AlyterO jovem syrenio nadava e rodopiava entre o fluxo fluvial ameno de Malů em mais um dia de pequenas explorações na ilha. Procurava por seus irmãos e irmãs de água doce, tentando achar algum motivo plausível pelo qual os syrenios dos rios e lagoas de Malů teriam sumido. Não poderiam ter migrado para outro lugar tendo em vista de que não resistiriam a salinidade do oceano, ao contrário dos seres do mar que podiam transitar em água doce, syrenios continentais, como eram conhecidos os seres que viviam nos rios e lagoas, eram consideravelmente sensíveis e tendiam a ter uma natureza mais estática, raramente migrando para outras redes fluviais. "Teriam eles se exterminado por conta própria?" Perguntava-se o jovem ser do mar.
Entre contravoltas e cambalhotas d'água, Alyter precisara ir a superfície para poder respirar melhor, foi então que ele encontrou a confluência entre o rio e o lago que vira no dia em que conhecera o ser velho e estranho que havia o presenteado com uma concha de ostra prateada cuja guardava o tal fruto "daleko", tão estranho quanto o velho que o entregara. O jovem syrenio ainda carregava o colar de ostra em seu pescoço e lembrava que o ancião desconhecido havia o alertado para não nadar naquelas águas, o idoso havia falado alguma coisa sobre perigo, todavia, aquele pequeno pedaço azul e límpido parecia chamar incessantemente por Alyter, que então não resistira, indo de encontro a lagoa.
Ao chegar no corpo d'água calmo e cerúleo, o syrenio rapidamente notou uma rocha incomum no leito do lago, era escura e aparentava ser demasiado gosmenta, uma mancha negra dentre o azul tênue. Alyter porém não se atrevera a chegar perto, ignorando o bargau tenebroso e emergindo na superfície do lago. O corpo d'água tinha um diâmetro pequeno, contudo, a beleza que o compunha era estonteante. Uma cachoeira desaguava no céu d'água formando um pequeno arco-íris ao se debruçar sobre a piscina e a mata virgem e colorida cercava os arredores, oscilando ao vento e esbanjando puro encanto.
Alyter se aproximou de um rochedo em meio ao lago no intento de se sentar sobre sobre ele, foi então que o jovem ser do mar pôde ver gravuras eternizadas na pedra, remetiam a uma tradição syrenia verbal totalmente desconhecida pelo jovem, haviam escrituras e desenhos esculpidos na rocha, a gravura em questão representava vários seres aquáticos reunidos ao redor da cachoeira, tudo aquilo devia pertencer aos povos que um dia habitaram aquelas águas, mas ali, naquele momento, não havia ninguém, tudo estava silencioso. Alyter estava só, num lugar que outrora parecia ser banhado pela alegria, era desolante. O ser do mar enfim prostrou-se sobre a rocha e passou a cantar para a memória de quem quer que um dia tenha passado por ali.
A cadência melancólica de seu canto foi interrompida por um barulho esfacelado de um galho que se partira pelo pisar de algo, ou alguém. Alyter olhou para trás, procurando pela fonte do barulho, foi naquele momento que seu olhos se encontraram com os dele, castanhos e escuros, eram os olhos de um humano. Um homem encontrava-se na margem do lago, espreitando Alyter sorrateiramente, esperando pela oportunidade perfeita para capturá-lo, o jovem syrenio não tinha a menor duvida quanto a isso. Sem aviso prévio, o temor inundou o peito do ser do mar que rapidamente mergulhou na água para sair o mais rápido possível dali, precisava avisar o outros.
No momento em que Alyter iria adentrar nas ramificações fluviais de Malů, o ser humano que o espionava jogou-se em sua frente, ficando entre o ser do mar e o labirinto d'água. Alyter então emergiu até a altura de seus quadris, encarando então a face daquele que o atormentava. O jovem ser do mar estava cansado da ameaça humana, de tudo o que seres como aquele já haviam causado. O ódio pulsava fortemente em seu peito, sua respiração estava descompassada como as ondas do mar revolto e suas garras pularam para foram como pequenas lanças afiadas. Alyter queria rasgar aquele ser com as próprias mãos, mostrá-lo que ele jamais deveria ter invadido sua casa.
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A Dança das Marés
RomanceUm jovem ser do mar valente e obstinado e um nobre rapaz de alma poética e coração aventureiro terão suas vidas entrelaçadas pela ironia do destino. Alyter é um belo tritão que, num ato de coragem, abandonou sua forma marinha para salvar a irmã de u...