Se eu achava que minha vida era uma merda, eu definitivamente não tinha ideia do quão ruim ela poderia se tornar.
Eu imaginei que nada poderia piorar na minha vida, mas então, eu entrei no colégio. Ninguém te conta isso, mas a escola não é essa beleza toda que fazem parecer que é.
Assim que cheguei à escola, empurrei as portas sentindo minhas mãos suarem frio e engoli em seco, minha garganta tão seca e dolorida que parecia até que eu havia andado pelo deserto. Eu estava completamente trêmulo, da cabeça aos pés. Àquela altura, meu lábio já estava praticamente em carne viva e eu o estava mastigando como se fosse um chiclete. As portas foram como dois tufões batendo às minhas costas com força, me selando para fora do meu mundo e da minha pequena bolha. Diante de mim, o corredor se alongava drasticamente até eu perder consciência de onde ele terminava. Eram incontáveis portas e armários que se estendiam à minha frente. A sensação angustiante fazia o meu coração começar a bater cada mais rápido e forte.
Cada tortuoso passo era como uma morte lenta (e, bem, para todo jovem pré-adolescente, a vida é sim uma morte lenta). Meu estômago embrulhado se revirava com cada passo que pesava uma tonelada, e eu sentia como se pequenas pinçadas fossem dadas na minha cabeça e aquilo causava uma dor aguda que crescia e se espalhava gradativamente. Meus olhos doíam, agredidos por essa luz maldita, e em momento algum eu conseguia levantá-los para olhar ao meu redor. Eu sentia meu peito doer como o inferno, como se todo o ar neles tivessem se tornado ar sólido. Eu estava sufocando lenta e dolorosamente. Quando mais novo, assim que as primeiras crises vieram, eu achei que morreria.
E o mundo estava girando ao meu redor conforme a tontura e a ânsia de vômito me dominavam.
Além da maldita falta de ar, da sensação de sufocamento, da fogueira em que os meus pulmões haviam se transformado dentro do meu peito, eu enfiava as unhas com força na carne da palma das mãos. Eu estava completamente desesperado para abrir passagem pro ar dentro do meu corpo, fosse na garganta ou no meu próprio peito.
Eu tentava engolir a saliva que se acumulava rapidamente, mas não conseguia. Era como se minha boca tivesse secado drasticamente e todas as passagens da minha garganta se fecharam. Não sei se é possível, mas naquele momento, eu sentia minha garganta inchada, tamanha era a desidratação. Minha mente ia e vinha, enquanto eu buscava desesperadamente manter-me ancorado à realidade, ainda que o meu corpo inteiro dissesse o contrário. Àquela altura as minhas mãos estavam suadas e grudentas, como se eu tivesse acabado de sair de uma piscina – até mesmo os meus cabelos se agarravam às minhas têmporas, minha nuca e testa. Eu abria e fechava as mãos com força, desesperado e meus joelhos travavam uma batalha para me manter de pé.
E eu já falei como os meus pulmões estavam queimando? Porque eles estavam. E muito. Quando eu tinha cinco anos, eu me afoguei numa piscina, resultado de um maldito susto que eu tomei. E naquele momento, no corredor da escola, a sensação do que eu sentia, era a mesma de quando me afoguei. Era como se os meus pulmões colapsassem.
A diferença entre esse momento, para o momento do meu afogamento, é que quando eu me afoguei, toda vez que eu lutava mais e mais e mais pata que o ar chegasse aos meus pulmões, mais água entrava.
Meu primeiro dia de aula foi aterrorizante, porém, serviu de lição. Jamais andar novamente em meio a um corredor lotado enquanto estivesse tendo uma crise de ansiedade, misturada à ataques de pânico. Na certa, isso resulta em uma única coisa.
Todo o meu controle (que honestamente já eram bem pouco) se foi e eu senti que o mundo todo estava desabando. Foi como se o universo tivesse parado e o mundo todo deu um único giro, rápido demais para qualquer um notar exceto por mim.
Então todo o meu café da manhã voltou, no melhor estilo clássico de O Exorcista de 1973.
Apesar da minha espetacular entrada na pré-adolescência e no pré-colegial, minha vida chegou a um ponto em que eu não só descobri que podia sim, piorar tudo. Por ter desenvolvido Perturbação do Pânico (comumente conhecida como Síndrome do Pânico), eu percebi que eu não queria ter interação alguma com outro ser humano, com exceção dos poucos amigos que eu fiz. Contudo, aos doze anos, quando você diz para os seus pais que você não quer ter contato algum com outras pessoas da sua cidade, o máximo que eles fazem é ouvir com atenção e "aceitar" suas escolhas. Como se isso fosse muita coisa.
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As Provações & Tribulações de Ser um Adolescente no Século XXI
Fiksi RemajaO quanto um diagnóstico pode influenciar na vida de alguém? Esta é a história de um jovem que precocemente foi diagnosticado com mais transtornos psiquiátricos do que ele gostaria, e precisou crescer com o peso nos ombros de que teria que viver com...