(Nao) Era amor

1K 144 44
                                    

— Caraca Fabricia, precisava daquilo? — perguntei colocando o cinto de segurança quando saímos do estúdio, o que foi bem rápido já que a minha agente estava toda hora dando indiretas falando que estava na hora de irmos.

— Eu já disse que precisamos chegar cedo lá, você é muito teimosa sabia disso? — ela perguntou e eu neguei com a cabeça emburrada. Havia sido bastante rude da parte dela, não que eu costumasse a me preocupar muito com isso, até porque no primeiro dia eu agi pior, mas mesmo assim, Fabricia era quem sempre me falava que eu precisava me apegar as novas oportunidades como atriz. Eu fechei minha cara ligando o rádio, por alguma coincidência estava tocando uma música da Luiza, eu reconheci facilmente a voz e aumentei o volume. Eu nunca cheguei para prestar atenção na música dela, apenas escutava outras pessoas cantando ou partes soltas que apareciam por aí.

DEEM PLAY NA MÚSICA "(NÃO) ERA AMOR" — GIULIE BE (no caso luiza)


A melodia começava e se misturava com o tom mais agudo de sua voz, criando um timbre muito bom de se escutar. Suas palavras ostentavam seu sotaque carioca, e o significado não era tão bobo igual eu pensava, acho que talvez só tinha ouvido com uma mente fechada, sem ao menos tentar apreciar.

"Então não vem com essas flores baratas
E essas palavras, é tarde demais
Agora você 'tá em guerra sozinho
E ela na paz, e falo mais"

Okay, ela era de fato boa cantando, sua voz era perfeitamente afinada, soava com paixão e sentimento, era quase como se ela conseguisse atuar só que falando. Não era a melhor música do mundo, mas sua voz, cara, era tão linda. Garota desgracada que tinha que ser tão boa. Até consigo me lembrar nela naquele vestido, foi de tirar o fôlego, eu acho que se pudesse devora-la com um olhar, faria sem pensar duas vezes. Se tivesse a conhecido em outro local, com certeza a levaria para minha cama, teria esse interesse de imediato, mas era trabalho, poderia dar muito ruim transar com ela e depois tentar se livrar.

"Então, se tiver doendo, você vai aguentar
Mão na consciência, precisando pensar
E ver se pensa duas vezes antes de quebrar um coração"

E aparentemente luiza já parecia ter sido magoada alguma vez, era difícil admitir, só que talvez ela fosse uma pessoa boa e talvez ela não merecesse isso. Desde quando eu tinha surtos dê consciência? Acho que estava tempo demais sóbria, eu sabia bem que me apegar a sentimento dos outros era uma merda. Não me entenda mal, não é falta de responsabilidade afetiva, só que passei boa minha parte tendo isso que nem conseguir viver por mim mesma e pelos meus próprios desejos.

Tanta volta que já deu a vida
Sem responsabilidade afetiva
Antes que me pergunte: Meus Deus o que eu fiz?
Pare e dá uma olhada pro teu próprio nariz e me diz
Pior que o Pinóquio

Ouch, pareceu quase uma indireta. Mas realmente isso não era mais para mim, acreditar no amor era difícil quando se cresce em um lar que sempre careceu disso, não só entre mim, meus pais viviam um pé de guerra, o que me fez acreditar que casamentos quase sempre estão fadados ao fracasso. Não que isso seja uma desculpa por ser uma cuzona, só que há um ano eu tinha incorporado a minha vadia interior. Até agora. Que tô escutando a música da minha chefe e pensando na voz dela no meu ouvido, eu estava me sentindo uma pervertida.

Não era amor, não era amor
Não sei o que era, mas, seja o que for
Não era amor
Não, não, não, não, não, não, não.

That Stupid Song - valu Onde histórias criam vida. Descubra agora