04. ɴʏᴄᴛᴏᴘʜɪʟɪᴀ

404 28 144
                                    

ɴʏᴄᴛᴏᴘʜɪʟɪᴀ (ɴᴏᴜɴ). ʟᴏᴠᴇ ᴏꜰ ᴅᴀʀᴋɴᴇꜱꜱ ᴏʀ ɴɪɢʜᴛ; ꜰɪɴᴅɪɴɢ ʀᴇʟᴀxᴀᴛɪᴏɴ ᴏʀ ᴄᴏᴍꜰᴏʀᴛ ɪɴ ᴛʜᴇ ᴅᴀʀᴋɴᴇꜱꜱ

Q ᴜ ᴀ ʀ ᴛᴏ

ᴊ ᴜ ɴ ɢ ᴋ ᴏ ᴏ ᴋ



     O fumo do tabaco funde-se com a noite de Nova Iorque, escapando-se do filtro por entre os meus dedos. Em qualquer outra noite, apreciaria a tranquilidade da sua dança e tomá-la-ia como minha até sumir no céu negro acima da minha cabeça, entregando-me à sua sensação de paz, a qual à muito não tenho o luxo de sentir.

    E o motivo para essa infeliz ausência, está agora assente nas minhas mãos.

     O papel tingido a tinta negra, que tem sido o meu único foco de atenção desde que o encontrei na caixa de correio do prédio, esta tarde.

     Não é como se eu tivesse o cuidado de ver o correio todos os dias, logo, não sei quando é que o aviso lá foi deixado para mim.

     E isso não é reconfortante. Significa que talvez eu não tenha assim tanto tempo quanto creio ter.

     Releio-o, uma vez mais. A frase que as palavras constroem é curta, simples e direta, mas causa-me uma dor de cabeça tão forte que é como se estivesse a tentar desvendar um enigma.

     Intensifico o aperto a seu redor consoante o segundo, obrigando-me a não perder as estribeiras. Fica difícil solucionar um problema quando sangue é tudo aquilo que vejo, por isso, fecho os olhos, respiro fundo e amachuco-o.

    Uma ação que, de certa forma, me conforta.

     Ver o papel deformado entre as minhas mãos, conduz-me a uma falsa sensação de esperança; esperança de que talvez eu tenha algum controlo no meu futuro.

     Uma querida e doce ilusão.

     Guardo-o no bolso do casaco e tiro proveito da brisa noturna que me acaricia o cabelo, com uma suavidade digna dos dedos de uma amante. Manipulo-o para que me acalme.

     À meses em que me sento aqui, no muro do telhado deste mesmo prédio, e deixo que a cidade me consuma na sua confusão, levando consigo a minha própria. Ainda que viva sozinho, o apartamento está sufocado em pensamentos obscuros e más memórias. É dentro daquelas paredes que os demónios ganham força. No entanto, aqui em cima sob a vida da cidade, eles não têm como consumir-me.

     Nada os prende a mim quando me sinto tão iludido em liberdade.

     Mas essa dita ilusão é interrompida, assim que sou atraído por uma gargalhada familiar, que se distingue na rua abaixo dos meus pés. O que a torna familiar não é a quantidade de vezes em que a ouvi, pois decerto não foram muitas, mas esta voz em particular já se infiltrou em mim de tal maneira que distingui-la-ía no meio de uma multidão.

     Abro os olhos. Sentado com uma perna de cada lado do muro, inclino-me ligeiramente para baixo e procuro por ela.

     Lá a vejo.

     Cassie vem a desfilar pelas ruas de Nova Iorque como se fosse dona de cada pedaço de chão que pisa, mantida debaixo do aperto de um homem que a toma pelos ombros enquanto caminham na direção do prédio.

Cloaked Lust | Jeon JungkookOnde histórias criam vida. Descubra agora