SEM FÉRIAS - (C.H)

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CALUM HOOD

Acordei mais cedo do que de costume para terminar de arrumar os últimos itens que faltavam na mala.

Coço os olhos e me espreguiço, soltando um gemido longo e rezando para que essa preguiça passe logo. Levanto devagar da cama e arrasto os pés até o canto do quarto onde havia deixado as malas e pego a que ainda estava incompleta, coloco em cima da mesa do computador enquanto catava o resto das camisas que estavam de fora e jogo todas dentro da mochila num emaranhado só.

— Ninguém merece isso..- Resmungo enquanto saía do quarto em direção ao banheiro.

Pensando bem...eu meio que mereço. Esse ano não foi um dos meus melhores na escola..na verdade foi um dos piores. Não, definitivamente foi o pior.
Mas olhando por outro ângulo, foi o melhor pra banda! Tive a oportunidade de ensaiar e me aperfeiçoar mais do que nunca e tivemos resultados incríveis, foi praticamente perfeito. Pra mim, pelo menos. Não posso dizer o mesmo pelos meus pais.

— Você já deveria estar pronto. - Meu pai para na porta do banheiro, com seus olhos cravados no relógio da parede do corredor enquanto bebericava algo na xícara que segurava em suas mãos.

Me viro com a escova de dentes na boca, fito o relógio, alterno o olhar para ele, encaro o relógio novamente e me volto para a pia, cuspindo a pasta de dente.

— Nós temos literalmente 5 horas para chegar lá. Acho que isso é tempo de sobra. - Respondo em um tom um pouco cínico.

— Se você for se despedir de todos os seus colegas agora, eu sei que você vai demorar e atrasar nossa programação inteira.

— Você realmente acha que vou embora sem me despedir deles? Isso tá fora de questão!

— Se você não tivesse feito tanta besteira o ano inteiro pra se encontrar com eles você não precisaria se despedir. Vá se vestir e não demore. Estaremos saindo daqui a 1 hora. - Ele se desencosta da porta e segue caminho para o andar de baixo.

Respiro fundo, fecho a porta do banheiro com calma e tiro minha calça moletom, indo em direção ao chuveiro.

— "Estaremos saindo daqui a 1 hora" - Balbucio.

Até no dia de me despedir é como se eu estivesse num quartel, onde meu pai é o general amargurado que aparentemente não tem nada de melhor pra fazer ao invés de perturbar cada segundo da minha vida.

Minha relação com meu pai nunca foi uma das melhores. Minha mãe sempre diz que somos muito parecidos com as teimosias, por isso estamos sempre debatendo sobre qualquer coisa.
Literalmente qualquer coisa.
A nossa última discussão aconteceu ontem à noite para decidir qual seria o trajeto mais rápido para o Marine Bay, o resort que vou trabalhar durante as férias de verão para compensar todas as faltas acumuladas do ano letivo, que aliás, também foi motivo de discussão.

Enquanto passava os dedos por meus cabelos, tirando o excesso de água dos pequenos cachos que estavam crescendo, me peguei pensando em tudo que vou deixar pra trás durante as férias.
Meus amigos, as festas, as meninas, a banda, e o principal: minha liberdade.
Sou conhecido por ter o tal "espírito livre".
Fugir de casa e encontrar com a banda para ir tocar em festas dos meus amigos da escola se tornou quase uma rotina dos dias de semana, e o castigo do dia seguinte também.
Acho que pais chegaram a conclusão de que não tinha mais o que fazer, a não ser deixar a janela da sala destrancada para que eu pudesse entrar, já que para o meu pai eu não tenho maturidade o suficiente para ter as chaves de casa. Por mim tudo bem, contanto que ele não me tranque fora de casa. De novo.

Marine Bay Resort | cthOnde histórias criam vida. Descubra agora