Capítulo V: Um Anjo em Marlon

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Hammar

     Partiram rumo a Ínsula de Marlon no frio da madrugada, era lua nova e a face brilhante da deusa da noite estava virada para longe da terra, deixando tudo num breu ainda mais profundo. O grupo itinerante voava por cima das nuvens cinzentas, usando mascaras de couro conectadas a tubos de oxigênio para poderem respirar no ambiente rarefeito. No total eram cinco pessoas e três dragões na jornada.

     A ideia de ir pelo mar fora rapidamente descartada, demandaria muito tempo e a travessia poderia ser demasiadamente perigosa, então foram pelo ar, assim como os Lisserod faziam. Aronnis ia na frente, sozinho, comandando sua dragoa escarlate de nome Rubi, atrás dele ia Hammar que levava Lenna consigo em Aurora e por fim, montados num dragão verde esmeralda de porte mediano, estavam Lorde Eliazer Arnes, um grande entusiasta da área da ciência e um notável amante de aventura, grande amigo de Aronnis, e Lady Bárbara Arnes, sua irmã mais jovem, cuja aparentemente Lorde Arnes fora obrigado a levar consigo.

     Chegaram antes que o sol nascesse, no início do crepúsculo, onde o manto soturno ainda os cobria apesar de suas nuances já levemente avermelhadas. A ilha parceria exuberante mesmo ao longe e sob pouca luminosidade, a vegetação era abundante e a costa, magnífica, a vista era verdadeiramente monumental. Pousaram num campo aberto entre a mata densa, armaram acampamento e se acomodaram em suas respectivas tendas. O alojamento era formado por cinco barracas individuais dispostas num círculo onde futuramente haveria de ter uma fogueira em seu centro. Os dragões Lisserod permaneciam a todo tempo vigilantes ao redor, prostrados como gatos sobre a grama verde.

     Posteriormente a edificação do acampamento, todos os viajantes haviam se retirado para descansar em suas barracas após a longa viagem. Decidiram por explorar as maravilhas de Marlon em outro momento, onde estivessem revigorados. Com exceção de Hammar. O jovem, inquieto pela excitação, mal conseguia fechar os olhos, ansiava por desbravar a ilha e o faria sozinho enquanto seus companheiros de viagem aproveitavam o repouso; teria a noite inteira para dormir assim que o sol se pusesse novamente.

     Ao sair de sua tenda, tudo se encontrava excepcionalmente calmo. O sol da manhã pairava ameno no céu e uma brisa plena e reconfortante envolvia o ambiente. Rubi e Etton, o dragão verde esmeralda que trouxera os Arnes, dormiam enquanto Aurora permanecia vigilante, eles estavam revezando. Dragões eram seres extremamente inteligentes, ao contrário do imaginário popular que insistia em apontá-los como feras inconscientes tal qual qualquer monstro. Eles eram espertos, sagazes e Hammar poderia jurar que eles tinham uma língua única somente deles. Acima de tudo, eram sensíveis, conseguiam se conectar as emoções humanas como nenhum outro animal parecia ser capaz de fazer, "seja sábio como um dragão", esse era um lema Lisserod.

     Aurora reclamou ao ver Hammar passar por ele rumo a mata densa, o acompanhando e tentando o impedir de seguir.

     — Calma, amigão, eu só vou... averiguar o terreno. Volto antes que possa perceber. Agora seja um bom menino e fique aqui, sim?

     Hammar então adentrou na selva para o completo descontentamento de seu dragão que bufava mediante aos seus passos. O jovem estava munido apenas de uma sacola de lona amarrada a sua cintura e uma facão afiado.

     Marlon era ainda mais bela do que Hammar poderia imaginar, tudo naquele lugar emanava poesia aos olhos do jovem. As copas das árvores dançavam ao vento e cantavam junto aos pássaros tropicais, flores de todas as cores e formatos se espalhavam por cada metro da vegetação, formando um carnaval de aromas e sensações, tudo era majestoso e intocado, quase divino. Após alguns minutos de caminhada, o jovem nobre encontrou um riacho límpido que corria por dentro da ilha, tendo sua atenção rapidamente chamada por grandes pegadas estranhas e enegrecidas que seguiam no solo submerso, decidindo então seguir seu percurso por alguns metros, prestando o máximo de atenção em tudo a sua volta, afim de não perder um só detalhe daquela beleza ou do rastro que seguia pelo rio.

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