Prólogo

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"Você não pode gerar um bebê, Sr. Park, nós sentimos muito."

Durante anos, essa frase ecoou em minha cabeça como um filme em loop infinito, me sufocando, me dilacerando, me deixando em um estado caótico de tristeza. Eu fiquei deprimido ao extremo, me sentindo um inútil por ser incapaz de realizar o meu maior sonho.

Eu tinha apenas dezessete anos quando descobri isso, no entanto, quando perdi a virgindade em meio a um cio e o alfa que esteve comigo, sóbrio ao contrário de mim, não se importou com proteção. Eu fui ao médico, querendo saber se tinha alguma chance de eu estar esperando um bebê, por preocupação minha e de meus pais, mas não, não estava. E ainda saí com a notícia de que jamais estaria.

Levei anos para superar essa informação e entender que eu queria ser pai, mas que isso não necessariamente significava que precisava nascer de mim. Adoção existe para isso, afinal.

Meus dois relacionamentos terminaram quando a ficha caiu para eles de que esse era o único método caso quisessem um filho comigo, e ambos me magoaram ao confirmar que minha existência era inútil. A sociedade babaca insiste que nós ômegas apenas nascemos para a procriação. Se eu não tivesse aprendido a ser forte com a minha dor, eu teria desabado por ouvir isso de dois alfas que eu verdadeiramente amei.

Mas o universo é surpreendente ao extremo. Meu último relacionamento se findou há apenas três meses e eu não tive a menor vontade de estar com outra pessoa desde então, mas me coloquei a pesquisar mais sobre adoção e orfanatos que eu poderia visitar. Então, para mim, é um choque quando ouço batidas leves na porta tão cedo de uma manhã de inverno.

Abrigado com roupas grossas, eu abro a superfície de madeira e sinto meus fios azuis esvoaçarem com o vento gélido. Não há ninguém em meu campo de visão, exceto quando miro o chão e me deparo com uma cesta cheia de cobertas e um cheirinho agradável de bebês.

Quando me abaixo e percebo o cheirinho leve de cereja contido junto, meu interior se agita por constatar que de fato há um bebê. Ao mexer nas cobertinhas, eu noto dois olhinhos arregalados e mãozinhas minúsculas protegidas por pequenas luvas agarradas em uma das mantinhas.

- Céus, isso não pode ser real. - Murmuro comigo mesmo.

Talvez seja uma alucinação visto meu desejo de ter um bebê para cuidar. Meu instinto protetor e paterno ataca com força, especialmente quando ouço um indício de choro por parte do serzinho pequeno e pego a cestinha, a levando para dentro de casa, onde está quentinho e aconchegante.

Eu retiro as cobertas e o pego nos braços, tentando o acalmar em meio a todo o seu agito. Minha mente está confusa e eu não entendo o porquê de me sentir desse jeito.

Ainda assim, enquanto o aninho em meu colo, noto um envelope na cestinha e o pego. Há uma carta dentro, o que constato quando me sento no sofá e deixo o bebê acomodado em meu peito, como ele parece apreciar.


"Caro, Sr. Park,

O meu nome não é necessário, e este bebê de um mês ainda não tem registro. Eu fugi do hospital assim que ele nasceu, não dando a oportunidade de registrarem ele como meu filho, pois ele não merece uma péssima pessoa como eu para chamar de mãe.

Eu o conheço desde a adolescência, eu estava na clínica no mesmo dia em que você descobriu que não podia ter filhos e eu vi seu semblante e me compadeci. Porque eu posso, mas nunca quis. Meu alfa possivelmente tira minha vida se descobre o que fiz, mas já estarei longe e ele não saberá o paradeiro dessa criança. Eu sou egoísta e não o quero perto do bebê. Ele deveria ser meu, mas essa criança tirou tudo de mim.

Por isso, resolvi dá-lo a alguém que eu sei que gostaria de ter filhos e que vai dar amor a ele. No fim das contas, eu entendo que o problema sou eu e que o bebê não tem culpa. Mesmo não gostando da ideia, saiba que tomei conta dele enquanto ele estava dentro de mim e que mantive uma alimentação regrada e não tive o menor dos problemas até o seu nascimento. O problema sempre foi que eu nunca o identifiquei como filho, eu não criei conexão alguma com ele, diferente do meu ex-noivo.

Sim, ex. Eu também deixei a ele uma carta de término, mas menos detalhada do que essa que deixei para você.

Por isso, se for da sua escolha, leve-o para uma autoridade maior e o adote, registre-o como seu filho. Assim, o verdadeiro pai não terá poder de tirá-lo de você. Eu não o quero com ele, é a única coisa que peço.

Seja feliz, e dê a ele uma vida que eu não poderia dar.

Passar bem."


Isso é... isso é um absurdo.

Apesar de entender que se trata de uma mulher ômega que me viu no meu maior momento de tristeza, quando recebi a pior notícia da minha vida em uma clínica, como ela poderia imaginar que sou boa pessoa? E se esse inocente bebê caísse em mãos erradas e maldosas?

Ela deveria ter o deixado em um orfanato, não?

Mas se isso é um recado do universo para que ele seja criado, cuidado e amado por mim, que assim seja. Talvez esse seja o meu momento de cumprir o meu propósito e realizar o sonho de ter alguém que me chame de papai, não é mesmo?

- Você tem carinha de Jeongsan. - Sussurro ao bebê, que não mais chora e me encara atento.

Ele tem lábios finos, olhos grandes e bem redondinhos, bochechas gordinhas e adoráveis. Ele é lindo.

- Acho que esse será seu nome, minha cerejinha.

Ele abre um pequeno sorriso, que o deixa ainda mais adorável e absurdamente lindo.

Algo me entristece nessa história toda. E o pai alfa? O que acontece se ele vier atrás de mim? Eu não o pouparia de estar ao lado do filho se fosse essa a sua vontade, mas e se eu me apegar antes disso? E se ele quiser tirá-lo de mim?

Ok. Uma situação por vez, eu não posso sofrer com antecedência.

Vamos apenas respirar e viver um dia por vez.

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E essa história é um presentinho para a Aleh, um dos presentes que 2023 e o grupo no whatsapp me deram (e o BTS, claro, hihi).

Connected by Love | jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora