♱ 𝒎 ♱

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     Quando uma criança fica muito ansiosa para o seu aniversário, é como se ele demorasse mais a chegar. Os minutos parecem horas, as quais parecem dias, que terminam parecendo meses. E nunca é, de fato, o momento grandioso que tanto se espera. Ou seja, querer muito uma coisa só dá a sensação de que ela está longe, por vezes se afastando, inclusive.

Devo ser uma criança, porém meu aniversário não é o que me importa. Quis que a semana passasse rápido e que domingo viesse num piscar de olhos. Ao olhar para trás, realmente se foram sete dias, mas a sensação é de que sobrevivi uma estação inteira. Foi torturante passar todos os meus segundos pensando em um padre e sentir falta de tocá-lo.

"Humilhante" também seria uma boa palavra para descrever. Meu objetivo é ser livre, o que significa não me apegar a nada, seres vivos ou objetos. Até mesmo crenças são prisões, e imagino que tal coisa já esteja clara, a esta altura do campeonato. Sendo assim, ter uma pessoa por tempo demais em minha cabeça torna-se uma prisão insuportável.

Então, talvez, fosse mais lógico não ir à igreja em situações futuras, esquecer o perdão e a sensação falsa de liberdade que ele traz. Contudo, não consegui me forçar a ficar em casa, a desistir do hábito de levantar cedo aos domingos e de sofrer no confessionário. Minha mente me pregou peças, e meus planejamentos e raciocínio foram desconsiderados por completo, sem lugar algum de fala na bagunça toda.

Segunda-feira... um dia que demorou a passar, porém o seguinte foi ainda mais decepcionante. O próximo conseguiu me fazer surtar e, sinceramente, quinta-feira eu mal consegui dormir. Meu último dia de trabalho na semana poderia ter sido muito melhor, e sábado se estendeu tanto que pensei não ser capaz de sobreviver a noite. Todavia, não teria espera mais torturante que a de domingo.

Acordei cedo, arrumei-me quase saltitante, vesti-me da melhor forma que pude e foi apenas quando estava prestes a sair de casa que me lembrei de algo importante: preciso ir à missa noturna se quiser vê-lo. Ah... Tente imaginar a dor de precisar viver mais dez ou onze horas sem conseguir tê-lo respirando o mesmo ar que eu. É cruel até mesmo para a minha pessoa, e acredite quando digo quase ter esmagado minha própria cabeça com uma pedra por não aguentar mais.

Somente alguém como eu poderia entender a obsessão pelo Padre Dostoyevsky, pelo Dos-kun. O nome fica estranho quando permito que saia por meus lábios, quase errado ou como se não fosse para mim. Chamá-lo, seja do que for, soa horrível, sendo sincero; e parece que não tenho o direito de me referir a ele de maneira alguma. É o preço que se paga pelo que fiz, suponho; o preço que se paga por nutrir um sentimento... exótico em tão pouco tempo.

     Esperar até sete horas da noite para sair de casa era uma tarefa impossível para mim. Posso fazer todo o tipo de coisa, menos controlar minha ansiedade quando transbordando. Um segundo a mais confinado entre quatro pequenas paredes poderia ter me tornado um homem louco, com uma loucura superior a qualquer outra que já tomou controle de mim. Até o simples pensamento de não vê-lo faz algo borbulhar em minha cabeça, meu estômago, meu coração...

Dezoito horas, foi quando deixei minha pequena casa para, enfim, ir à igreja. Não fui capaz de esperar uma hora sequer a mais, e, mesmo sendo muito cedo, não havia outra opção para mim. O bom de chegar lá antes do normal é que o lugar estará vazio, com apenas eu e Dos-kun aproveitando a companhia um do outro, se bem me entende. Imaginar todas as coisas que poderíamos fazer causa tremores por meu corpo inteiro, a necessidade de tocá-lo sendo maior a cada mero instante.

Amen - FyolaiOnde histórias criam vida. Descubra agora