Capítulo 8

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Acordo na manhã seguinte com uma dor de cabeça lancinante. 

Apoiada sobre os cotovelos e fazendo uma careta para a luz opressiva atravessando a janela do meu quarto, não consigo entender exatamente até onde minha dignidade resistiu depois da troca de mensagens com Olívia, antes do primeiro copo da porcaria alcóolica de nome indefinido que me prestei a beber na festa da atlética. Me lembro dos três primeiros copos e, então, um grande borrão de luzes, música e risos. 

Se eu me diverti, não quero pensar em como.

Tateio a  mesinha de cabeceira em busca de meu celular e gemo profundamente ao notar que são 11:32 da manhã. É sábado, o que significa que meu pai e Ruth estão em casa, e Olívia...

Bem, terei que me levantar para descobrir. 

Lanço as pernas para fora da cama e aguardo alguns minutos enquanto meu corpo faz download da alma. Me sinto um saco de lixo quando estou de ressaca, e tudo piora com a onda de náusea que faz meu estômago embrulhado se contorcer como uma cobra semimorta. 

Da última vez que bebi tanto, eu tinha dezessete anos e estava em minha formatura do ensino médio. Alguém teve a brilhante ideia de preparar uma coisa tenebrosa chamada suco gummy, que nada mais era do que vodca, suco em pó, bala halls e coliformes fecais, misturados em um caldeirão de origem duvidosa. Devo ter vomitado pela minha casa inteira antes de meu pai acordar com a pior carranca já vista na face da terra. Ele tirou minha roupa suja de vômito e me fez tomar um banho gelado, depois me deu um baita esporro sobre limites e confiança. Me lembro de ter ficado tão entediada com sua ladainha que prometi a mim mesma que só beberia de novo quando fosse extremamente necessário - tipo em uma decepção amorosa ou algo assim. 

Obviamente, não sou confiável. 

Depois do que parece uma eternidade, consigo ficar de pé e cambaleio até o banheiro para tomar um banho rápido. Quando desço as escadas, encontro Ruth na cozinha, preparando o almoço. 

- Bom dia, Hellen - cumprimenta minha madrasta, sem se virar do balcão de onde está cortando tomates em uma tigela. 

- Bom dia - Olho ao redor. - Onde está meu pai? 

- Foi buscar a Olívia na natação.

- Ah. 

Isso responde porquê a casa está tão silenciosa. Eu sempre me esqueço que Oli gosta de fazer natação aos sábados, mas com certeza não me esqueço de como as pernas dela são torneadas por conta das piruetas aquáticas sem sentido que eles fazem na quadra olímpica.

Mesmo enjoada, pego uma banana da fruteira e me jogo na cadeira mais próxima. Os sons que Ruth faz na cozinha preenchem o silêncio por um tempo, até que ela pergunta, em um tom desinteressado:

- Como foi o jogo?

Franzo o nariz.

- Bom. Nós ganhamos. 

Ela parece assentir sutilmente. 

- E a comemoração? Se divertiu? 

Algo em sua voz me faz empertigar um pouco as costas.

- Foi legal - É tudo o que respondo. Ruth tem essa mania peçonhenta de sondar as pessoas usando uma voz mansa, desinteressada, só para soltar os cachorros logo depois. Não confio nela nem um pouco.

‐ E a Olívia? - pergunta.

- O que tem ela?

- Sua irmã se divertiu também?

Dou uma mordida furiosa na banana como se a fruta tivesse assassinado meus antepassados e, depois de engolir, digo à Ruth:

- Depende de qual é a sua ideia de diversão. - Meu tom sai mais ríspido do que eu pretendia. 

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⏰ Última atualização: Nov 06 ⏰

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