Capítulo 3 - Então é natal...

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Eu e Benji havíamos nos conhecido na universidade. Quando eu o vi pela primeira vez, com os cabelos escuros e os olhos amendoados, eu prometi a mim mesmo que casaria com aquele homem.

Eu não sei quando eu tinha decidido que eu não queria mais viver. Talvez no momento em que Benji olhou em meus olhos e disse aquele ''não'' que ainda ecoava nos meus ouvidos e em meu coração. Eu ainda estava me sentindo rejeitado, como se não fosse merecedor de nada. E isso havia piorado depois do comportamento dos meus pais, dos meus amigos e até da minha chefe. Era como se ninguém, exatamente ninguém, me quisesse em lugar nenhum.

Me espreguiço, sentindo meus músculos rígidos e doloridos depois de ter passado a noite tirando a água da chuva do apartamento.

- Bom dia, Noeul.

Eu viro minha cabeça para o lado e Boss está me encarando. Ele está sentado em uma cadeira no canto do meu quarto, uma revista em quadrinhos nas mãos. A pintinha do lado do seu rosto repuxa quando ele esboça um sorriso. Ele é absurdamente bonito.

- Por um momento eu havia esquecido que você estava aqui. - Eu digo, me sentando e esfregando os olhos.

- Por um momento eu me perguntei por quanto tempo um humano consegue dormir.

- Anjo, você ficaria impressionado.

Ele deixa a revistinha de lado e leva as mãos até os cabelos escuros, tirando o elástico que prende os fios grossos. Seu cabelo cai em ondas e seus olhos focam em mim enquanto ele volta a prender o cabelo. Eu engulo em seco e pulo da cama, olhando para o buraco na lateral do quarto.

- Qual a programação de hoje? - Ele me pergunta, enquanto eu analiso o céu pelo meu teto esburacado.

O céu está azul, limpo e escuro, sem nenhuma nuvem. Sinto o vento frio agitar meus cabelos.

- Precisamos consertar o teto antes que a senhora Cha resolva nos fazer uma visita.

Boss assente e começamos a organizar meu pequeno apartamento.

- Essas caixas são... - Ele começa a dizer mas, acaba se calando.

- Sim, as coisas do casamento. Você como meu anjo da guarda deve ter visto a catástrofe que foi.

- Sim. Nós como anjos não podemos interferir mas, nunca gostei muito de Benji.

Eu me viro para ele boquiaberto.

- O que?

- É... é só que, você é extraordinário, Noeul. Benji não o merece, ele te deixou no altar e acho que se eu fosse humano, isso me doeria muito.

- Sim, doeu...

- Ainda dói?

Eu penso por um segundo e pego uma colher de pau que escorregou para fora da caixa. Me aproximo de Boss e acerto a colher de pau em seu braço. Ele fica me olhando sem entender.

- Você não sente dor?

Ele sacode a cabeça negando.

- Deve ser bom isso, não sentir dor. Porque eu sinto dor física e dor emocional também e é um saco ter emoções.

Uma lágrima intrometida desliza por minhas bochechas e Boss captura a pequena lágrima na ponta dos seus dedos. Observo a gota em seu dedo, e parece um diamante como se tudo que Boss tocasse, ficasse imediatamente bonito.

- Eu perdi as contas de quantas vezes te assisti chorar naquela fatídica noite.

- Você estava aqui? - Eu pergunto fungando.

- Eu sempre estive ao seu lado, nunca te deixei.

🎁🎁🎁

Escuto uma batida na porta e meu corpo gela.

Um anjo de natal • BossNoeul Onde histórias criam vida. Descubra agora