Na manhã seguinte o Alex chegaria, já que eu deixei meu número com ele, me ligou dizendo que estava chegando em minha cidade. Não fazia a mínima idéia de como eu reagiria, mas daria tudo certo. Ou, pelo menos, tentei me convencer disso.
Essa seria a primeira vez que o encontraria desde a viagem. Então ele me ligou, dizendo que precisava falar comigo, parecia meio desesperado com uma pitada de coragem, marcamos num café logo mais tarde, às dezessete horas ele passou lá na minha casa pra me buscar. Fui ao encontro, não sabia se estava fazendo a coisa certa. Mas tinha em mim uma vontade de reviver aqueles momentos únicos vividos por nós dois. Achei que ele me pediria em namoro... Eu não podia imaginar o que ele queria dizer, mas a saudade dele era maior que o meu medo... Enfim a ansiedade passou e chegou a hora de nos reencontramos. Ele me buscou em casa, eu não pensei duas vezes, corri ao seu encontro e dei um forte abraço, mas logo em seguida pude perceber uma lágrima a escorrer no seu rosto...
Quando ele me disse que estava voltando pra cidade e precisava conversar comigo, meu coração palpitou! Mas aí, ao o abraçar, ele segurou meus braços, mantendo distância do meu corpo evitando meu abraço. Então todas as minhas esperanças foram pro ralo, pois já imaginei que ele tinha outra ocupando um lugar, que um dia poderia ser meu. A princípio, senti ciúmes, tristeza, desconforto pelo lugar que na verdade era pra ser meu! Comecei a chorar, forçando um ligeiro abraço... Ele então me pediu que eu mantivesse o controle. Falando isso, abriu a porta do carro, e me conduziu para o banco do carona. Ele tinha um vesloster, lá dentro, eu chorei torrencialmente, pois a ansiedade me consumia, tremia ao ponto de não conseguir falar nenhuma palavra... E por mais que o café fosse perto, foi a viagem mais longa da minha vida. Ficamos em silêncio durante um tempo, pela minha cabeça começou a passar toda a história que a gente poderia viver e que eu tinha por um bom tempo idealizado, e ele estava prestes a jogar fora.
E nessas lembranças, eu focava naquele lance de adolescente, que passava como um flash na memória, mas pude reviver todo sentimento em um só momento. Reencontrei Alex, aquele com que tinha tido uma relação casual em um cruzeiro no verão europeu, sim, apenas uma relação casual, pois após aquela viagem não nos reencontramos mais, e a partir dai começava a elucidação de alguns problemas dessa rápida, mas tão marcante relação.
Apenas um café para espantar o frio e um pouco da ansiedade, encarar aquele encontro, apenas mais um dia na minha nova vida pacta monótona, mas não tinha noção que a minha vida estava para transforma-se em um turbilhão de emoções desenfreadas. Encontrar alguém que marcou a minha vida tão absurdamente, não só pela relação rápida do passado, mas principalmente pelas marcas deixadas e que ainda permaneciam no meu presente. Então, logo tive a sensação que a minha vida iria mudar, não sabia o que poderia me acontecer, mas sentia que muitas coisas iriam acontecer, sentia que o que me atormentava por muito tempo estaria perto de chegar ao fim. Bastava apenas coragem para solucionar tudo isso! Mas como contar para ele toda a situação? Era a primeira vez que o reencontrava após o cruzeiro. Queria primeiro quebrar o gelo do primeiro momento, queria que ele se sentisse a vontade comigo. Apesar de toda a minha tensão, tentei ser natural da melhor maneira possível, não queria que ele sentisse desconforto em mim. Começamos a conversar de uma maneira leve e descontraída, apesar de não se sentir assim, consegui manter o foco na conversa. E, de repente, ele disse que precisava me contar como contraiu o vírus, e começou a contar: - Foi uma noite muito fria, estava saindo da faculdade e com a saúde um pouco debilitada em estado febril, meus amigos resolveram me levar ao hospital, que por sinal nem o nome sabia já que era novo na cidade. A enfermeira disse que eu teria de tomar uma injeção para minimizar a febre, e por inofensiva que pareça, liguei isso ao fato de eu estar com HIV já que nuca havia tido nem uma relação sexual então desconfiei que aquela injeção estivesse infectada. Naquela noite não foi somente eu que contrai o vírus através da seringa contaminada. E ainda continua contaminando pessoas inocentes. Mas tudo isso é uma desconfiança... Certeza eu não tenho... Mas é a única explicação.