06. ʀᴜᴍɪɴᴀᴛᴇ

255 16 42
                                    

ʀᴜᴍɪɴᴀᴛᴇ (ᴠᴇʀʙ). ᴛᴏ ᴛʜɪɴᴋ ᴅᴇᴇᴘʟʏ ᴀʙᴏᴜᴛ ꜱᴏᴍᴇᴛʜɪɴɢ


ᴇ x ᴛ ᴏ


     Estou a olhar para uma folha em branco há demasiado tempo.

     Inclino a cabeça para a esquerda; depois para a direita; semi cerro os olhos; aproximo-me e afasto-me dela. Mas nada disso cria a epifania por que tanto anseio.

     A folha, tal e qual a minha imaginação, está vazia.

     Ninguém acreditaria nisso se olhasse para mim; totalmente coberta em tinta como se tivesse tido uma tarde produtiva e vestida com as roupas velhas que tiro do armário somente para estas ocasiões. O apartamento também parece uma zona de guerra, tendo espalhado todo o material ao longo da sala. Desde pincéis, a lápis, até mesmo folhas de rascunhos com ideias que rapidamente cortei de serem possibilidades. Todas elas são horríveis.

     Tudo é horrível porque nada é bom o suficiente para levar para o concurso!

     Ugh!

     Caio estatelada no sofá, soprando para longe o fio de cabelo que teima em escapar-se do elástico. Esse não tarda a cair-me de novo na cara e, angustiada, grito contra uma das almofadas. Esta sensação de imprudência é frustrante quando prometi a mim mesma que apenas iria deitar-me assim que tivesse a ideia para o concurso. Aquela ideia que me fará ganhar.

     Escusado será dizer que o sono e as olheiras já pesam. Quase tanto quanto o desespero.

     Por momentos, deixo-me ficar assim, simplesmente a observar o teto na esperança de que esse me dê a resposta que procuro. Faço dele um Canvas e desenho cada traço imaginário na minha cabeça, linha após linha, ponto após ponto, até criar... nada. Não crio absolutamente nada. Estou criativamente bloqueada e eu sei exatamente o porquê.

     Batem à porta e estalo a cabeça na direção do barulho, não contendo um suspiro nervoso ao saber perfeitamente quem está do outro lado. À horas em que o espero e tenho tirado proveito da arte para distrair-me disso, no entanto, a ânsia não me levou a lado nenhum. Torna-se impossível concentrar-me quando as ideias e emoções estão todas feitas num nó. As horas em que aqui estive sozinha não foram suficientes para preparar-me para esta conversa e ainda penso fingir que não estou, mas eu sei que ele arranjaria forma de entrar.

     De uma maneira ou de outra, arranja sempre.

     Abro a porta. A curta rajada de ar proveniente do corredor acaricia-me o cabelo e empurra a sua colónia masculina contra as minhas vias nasais. Ele está a usar a mesma roupa que tinha no início da tarde, contrariamente a mim, que mais parece que tomei banho em tinta.

          — Jungkook. — digo o nome dele em forma de cumprimento.

     Nos lábios, Jungkook segura um meio sorriso.

          — Cassie.

          — Já pensava que não vinhas. Estou à tua espera à horas.— cruzo os braços ao peito, observando o rapaz que se deixa brincar com um pacote de tabaco nos dedos como se fosse um fidget spinner — Onde estiveste?

          — Isso és tu a controlar-me? — contrapõe e, conforme nada digo, ele alarga o sorriso até soltar uma pequena gargalhada — Desculpa o atraso.

     Guarda o tabaco no bolso de trás das calças e impulsiona-se para mais perto.

          — Vais deixar-me entrar?

Cloaked Lust | Jeon JungkookOnde histórias criam vida. Descubra agora