Parte 2

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Saiu do seu assento e avaliou de perto cada um. Conforme andava, suas joias tintilar e seu olhar bem marcado pela maquiagem adulta fazia quatro deles lhe mirarem com encanto e surpresa. Um lobo vermelho. É uma espécie rara e magnífica de se ver. Sedutora. Naruto olhou para o quinto elemento e o notou apertando os punhos, os olhos fixados na grama, um pé batendo no chão.

Um esquisito. Que merda.

Avaliou os outros. Não são boas opções, mas ao menos um é Sarutobi. São ricos. Mais riqueza significa mais proteção. Não estão no patamar dos Uzumakis. É uma das famílias que apostou todas as fichas na guerra e perdeu. Naruto abriu a boca para iniciar sua conversa de praxe, mas foi interrompido por uma buzina de carro muito alta. Só deu tempo de olhar para o lado.

Num segundo surgia uma picape no ar mirada em seu corpo, no outro uma fera gigante de densa pelagem negra agarrava o veículo e o lançava para trás, longe o bastante para que capotasse morro abaixo. A fera disparou numa carreira de quatro patas e saltou sobre o carro, esmagando-o feito papel. O motorista saiu do veículo desesperado, apontando uma arma para o gigantesco lobisomem, mas nenhuma bala fez se quer um arranhão, na verdade provocou ainda mais fúria: o monstro agarrou o frágil corpo e rugiu tão alto contra seu rosto que o fez desmaiar.

-Sasuke! - gritou uma mulher. A fera olhou para trás e depois para o homem. - Meu filho, pare! Se controle! - ela estava ofegante e com as roupas amarrotadas. O marido a segurava de pé. O lobisomem deitou o homem no chão com uma delicadeza incoerente com seu tamanho bestial e ficou de pé nas duas patas traseiras, assumindo um porte humano. Devia ter pelo menos 3 metros de altura e de puro músculo e pelo negro como a noite. Respirou fundo e devagar.

Voltou a ser humano conforme subia o morro. O pelo inteiro evaporou como fumaça e em seu lugar surgiu a veste de gala azul marinho e branco de um militar naval. O quepe caído voltou para a cabeleira preta e a cadeira derrubada foi erguida, limpa e nela Sasuke tornou a sentar, agora mais calmo. Olhou para o lado. Todos os alfas ou derrubaram suas cadeiras na fuga ou simplesmente desabaram no chão de susto por sua transformação. Sasuke pigarreou e acenou com a mão.

Arrumou suas vestes, suas medalhas, suas luvas, endireitou a postura e olhou para frente.

Para um Naruto embasbacado. Aliás, arrebatado.

Ninguém ali ouviu quando os portões foram arrebentados, mas por estar numa crise de ansiedade, os sentidos de Sasuke ficaram tão atentos quanto se estivesse no convés. Ouviu o motor forçado a acelerar e o barulho dos pneus no calçamento. Naquela velocidade, ele teria exatos 30 segundos para entender a situação e agir; foi o que fez: o carro vinha na direção da tenda e um homem com uma expressão louca o dirigia, então jogou seu quepe no chão e se transformou.

Jogar para longe era o mais seguro.

Melhor uma perda do que 15 ou 20.

Ele sempre soube definir para que lado pesa mais a balança da justiça e do bom senso.

Às vezes sacrificava 300 para salvar 30 mil. Era sempre um preço caro demais para ele pagar sozinho, mas sempre haveria um preço muito mais absurdo do outro lado. Sasuke massageou seu ombro direito, onde recebeu um bala de sniper uma vez e quase perdeu o braço. Ali reside o peso de todas as vidas que ele escolheu não salvar para que tantas outras vivessem mais um dia.

Um dia para lutar.

E agora ele tem quase 15 mil vidas de soldados em sua conta de “salvador da humanidade”.

Transformar-se em lobo depois de um ano e tanto só cuidando de ovelhas lhe fez bem porque pôde extravasar. Talvez agora suporte a reunião até o fim. Um mordomo lhe ofereceu um copo de água, que ele aceitou por educação, e mostrou o cardápio de opções daquela tarde.

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