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Metade — ou até mais — dos frequentadores de uma igreja não querem, de fato, estar lá. Eu sou integrante dessa parcela que acorda cedo aos domingos e participa das missas contra sua real vontade. No entanto, há muita discrepância entre mim e todos os outros religiosos falsos; o que nos guia difere em um detalhe sútil, mas é o suficiente para que sejamos criaturas terrestres completamente dissemelhantes.
Não consideremos as crianças e adolescentes obrigados pelos progenitores a perderem horas de suas vidas em um lugar que não os agrada. É quase como se eles não estivessem aqui, suas mentes tão alheias ao espaço e à circunstância que os fazem desaparecer. São invisíveis aos olhos de todos ao redor, inclusive os meus. Não os percebo e mesmo suas respirações são nada senão silenciosas.
Aqueles com direito de escolha e que decidem por participar das missas mesmo sem verdadeiras intenções são todos guiados pelo medo. Medo de muitas coisas, e todas elas são idiotas. Existe um medo de perder as bençãos dos padres, de ser esquecido por Deus, de ter suas almas queimando no Inferno, de que as súplicas não sejam ouvidas. Todavia, não se trata apenas disso. O que os "cristãos" mais têm medo é de ter sua fé invalidada e considerada rasa.
Imagine a reação de um devoto legítimo, alguém cuja alma está totalmente ligada a Deus, ao saber que outro frequentador de sua Igreja não tem o mesmo nível de devoção. "Você é Católico ou 'católico'?", eles perguntam. "Foi à missa domingo passado?", "o que achou do Evangelho?", "não lhe tocou o coração as últimas palavras do Padre?". Ah, como os "fiéis" têm pavor de parecerem ridículos frente aos Cristãos... É mais fácil fingir amar a Deus e orar em puro sacrilégio que passar vergonha.
Contudo, se os verdadeiros seguidores da Palavra julgam aqueles os quais não A seguem com tanta veracidade, isso não os torna falsos, também? "Amar a todos", "perdoar a todos"... Nada disso é posto em prática. Que ser humano não ama a oportunidade de humilhar um semelhante, ainda mais com um terço numa mão e água benta noutra? E a igreja torna-se um ninho de pecadores que repetem os mesmos erros e buscam por um lar santificado, tal qual um bando de ratos imundos procurando um bueiro limpo.
Em nada me comparo a essas criaturas vis. Odeio cada parte deste lugar e só o frequento porque quero ser livre. Confessar-me ao final de cada missa livra meu espírito de todos os pecados, pois arrependo-me de coração, e logo sou um homem livre para fazer o que quiser com a liberdade mais que garantida, ao final. Não há Inferno para alguém como eu. Nada prende minha carne, nada prende minha alma.
Peco, entretanto arrependo-me. E o perdão vem a mim, já que sou sincero em meu arrependimento. Cada vez que venho à missa, passo a amar a Deus, a querer entendê-lo e querer dedicar-me a ele. É uma energia tão forte que não posso negá-la. Confesso do fundo do meu ser, pedindo a Ele que salve-me após a vida se esgotar. Então, saio da igreja e me livro do amor, da necessidade e da fé, porque são coisas que aprisionam.
Desato-me a pecar, a seguir as leis do Inferno e assimilar-me aos Demônios. Tudo isso para ouvir as palavras do Padre no domingo seguinte e sentir a mesma energia forte me puxando. Quando vejo, estou ouvindo os versículos e tomando seus significados para mim. O ciclo há de continuar até que passe a ser somente ossos em um buraco qualquer na terra.
Pecado, arrependimento, confissão, perdão, descaso, pecado, arrependimento, confissão, perdão, descaso, pecado, arrependimento, confissão, perdão, descaso, pecado, arrependimento, confissão, perdão, descaso, pecado, arrependimento, confissão, perdão, descaso, pecado, arrependimento, confissão, perdão. Termina no perdão, no livramento. Morrerei como um seguidor de Cristo, apenas para que possa ser livre.
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Amen - Fyolai
FanfictionPela sua liberdade em vida e após a morte, Nikolai Gogol é um frequentador assíduo das missas de domingo. Quem diria que, em uma manhã, um padre o faria buscar tanto o pecado. Quem diria que, em uma manhã, ele perderia toda a chance de liberdade em...