Capítulo quatro - Heaven is a place on earth

189 30 4
                                    


  Boss sumiu faz duas horas e eu já me encontro impaciente. Tomo um gole do leite de morango e de repente escuto uma gritaria muito alta vindo do beco. As pessoas começam a correr para a calçada para que a multidão que vem saindo do beco possa passar. Liderando a multidão de, agora mais de perto posso ver, garotas histéricas, avisto Boss com uma multidão de garotas atrás dele. Seus olhos escuros me procuram e quando me encontram ele abre um sorriso digno de um flash. Por um segundo, toda a gritaria para. Boss está com as mãos cheias de materiais para reforma de casa e alguns chocolates de amendoim. As garotas continuam o cercando mas ele não olha para nenhuma delas, com os olhos apenas em mim. Tudo está em câmera lenta como aquelas cenas clichê de dorama e tudo que consigo ver é Boss atravessando um caos de gritaria e de garotas para chegar até mim. Ele para em minha frente e a gritaria ainda continua.

— Onde você se enfiou? — Eu tento dizer no meio do barulho.

— Encontrei um trabalho.

Eu penso por um segundo. Talvez eu não tenha escutado direito.

— Um o que? — As garotas continuam gritando como tietes malucas. — Dá pra você me explicar isso aqui? 

Uma garota ruiva e baixinha me olha com a cara feia, espichando o nariz fino na minha direção. Ela toca no braço de Boss e sorri de forma cínica.

Eu começo a suar, estou prestes a entrar em completo surto.

— Ok, damas. Ok. Eu agradeço o carinho, amanhã estarei na mesma hora e no mesmo lugar e vocês poderão tirar fotos. Mas agora eu preciso dar atenção ao meu namorado.

A gritaria para no mesmo segundo, e eu posso ouvir o vento passando zunindo pelo meu ouvido. No mesmo segundo, as garotas nas filas viram as costas e vão embora. Eu e Boss ficamos parados no meio da rua, o centro começando a fechar as portas das lojas. O céu está começando a ficar arroxeado e as luzes de enfeites de natal voltam a se acender, uma a uma.

Boss me entrega os chocolates e os outros pacotes. Sinto cheiro de cimento que vem de um saquinho menor. Ele segura uma lata de tinta nas duas mãos. Como ele estava carregando tudo aquilo eu não fazia ideia.

— Eu estava trabalhando. Eu não sabia o quanto trabalhar poderia ser tão fácil e divertido.

Eu seguro uma risada.

— Ah é? E qual é seu emprego?

Ele estufa o peito e responde todo orgulho:

— Eu deixo as pessoas tirarem várias fotos minhas com várias roupas e até sem roupa.

— O-o que? Sem roupa?

Boss assente.

— Você não deveria ser menos ingênuo? Conhece os humanos, sabe o quanto podemos ser cruéis.

— Noeul, eu conheço você. Meu humano é você e você não é nada cruel.

— Seu humano?

— Sim, meu humano favorito.

— Achei que eu fosse seu namorado.

Ele fica confuso por um momento e eu viro as costas, começando a andar de volta para casa. Ele dá alguns passos e me acompanha, olhando reflexivo para o céu. Seu nariz é bonito, e acompanha seus olhos de forma perfeita. A pintinha no rosto o deixa mais charmoso, e as sobrancelhas grossas...

Eu desvio o olhar, mordendo os lábios com força. O que eu estava pensando? Gostar de um anjo? Aquilo não era um clichê de romance. E ter meu coração partido uma vez era suficiente. Um anjo e um humano era impossível. Não que eu estivesse interessado. 

Um anjo de natal • BossNoeul Onde histórias criam vida. Descubra agora