Capítulo 6

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Olívia e eu chegamos ao ginásio da faculdade devidamente vestidas e recompostas para o jogo. Ela está usando um uniforme de futsal azul royal e um par de delicadas chuteiras rosa-fluorescentes. O cabelo ruivo rapidamente trançado ao longo do trajeto de carro ainda está um pouco úmido do banho recente. As bochechas dela estão coradas como salames, e Olívia se recusa a olhar para mim por mais que alguns breves segundos.

Estaciono o carro em uma vaga preferencial que não tenho o direito de usar e tento não pensar muito sobre o que aconteceu no banheiro dela. Conforme caminhamos até a quadra, sinto meu corpo enrijecido pelo desejo insaciado, formigando com a necessidade de terminar o que começamos. Pensamentos indizíveis permeiam minha cabeça e me esforço para afastá-los antes que eu faça algo idiota - como puxar Oli para o banco traseiro e montá-la ali mesmo, no estacionamento da faculdade.

Contudo, não quero que Olívia pense que me deve algo. Eu a desejo – tanto que mal consigo respirar enquanto a observo caminhar até onde seu time está reunido nas imediações do ginásio. Mas nunca a pressionaria a devolver o orgasmo que lhe proporcionei no banheiro. Ela também parece satisfeita em fingir que não transou com a meia-irmã menos de meia hora atrás. Não que eu possa culpá-la. Qualquer conversa que poderíamos ter depois do que aconteceu pode esperar um pouco. 

Amanhã. Podemos esperar até amanhã, quando nossos pais médicos super ocupados estarão outra vez no trabalho e a casa será toda nossa outra vez. 

Mal posso esperar para ficar sozinha com Olívia de novo. 

Depois de nos despedirmos com um breve sorriso e um olhar carregado de significado, ajusto a alça da mochila sobre os ombros e a deixo conversando animadamente com suas amigas. O time de medicina está reunido aos gritos perto do vestiário quando me encaminho para lá.

Liana é a primeira a me ver.

— Hellen! — grita a capitã do time. Os cabelos loiros balançam como macarrão cozido quando ela corre em minha direção usando o uniforme verde de medicina. Nossa Regina George do Aliexpress para na minha frente com as mãos apoiadas na cintura ostensivamente fina e um olhar acusatório. — Atrasamos o jogo por sua causa.

— É mesmo? — Olho para o time por cima de seu ombro ossudo. — E não tinha ninguém decente para me substituir?

Liana estreita os olhos.

— Você é a melhor atacante da equipe. Não contávamos que você seria tão irresponsável ao ponto de cogitar faltar na final do campeonato, Hellen.

Dispenso sua alfinetada com um gesto vago.

— Tive um imprevisto.

— Nada tão importante quanto a vitória do nosso time, imagino.

Sinto minhas narinas dilatando. Estou ficando irritada antes mesmo de tomar a primeira cotovelada na partida.

— Não devo satisfações a você. O que importa é que estou aqui.

— Só porque eu te liguei vinte minutos atrás.

— Isso é irrelevante.

Liana suspira com evidente descontentamento e gira sobre os calcanhares para se afastar de mim. Enquanto caminha de volta na direção do grupo, a capitã diz por cima do ombro:

— Nos faça um favor e compense seu atraso com um desempenho extraordinário, atacante.

Que vadia.

Respiro fundo e vou até o vestiário deixar minha mochila. Toda a felicidade de mais cedo começa a se esvair como poeira com a torrente de irritação que me inunda mais a cada segundo. Começo a me perguntar por que o universo parece conspirar tanto contra mim: me fez desenvolver sentimentos pela filha da minha madrasta apenas para se intrometer em nossos planos logo depois.

Meu Pecado Fraternal - Conto rápidoOnde histórias criam vida. Descubra agora