Capítulo 7 - A lenda de Ela

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Não se sabe como tudo começou, e, cada vez que a estória é contada, mais elementos surgem. É difícil saber onde a estória virou uma lenda. Só se sabe que faz muito, muito tempo... Eu ouvi minha avó contar, e ela ouviu da avó dela. Agora, vocês me ouvem!

Dizem que Ela foi vítima de um pretendente rejeitado que, inconformado, a sequestrou, a estuprou e a matou. Outros afirmam que foi um bando de homens que cometeram o crime. Alguns juram que Ela não é uma só moça, são várias, todas vítimas de violência e de crimes brutais!

Ela não tem nome ou nomes, somente Ela. Basta uma mulher a chamar três vezes: Ela, Ela, Ela. Só funciona com mulher! Jovem ou velha ou criança, não faz diferença. Basta ser mulher! E Ela aparece quando a mulher está em perigo ou sendo maltratada por algum homem!

Vocês não acreditam, não é? Acham que é coisa de gente doida, caduca. Eu pensava assim até acontecer comigo!

Como minha família era pobre, eu comecei a trabalhar ainda jovem. Trabalhava de dia e estudava de noite. Um dia fiquei até tarde na escola devido a uma prova. Acabei perdendo o ônibus e tive que ir até uma outra parada mais distante.

Sozinha, sem ter como falar com alguém de casa ... Não existia celular naquela época ... Corri o mais rápido que pude pelas ruas!

Quando eu estava atravessando uma rua, um carro vermelho parou na minha frente. Dois homens saíram e vieram na minha direção falando coisas ... Pareciam bêbados ... Corri para outro lado, mas eles me cercaram. Um deles tinha uma faca e disse para eu ser boazinha e ir com eles.

Eu fiquei paralisada de medo! Só conseguia pensar na minha família ... Aí lembrei da minha avó e de Ela ... Gritei: Ela, Ela, Ela! Os homens riram e começaram a me arrastar para o carro.

Gemido, ruivos, gritos e choros vinham das sombras da noite. Os homens ouviram e pararam, mas pensaram que era eu. O homem sem a faca me deu um soco e me mandou calar a boca. Os sons ficaram mais altos, e mãos negras saíram das sombras.

As mãos perseguiram os homens, e eles me soltaram. Correram em direção ao carro, com medo. Uma sombra negra de cabelos longos apareceu na frente dele. Era Ela!

O homem da faca foi retalhado em pedações pelas mãos negras, nem teve como gritar. O homem que me bateu foi silenciado por uma mão negra e socado até a morte por outras. Poças de sangue e partes dos corpos estavam pelo chão. O cheiro era horrível! Vomitei!

Quando ergui a cabeça, não havia mais nada. Nem Ela, nem sangue, nem pedaços dos homens. Sai correndo dali.

A polícia não encontrou nada, nem o que restou dos corpos, nem o carro. Me disseram que eu estava em choque e tinha imaginado tudo. Falaram que eu tive sorte, pois os bandidos só me bateram e foram embora.

Não foi sorte, foi Ela! Já ouvi outras mulheres contarem estórias semelhantes. Todas elas foram salvas por Ela!

Lembre-se: quando um homem te ameaçar ou machucar, chame Ela três vezes!

FIM

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