Fita 4 - Lado B

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Meu tom alegre ecoou pela sala. Deu voltas e voltas até desaparecer no meio daquela bagunça.

As caixas de antes simplesmente caíram. Imagino que não aguentaram os passos fortes de Godzila de Ji-woo, ao sair.

Meus ombros caem pela exaustão.

Somente de encarar a zona entrava num estado insuportavelmente nostálgico. Onde tinha menos inimigos, mais colegas com sorrisos falsos e a confiança dos superiores.

Era capaz de tudo, tinha permissão e, com ela, a sensação de liberdade. No entanto, tudo se dissipou quando as cortinas abaixaram.

O teatro deles não surtia efeito em mim. Não mais.

A tal liberdade que sentia era uma farsa. Antes todos usavam as malditas máscaras bondosas e sorridentes, por pura educação.

No entanto, seria menos educado demonstrar o desgosto e a insatisfação? Quando ser verdadeiro tornou-se sinônimo de má educação?

Certo que não aplaudia ou agradecia quando me chamavam de vadia e demonstravam sua nítida repulsa...

Exploro silenciosamente as paredes, cada mancha representando um período, um tempo que passou. Que não existe, ia sumindo como uma pintura gasta.

Logo não restaria nada concreto, apenas essa imundice cobrindo lembranças e a resposta de como, um dia, chegara a Fluere.

Mas também nunca lhe dei motivos para ser chamada desta forma. Ninguém a conhecia, ninguém a entendia.

Percorro os dedos pela mesa empoeirada. Meu indicador é manchado pelo cinza, quase preto ‒ baita pesadelo para os alérgicos.

Ninguém sabia quem era Kang Nam-Soon.

Involuntariamente minha mente conturbada se recorda do som engraçado e surpreendentemente afinado que Black fazia ao espirrar.

Não era como o de um gatinho, estava mais para porquinho.

Um porco imundo vestindo a porra de um sobretudo brega, dono de um tom presunçoso que me tirava do serio.

‒ Cretino ‒ xingo baixinho, fechando a mão suja em um punho. Sempre era superior, ninguém chegava aos seus pés.

Enfie a promoção no cu.

‒ O que era para ser isso?

A pergunta me alcançou, afugentando parte do ódio que ardia no peito. Não sabia ao certo se deixou o sentimento frustrante transparecer.

Quase esqueceu a presença da alma. Direciono uma olhadela analítica, ponderando se valeria a pena contar ou não.

Os olhos escuros sondavam o ambiente com demasiado desinteresse. Não se assustou pelo estado de decomposição do lugar, tampouco teve crises alérgicas.

Desço a atenção para a gravata, agora apertada, milimetricamente no centro do terno. Permanecia fresco a maneira abrupta que desfez o nó e parecia perder fôlego.

‒ Era para ser uma representação barata de Seul? ‒ chutou um pedaço de metal. Os ácaros que subiram partiram para o ataque, o fazendo agitar a mão desdenhosamente.

Não sabia o que o levou a reagir assim, como se sufocasse dentro da caixa de metal. Elevadores não eram famosos por agradarem a todos, principalmente por aqueles que sofriam de claustrofobia.

Franzo levemente o cenho.

Mas o homem bem vestido em minha frente não parecia temer lugares fechados e ridicularmente apertados. Sua altura era significativa, o dobro de mim, os ombros largos cobertos pelo tecido escuro de grife.

Você é minha redenção - Ryu SioOnde histórias criam vida. Descubra agora