O Terceiro Coração (Romance Gay)

1. Canção nos Jardins

Josh encarava a pesada porta de madeira escura à sua frente, as pernas trêmulas. Ele respirou fundo uma vez, contando as batidas aceleradas do próprio coração. O garoto apertava os punhos cerrados com tanta força que as mãos suadas doíam.

Preciso fazer isso, tem que ser agora!

Algo vibrou de súbito no bolso de suas calças. Ele apanhou o celular com os dedos trêmulos e seu coração se aqueceu ao perceber que era uma mensagem de Thomas.

"E então? Como foi? Está tudo bem?"

Josh suspirou antes de digitar a resposta.

"Ainda não entrei. Estou tentando criar coragem"

"Tem certeza de que não quer que eu entre como você? Eu posso chegar aí em um minuto se você quiser."

"Não" digitou o garoto rapidamente "quero fazer isso sozinho"

A resposta demorou um minuto para vir.

"Tudo bem, eu entendo. Te amo, tá bom?"

"Também te amo".

Josh enfiou o celular outra vez no bolso. Ele não sabia que ler aquilo era tudo o que precisava no momento.

É agora ou nunca!

Sem parar para pensar uma última vez, o garoto girou a maçaneta.

***

Canção nos Jardins

O vento frio do início de outono uivava nas janelas de cada quarto da imensa Wundhart School.

A manhã trazia a luminosidade opaca do sol que tocava de leve os enormes jardins floridos da área externa bem como as quadras de esportes amplas, refletindo nas paredes azul e branco do imponente prédio trabalhado em arquitetura moderna.

Josh espiava pela janela de seu dormitório no quarto andar sentado no peitoril com as mãos repousando sobre o teclado do notebook em seu colo. A paisagem era bela e o inspirava a escrever. O garoto estava tentando desesperadamente encontrar um tema diferente sobre o qual escrever, já que seus últimos versos carregavam apenas tristeza, frustração e solidão.

Com um suspiro, o rapaz se levantou e pôs-se a caminhar em círculos pelo quarto, era um hábito para quando queria pensar em alguma coisa. Ele tinha bastante espaço para fazê-lo, uma vez que o cômodo era bastante espaçoso, preenchido por quatro camas, dois armários e algumas mesinhas de cabeceira.

Josh encarou a única outra cama, além de sua própria que tinha um dono. O rapaz imaginou quanto Javier ainda demoraria para voltar de sua corrida matinal. A disposição de seu colega de quarto era assustadoramente admirável.

As duas outras camas também já estavam reservadas, porém seus respectivos donos, futuros colegas de quarto, chegariam apenas no dia seguinte para o início das aulas na segunda-feira.

Josh bufou ao se lembrar que não tivera o mesmo direito de escolha sobre sua vinda para Wundhart, seus pais simplesmente o mandaram para aquele lugar o mais rápido que conseguiram sem direito a controvérsias, e os motivos, apesar de velados, não eram nada justos. Era frustrante pensar que havia apenas um mês e meio, sua vida era praticamente perfeita.

Um nó começou a se formar na garganta do rapaz e ele se surpreendeu ao pegar-se sorrindo.

É, parece que não vou conseguir escrever sobre outro tema tão cedo.