02 chama da esperança

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   Era por volta das quatro da tarde quando os cavaleiros templários se reuniram para o funeral dos quinze soldados que faleceram em sua última missão ao ataque do pequeno vilarejo. No céu, nuvens cinzas derramavam uma pequena garoa, ocultando as lágrimas dos parentes que estavam em volta de cada caixão. A grama encharcada amolecia sob os pés, e o som da chuva caindo misturava-se com os soluços contidos dos enlutados. Um homem velho, de roupas pretas e longos cabelos grisalhos, caminhou até os caixões. Sua presença impunha respeito. Ao vê-lo chegar, os cavaleiros abaixaram as cabeças e abriram espaço para ele passar. Esse homem era ninguém menos que o padre Magnus, o porta-voz de Deus, o homem mais sábio e respeitado, tão respeitado quanto o próprio rei, se não mais.

   Donovan encarou o chão, evitando o contato visual. A culpa o corroía, atribuindo a Magnus a responsabilidade pelas mortes de seus companheiros, já que foi ele quem ordenou o ataque à vila. Ao lado dele, Barnaby fechou os olhos e abaixou a cabeça ao ver o padre parado em frente aos túmulos, demonstrando respeito. Magnus olhou para o céu com um olhar triste e suspirou profundamente. Todos o observavam em silêncio.
— Esses homens são guerreiros de Deus. Já completaram seu propósito de vida e agora estão ao lado do Pai — disse Magnus, erguendo o punho esquerdo e colocando a mão direita no coração.
— Não para nós, Senhor, mas para a glória do Seu nome!

   Os olhos dos cavaleiros e dos aldeões brilharam ao ouvir as palavras do padre. O lema sagrado dos cavaleiros templários ecoava em seus corações, trazendo um consolo momentâneo. Magnus então caminhou até as famílias dos cavaleiros falecidos, encarando-os com um olhar empático e acolhedor.
— Não se deixem levar pela tristeza. Eles estão em um lugar melhor, e um dia vocês os encontrarão também. Ao invés disso, sorriam. Eles com certeza tornaram o mundo melhor!

   As palavras de Magnus ressoaram, trazendo um pouco de paz aos corações aflitos. Donovan sentiu um misto de raiva e resignação, enquanto Barnaby apertava os punhos, tentando encontrar consolo nas palavras do padre. Então, Magnus se virou e saiu andando, deixando os familiares dos soldados falecidos com uma sensação de alívio, acreditando que um dia encontrariam seus entes queridos no paraíso.

   Paralelamente, em um país desconhecido, Moyra estava sentada em cima de uma pedra, olhando para o chão com um olhar perdido e deprimido, ainda sentindo a perda de sua mãe. Adelly estava próxima a ela, em frente a uma fogueira que havia feito com sua magia, também pensando na morte de sua mãe. As duas se mantinham em silêncio, enquanto o vento balançava as árvores da floresta negra, coberta por uma névoa densa. O crepitar das chamas e o murmúrio do vento eram os únicos sons que quebravam a quietude sombria da noite. Adelly não conseguia parar de pensar nas últimas palavras de sua mãe:
   "viver". Pensar nisso feria Adelly intensamente, assombrando-a. Após quarenta minutos, Adelly se cansou de se lamentar e caminhou até Moyra, notando sua expressão séria e olhar determinado.
— Vamos vingar a morte das nossas mães! — afirmou Moyra com um olhar afiado e centrado, demonstrando ódio. Adelly franziu as sobrancelhas enquanto a encarava, uma mistura de dor e dúvida refletida em seus olhos.
— E como você pretende fazer isso? Deseja matá-los? Não foi você que disse que violência só gera mais violência?!
— Isso foi antes de assassinarem minha mãe! Eu quero justiça! — Moyra respondeu, sua voz tremendo de raiva e desespero. Adelly a encarou com uma expressão sombria, seus olhos parecendo penetrar na alma da amiga.
— Não... Você não quer justiça. Você quer vingança.

   Ela se virou de costas e caminhou em direção à neblina, sua silhueta desaparecendo gradualmente na bruma espessa.
— Nós teremos nossa vingança... Isso eu te prometo!
   Moyra, ao perceber que estava com o amuleto de sua mãe no pescoço, derramou lágrimas de gratidão por Adelly ter trazido o amuleto de volta. Ela segurou o amuleto com força, sentindo uma conexão profunda com sua mãe.
   "Obrigada, Adelly!" pensou ela, sentindo que de agora em diante, Adelly seria sua amiga. Após isso, ela se levantou e correu atrás de Adelly, também sumindo na neblina. O vento sussurrava entre as árvores, como se aprovasse a nova determinação das duas jovens.

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