Ela tinha o mesmo pesadelo nos últimos três meses. O mar recuava, formando uma onda gigantesca. Ao se aproximar do litoral, a onda gigantesca trazia entulhos, veículos, pedaços de árvores e de corpos. As pessoas na praia se apavoravam e corriam, mas não conseguiam escapar.
A onda a atingia também, e ela submergia nas águas se debatendo. Toda vez que subia à superfície, o mar a empurrava para baixo outra vez. Sentia a água salgada entrar no seu corpo, sentia o ar sair.
Algumas vezes, ela via outras pessoas se afogando. Desesperadamente, ia ajudá-las, mas era inútil. Não salvava ninguém, nem a si. Todos morriam!
Ao despertar, ela suava frio e ofegava. A rotina onírica já a afetava, perturbando o seu dia. Nunca tivera medo do mar, agora uma simples imagem provocava calafrios. Dizia para si:
- Moro no meio do país, bem longe do mar! Não há razão para ter medo!
Sem entender e sem impedir os pesadelos, procurava atividades que despendiam energia. Acreditava que o cansaço lhe traria uma noite tranquila. Grande ilusão!
Foi ao médico, e passou a tomar remédios. Outra grande ilusão! Quando mais dormia, mais sonhava. Vivia em um inferno!
Andando como um zumbi, tentava em vão trabalhar. Perdeu prazos, não alcançou resultados. Por fim, tirou férias. Iria para alguma região serrana longe do mar.
Depois de uma viagem longa, chegou exausta no hotel. Tomou um relaxante banho, jantou no quarto e caiu no sono. Não teve pesadelo naquela noite, não teve sonho algum.
Acordou bem, como não fazia em meses. Sorrindo, ligou a televisão. E ouviu a seguinte notícia:
- Uma série de ondas gigantes atingiram 14 países asiáticos! O número de mortos pode ultrapassar 100 mil ...
FIM
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Contando contos
General FictionEm CONTANDO CONTOS, de Denise FL, encontramos uma coletânea de dez contos ficcionais com protagonismo feminino, onde um conto é narrado em cada capítulo, em primeira pessoa ou em terceira. A autora exercita a escrita com diferentes tipos de contos...