Capítulo VI - Vivendo não, existindo!

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Fui para a cozinha e enquanto preparava um sanduíche fiquei pensando em tudo que estava acontecendo, a minha vontade era de poder contar para os meus amigos toda a história, poder desabafar, mas meu maior medo era saber qual seriam suas reações. Então, o que fazer? Faço-me essa pergunta todos os dias e infelizmente não acho a resposta. Queria ter uma segunda chance, poder apagar algumas coisas, ou melhor, alguns acontecimentos da minha vida, ou então ter minha vida de volta, ser uma adolescente 'normal' de novo, sem investigações, sem segredos, sem um passado como o meu, sem essa terrível doença. Não apagaria jamais o Alex da minha vida, apagaria apenas os danos dessa rápida relação.
Vou para meu refúgio, ou seja, quarto! Chegando lá ouço uma música baixa, fico prestando atenção para ver se consigo descobrir de onde está vindo, já que meu quarto, não é o paraíso da organização. Demoro um pouco, mas percebo que o barulho está vindo de uma almofada, e lá está. Pego meu celular e meio com medo de ver quem é, fico rezando para que não seja nenhum dos meus amigos, afinal não estava com cabeça para idiotices. Quando ganho coragem e olho é o... Alex! Nesse momento o coração dá aquela acelerada e a voz parece não querer sair, atendo e com uma voz trêmula digo: - Oi!- Ele começa a falar com um tom de preocupação, então pergunto o motivo da preocupação, e ele diz que ficou assim depois do depoimento, pois percebeu que meu pai ficou surpreso ao saber em qual hospital eu havia ido. Achei super fofo da parte dele ligar para saber como está a situação aqui em casa. Eu poderia ter mentido e falar que estava tudo em perfeita ordem, mas não seria nada justo fazer isso com ele então resolvi falar a verdade, disse que meus pais estavam conversando seriamente durante um bom tempo. E ele diz que está se sentindo super culpado e para confortá-lo disse que ele apenas fez o correto, respondeu tudo que meu pai concordou e não omitiu nenhuma informação e que ajudaria muito. Parecia tudo havia ficado mais tranqüilo, do nada parece que havia mais uma pessoa na linha, mas, não, era apenas o silêncio novamente, no qual durou longos segundos. Pergunto o que ele estava fazendo antes de me ligar, e ele me disse que estava no jardim pensando em tudo o que estava acontecendo. No mesmo instante que ele me relatou isso, eu imaginei nós dois pensando juntos, de mãos dadas, sob o luar... Até que volto a realidade e vejo que isso estava longe de acontecer. Enfim, ficamos conversando um pouco sobre a investigação, e depois de um tempo, Alex fala a única coisa que eu não precisava ouvir naquele momento, que precisava desligar, pois tinha alguém o chamando, para não parecer desesperada por alguém também disse que precisava ir, mas, na verdade minha maior vontade era ficar ouvindo sua voz por toda a noite. Então, desligamos.
Minha rotina continuou a mesma por semanas e semanas, até que...
Numa madrugada, acordo com meu celular tocando, tento ignorá-lo para voltar a dormir, mas ele tocava insistentemente, atendi e era o Jude, desesperado dizendo que estava no hospital e que estava com medo... A partir daí ele parou de falar. Saio de casa desesperada e vou de táxi para o hospital próximo a casa do Jude (que não é o que minha mãe trabalha) chegando lá o encontro chorando dizendo que estava com o braço doendo, pois havia levado uma injeção e sem querer falei sobre os hospitais e das injeções. E parece que toda dor desapareceu e o Jude desabou em meus braços e pediu para que fizéssemos um teste para saber se ele estava com HIV, a equipe médica sem entender nada fez o teste e para a tristeza do Jude deu positivo. Saímos de lá e fomos para minha casa, já que ele não estava em condições de ficar sozinho, na minha casa tentei tranqüilizá-lo, mas sem dizer nada sobre meu caso e ele só parou de chorar quando caiu no sono. Dias depois ele já estava superando a novidade, quando algo inevitável aconteceu. Jude ficou resfriado depois de andar na chuva e como sua imunidade estava muito baixa, a gripe se tornou uma grave pneumonia e após vinte dias de internação nosso amado Jude nos deixou, a AIDS foi uma espécie de trampolim para a gripe. Lembranças positivas ficaram na memória e que nada será capaz de apagar. Sua última exigência foi que nós (Alex e eu) pegássemos o maníaco!
Meses se passaram e não houve mais nenhuma novidade do caso, meus dias ficaram ainda mais pesados sem nosso motivo de sorrir, o Jude. Alex e eu resolvemos liderar as investigações, procuramos pistas, fomos aos hospitais, encurralamos funcionários, e descobrimos que uma única pessoa estava indo aos hospitais com uma entrada, digamos, privilegiada e que estaria trocando não as seringas, mas sim aquele pequeno recipiente que continha as soluções para cada enfermidade. Mas como descobrir quem é essa pessoa? Um simples detalhe nos ajudou, pois quando fomos junto com meu pai para o hospital em que Jude recebeu a injeção encontrei no chão próximo as seringas um crachá de identificação do hospital em que minha mãe trabalhava, fomos diretamente para lá e minha mãe se colocou em disposição para ajudar-nos, mas não encontramos nada de interessante.

Depois daquela viagemOnde histórias criam vida. Descubra agora