MEDO

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Ramiro curvou as sobrancelhas, abrindo os olhos lentamente.

Um cutucão repetitivo era sentido em seu braço e estava o fazendo estremecer, tanto de dor quanto de incômodo também.

Piscou algumas vezes, se acostumando com a claridade do quartinho e sorrindo levemente ao ver Kelvin, deitado de conchinha parcialmente tenso a seu lado, dormindo pela primeira vez no que deveriam ser dias pelas olheiras abaixo de seus olhos. (Se tinha uma coisa que Ramiro sabia identificar bem eram olheiras.)

Se inclinou um pouquinho em direção do menor, deixando um beijinho na testa de seu pequetito. Quando voltou a sua posição original, sentiu novamente um cutucão.

Franziu as sobrancelhas, irritando-se e amaldiçoando baixinho então.

— Vamo lá Ramiro, acorda logo! – Falou uma voz estranhamente familiar. O ex peão arregalou os olhos ao ouvir, antes de com a boca entreaberta murmurar com sua voz rouca.

—C-Caio. . . ? – Diz meio perdido, seus olhos grandes e assustados. Se inclina em frente a Kelvin protetoramente, dá melhor forma que pode, tentando o tampar pelo menos um pouco.

Ele sabe que Caio é um dos bonzinhos, mas por algum motivo não consegue confiar nele.

—Até que enfim Ramiro. – Comemora arrogante e o ex peão se encolhe quase automaticamente ao lhe ver levantar as mãos, mesmo que seja apenas em alegria. Ele se lembra bem de como sua última conversa com o moreno foi e francamente, não acha que conseguiria repetir a dose. Pelo menos não agora. – Onde é qui tá a Aline? – Vai direto ao ponto e Ramiro se arrepia ao ouvir, seu corpo inteiro estremecendo.

Aline?

Ele não quer falar da Aline, ele não quer apanhar de novo, ele não pode salvar a Aline... Talvez ele devesse falar da Aline, mas sua boca simplesmente trava, as palavras não saem, seu coração acelera.

As palavras correm em sua boca e todas tentam se expulsar por sua garganta, porém o medo é muito maior que seu desejo de encerramento.

Ele se bota mais a frente de seu namorado inconscientemente.

—E-eu – Tenta falar mas sua voz está rouca demais para conseguir dizer qualquer coisa direito. Caio, ao perceber, revira os olhos como se ele estivesse fazendo algum tipo de drama ou joguinho.

O La Selva suspira, antes de pegar uma garrafa de água e estender para Ramiro, abrindo-a e dando água na boca do mais velho, assim como alguém fazendo o maior favor do mundo faria. Ele bufa audívelmente, suas narinas se mexendo e lembrando o mais velho de um boi particularmente irritado.

—Ramiro, ocê me responde logo, porque senão... eu sou capaz de fazer uma loucura pra saber onde a minha mulher e os meus filhos tá! – Expressa todo seu descontentamento, falhando em segurar o copo direito e deixando alguns respingos da água gelada caírem no peito do outro, este que permanece quieto mesmo com a sensação desagradável sobre suas feridas enfaixadas, não confortável o suficiente pra mostrar qualquer tipo de vulnerabilidade, principalmente perto de Caio.

Ele se aproxima de Kelvin mais um pouco.

Caio fecha a garrafinha, batendo-a levemente com certa violência e ameaça implícita contra a cômoda ao lado da cama, deixando-a lá em seguida, Ramiro se encolhe um pouco com o baque.

—Me fala onde tá a minha Aline, Ramiro. – Pede mas parece mais com uma ameaça, exigência, Rams se torna cada vez mais pequeno ao ouvir.

Ele tenta respirar fundo, mas o ar lhe escapa, seus ombros e lábios trêmulos, seus olhos lacrimejando e as palavras todas o escapando repetidas vezes.

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