Guerra de Corações

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Deixei a música mencionada no capítulo acima:

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Deixe-me tornar-me quem eu quero ser. Isso ecoava constantemente na mente de Maris e era a sua voz que sussurrava aquela frase por todo seu cérebro. Ela não conseguia acreditar que estava pensando em todos aqueles surtos de raiva como uma opção de defesa.

Após descer do veículo, Maris caminhou sob aquele céu escuro e com poucas estrelas. Depois de dezessete passos, ela avistou Francis ao lado do gazebo digitando algo no celular.

Maris aproximou-se silenciosamente dele e sussurrou:

- Perdoe-me o atraso.

Ela assistiu Francis guardar o celular no bolso frontal de sua jeans e oferecer o melhor sorriso. Maris sentiu uma sensação diferente ao vê-lo sorrir, ele trouxe um sentimento que a mesma havera esquecido por muito tempo.

Naquela noite fria, ambos sentara-se em uma mesa para dois e pediram dois fast-food para comer enquanto conversavam. Maris optou por um hot-dog e um suco de frutas vermelhas e ele solicitou um hambúrguer e uma coca-cola.

- De onde você vem, Francis?

Silêncio.

Maris pensou que houvesse dito algo que não deveria, mas ele tinha um olhar que transparecia estar vivendo um momento nostálgico. Ela não soube os motivos que a levaram sentir suas bochechas queimar sob o olhar de Francis.

O barulho do vento balançando as folhas das árvores fez Maris voltar a realidade e para disfarçar o rubor em sua face, bebeu um gole do suco. Mas ele continuava a olhando com ternura e isso a fazia criar perguntas e respostas sem sentido.

- Por favor, continue pronunciando meu nome. - disse Francis. - Quando ele sai da sua boca... da sua voz... - ele fez uma pausa. - Traz boas lembranças do meu passado. - acrescentou.

- Sinto que você não possui muitas recordações bonitas.

- Minha vida sempre foi complicada. - disse Francis. - Abandonei tudo para recomeçar do zero. - concluiu.

Maris obteve a certeza de que ele fugiu da cidade antiga e das pessoas que conheceu. Mas ela queria saber mais, Francis ainda era o enigma que desejava decifrar.

E se eu pudesse fugir também? Maris questionou a si mesma a possibilidade de fazer uma viagem para qualquer lugar que lhe trouxesse paz para alma e mente. Ela queria curar aquelas cicatrizes internas e permanecer no ambiente mais silencioso que lhe tirasse o fôlego.

- Agora me diga algo sobre os monstros em sua mente. - ele fez uma pausa. - Você disse que iria contar-me a história deles. - acrescentou.

Maris sorriu.

- Há um coração que no início batia aceleradamente e com fervor. - disse Maris. - Mas pessoa por pessoa o quebrou e ao ser reconstruído diversas vezes, ele só consegue bater devagar, o suficiente para bombear sangue. - concluiu.

- E o monstro? - questionou Francis.

- Ele está adormecido. - respondeu. - Aguardando por alguém que aqueça o coração e o faça bater de forma descompassada. - concluiu.

Maris não pressentia dar seu coração a outra pessoa moldá-lo e depois destruí-lo. Ela sabia que não havia alguém naquele mundo que desejasse pega-lo com ambas mãos apenas para compreender porque estava machucando e batendo devagar.

Naquele momento, Francis percebeu que ela não estava apenas triste, mas rasgada em pedaços e fraca o suficiente para tentar gostar de uma pessoa. Ao notar a mão de Maris livre sobre a mesa de madeira, ele a segurou e com as íris fixas nos olhos dela, sussurrou:

- Eu não serei mais uma pessoa a passar por sua vida.

Silêncio.

Por que estou tão surpresa? Questionou Maris enquanto pensava que ele estava zombando de suas palavras. Mas ao puxar sua mão para longe dos dedos de Francis, sentiu a firmeza do toque dele sobre o dorso e perguntou:

- Por que está interessado?

- Porque encontrei alguém que estive procurando desde que fugi de quem eu costumava ser.

- Há uma música que diz: tome meu passado e tome meus pecados como um veleiro vazio toma o vento e cure... me cure. - disse Maris. - Você está pronto para fazer isso por alguém que não conhece? - questionou.

Silêncio.

- É melhor eu ficar apenas com sua mente e sua mão no momento. - respondeu. - Depois avançamos para mais além. - acrescentou.

Maris sorriu.

Ela optou se divertir aquela noite com Francis e jogar conversa fora como se fosse vizinhos e estivem jogando cartas. Porém, Maris havera esquecido das palavras da cigana e mal imaginava que ele poderia ser o homem que aquela mulher mencionou na profecia.

Todos somos ladrões, e sempre roubamos partes das pessoas e depois partimos. Pensou Maris enquanto imaginava quantas partes de si mesma foram levadas pelas pessoas que não costumava ver no cotidiano.

- Conte-me mais, fantasma. - disse Francis.

Maris retirou sua mão debaixo da dele e levantou-se da mesa rapidamente e disse:

- Deixe meus segredos em paz.

Francis ficou confuso com a reação dela e também levantou-se da mesa. Antes que Maris pudesse virar-se para partir, ele a segurou pelo pulso esquerdo e sussurrou:

- Mas...

- Meus pensamentos não foram feitos para você saber. - ela o interrompeu.

Ambos estavam no lado frio e escuro como se estivessem no término de um relacionamento, e quanto mais ele permanecesse de costas para o sol como Maris, sabia que não era destemido como a mesma. Francis não queria mais lembra do passado e nem tampouco permitiria que ela trouxesse o pretérito de volta.

Eu não quero tornar-me um eco. Pensou Maris sob aquele olhar terno que a puxava para baixo das ondas de um oceano escuro. Ela sabia que o ecos desapreciam com o tempo e desejava que Francis a levasse para um lugar tranquilo e mostrasse que seria diferente.

Quando Maris partiu antes que sua mente perversa pintasse imagens de uma guerra de corações em sua cabeça, ele olhou para baixo e percebeu que a pulseira dela havera arrebentado. Francis abaixo-se para pegar a bijuteria e ao levantar os olhos, ela encontrava-se adentrando em um carro.

É tarde de mais. Pensou Francis enquanto imaginava que poderia ter feito ou pedido que ela ficasse e conversarem sobre o assunto. Mas até mesmo os sussurros que o acompanhavam constantemente desapareceram, e mais uma vez, ele encontrou-se sozinho.

Amaldiçoada - Coração EternoOnde histórias criam vida. Descubra agora