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Estava finalmente disposta a seguir em frente e esquecer a dor que permanecia no meu peito, a dor de ser abandonada por alguém que amamos e supomos ser correspondidas. Nos dicionários a palavra dor parece ser mais fácil de suportar, porque escrevem sem a sentir e aprofundam demasiado a dor física, quer dizer, se nós estivermos com dor de cabeça podemos tomar medicação, se estivermos mal dispostos podemos sempre tomar um chá, e a minha pergunta é, para quê então aprofundar uma coisa que se surgir nós sentimos e conseguimos tomar logo providências? Tem muita gente, tal como eu, que não sabe como curar uma dor psicológica mas tenho a certeza que não é com a facilidade que se trata uma dor física e em vez de aprofundarem algo que as pessoas não sabem como curar, escrevem coisas idiotas que se acontecer as pessoas sabem reagir...

3 meses... Foi o tempo que precisei para ganhar coragem para conseguir encarar o novo mundo sem ele, as recordações mantêm se vivas na minha mente, tão vivas que não permitem que eu siga para a frente com a minha vida. O meu quarto foi o meu refúgio por 3 meses, entrei neste quando a pessoa que eu julgava que me amava me abandonou e desde esse dia nunca mais vi algo para além do interior do meu pequeno e humilde quarto. Nas paredes encontravam-se pequenas falhas de tinta devido a esta ter sido o destino final de todos os objetos que eu mandei para libertar toda a minha fúria, e no soalho de madeira encontravam-se todos os cacos de vidros, almofadas rasgadas devido ao meu uso da tesoura sobre estas, o pó e os fragmentos de tinta caída da parede, o meu quarto encontrava-se desarrumado, os lençóis da cama encontravam-se fora desta e rasgados, as fotografias encontravam-se rasgadas e algumas riscadas e a persiana da janela do quarto encontrava-se fechada por completo não deixando passar qualquer tipo de luz natural

Precisava de tomar uma atitude

Abri a persiana e depois a janela dando-me visão mais avantajada do estado do meu quarto e qual não foi a minha surpresa quando reparei que o quarto estava ainda pior do que eu pensava. Dirigi-me á minha casa de banho, dentro do quarto, tomei um banho, arranjei-me com um outfit descontraído, sai da casa de banho e pus mãos á obra, este quarto tinha de ficar, pelo menos, apresentável.

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Depois de 2 horas a arrumar o quarto posso dizer que está agradável, tirando o facto de a parede se encontrar estragada, de não ter almofadas e de não ter lençóis para a minha cama mas de resto, tudo voltou ao seu suposto lugar.

Ouvi suaves batidas na porta, olhei o relógio de novo

12:00 am

Não obtiveram algum tipo de resposta minha do outro lado, não porque quisesse mas porque me havia distraído nos pensamentos mas voltaram a insistir com mais três batidas suaves

- filha, vou pôr a tua comida aqui na porta, come alguma coisa, por favor -era a minha mãe, a voz dela fazia transparecer a sua preocupação e o estado lamurioso em que se tem encontrado por não saber nada de mim só pelo simples facto de me ter isolado completamente no meu quarto

Sorri minimamente por saber que depois de 3 meses a minha mãe continua a trazer-me a comida á porta do quarto, algumas vezes obtinha resultados positivos porque devido á escassa fome, eu penicava qualquer coisa mas doutras vezes, ou melhor, na maior parte das vezes, nem sequer abria a porta

-podes entrar mãe -logo a porta se abre e uma expressão de alivio passava na face da minha mãe

Aproximou-se de mim, pousou o tabuleiro com a comida na minha secretária e dirigiu-se a mim, lentamente, receando algum tipo de reação negativa da minha parte, mas para sua surpresa, levantei-me e abraçei-a fortemente

-obrigada por não teres desistido de mim - murmurei enquanto a minha progenitora me afagava os cabelos suavemente

-está tudo bem - sussurrou quando me olhou nos olhos- depois de 3 infernais meses, pude finalmente abraçar-te de novo- os seus olhos encontravam-se húmidos e brilhantes, estava emocionada- e o mais cómico e mais revoltante nesta história toda é que, tu estiveste sempre dentro desta casa e nós ainda assim, nos sentíamos como se tu tivesse ido viajar e não te pudéssemos ver de maneira nenhuma

-obrigada por terem respeitado o meu espaço - sorri abraçando-a mais uma vez

-Green, amor onde estás?- o meu pai falou do andar de baixo o que nos assustou um pouco

-no quarto da nossa filha- respondeu sorrindo e sem nunca me largar dos seus braços, talvez tivesse medo que eu voltasse a refugiar-me no meu quarto mas sinceramente, essa ideia não fazia parte dos meus planos, agora quero sair com os meus amigos e viver a vida, nada mais

Ouvimos passos apressados que acalmavam á medida que se aproximava do meu quarto, quando o meu pai passou pela porta do meu quarto parou na porta, estava ofegante, tinha vindo a correr mas parou de o fazer quando estava a chegar para manter o seu orgulho, é um pouco esquisito

- pai - sussurrei

O meu pai dirigiu-se a mim e abraçou-me fortemente mas por pouco tempo, foi o suficiente para me fazer sorrir

- Sky, se voltas a enfiar-te no quarto por causa de um desgraçado qualquer, eu não responderei pelos meus atos- revirei os olhos pela "bravura" do meu pai, mas aposto que isto foi só para encobrir o abraço caloroso de pai e filha que havíamos partilhado á pouco tempo

Sky... O meu pai chamava-me isto desde pequena, não sei porquê mas apenas chama. Na verdade, acho adorável o nome, se virmos isto como um metáfora tornasse magnífico a vários níveis. Sinto-me ignorante por não gostar da maneira como o nome "Melody" soa quando dita pelo meu progenitor, na verdade, só o ouço chamar-me pelo meu verdadeiro nome quando está preocupado com algo do trabalho ou quando eu fiz alguma asneira e ia ouvir um discurso prolongado do que devo ou não fazer, isto até é suportável, menos os castigos que me eram aplicados, nunca foram nem nunca serão fáceis de lidar.

- sempre pronto para a ação, não é Bob? -ri levemente e o meu pai fez cara feia pelo facto de lhe ter chamado pelo seu nome próprio em vez de pai

- por ti faço quase tudo Sky- sorriu

- quase tudo? Como assim? -perguntei um pouco incomodada com a afirmação anterior por parte do meu pai

- se me pedisses para trair a tua mãe, não o faria, nem que estivessem a cair meteoritos e essa fosse a nossa única salvação, prefiro morrer a magoar a tua mãe- sorriu em direção á minha mãe que lhe retribuiu o sorriso

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