que faria justiça por aquilo que perdeu. Um homem que restauraria a paz, ou pelo menos tentaria fazer com que uma trégua voltasse a acontecer nas melhores das hipóteses.

Infelizmente, Pike enxergava aquilo de outra forma.

— Quando vamos retaliar? - Perguntou ele, e todos se entreolharam.

— Não vamos. - Respondeu Abby, para alegria de Marcus. — A Nação do Gelo tomou a ação e a Comandante Lexa vai puni-los.

— Vamos deixar que terrestres punam outros terrestres? Sinto muito, Sra. Chanceler, mas eu perdi mais de metade do meu povo ontem e quatro vezes isso desde que pousamos.

Marcus olhou para Pike, lembrando-se que ele também havia perdido sua filha mais velha Eudora. De certo modo, o jeito de lidar com a morte era diferente para ambos. Charles Pike não havia mencionado a filha uma vez desde o ocorrido, e não derramou lágrimas quando sua filha mais nova falou por ela no memorial.

Porém, era nítido que ele sentia raiva. Uma raiva ansiosa que se misturava com remorso e nadava como um tubarão com dentes afiados entre o cardume de peixes inocentes que eram os civis de Arkadia. Eudora Pike poderia ter sido considerada uma traidora pelo próprio pai por ter se juntado aos terrestres, ela podia ter trabalhado juntamente a Lexa e ajudado Azgeda, mas ela ainda era uma Skykru.

A Arca fazia parte de suas origens, e era isso que mais enfurecia Charles Pike. O fato de sua filha ter sido convencida por eles doía muito mais do que ela ter sido morta por eles. A morte era uma hipótese, era algo que todos sabiam que poderia acontecer a qualquer minuto na Terra.

Entretanto, alguém originário dos Skykru juntar-se aos terrestres era algo inesperado, algo que ninguém nunca imaginou que poderia acontecer. Marcus não conseguia nem pensar no que faria se sua filha se juntasse aos Trikru, e suspirou fundo ao entender que talvez sua morte significasse algo mais que apenas um acidente.

𝐖𝐀𝐑 𝐎𝐅 𝐇𝐄𝐀𝐑𝐓𝐒 | ʙᴇʟʟᴀᴍʏ ʙʟᴀᴋᴇ ³Onde histórias criam vida. Descubra agora