Fita 9 - Nova Fase

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Fui envolvido pela brisa, nublando meus sentidos, entorpecido.

Minha mente mergulhava no vasto nada, não restando nada além da sensação gélida de um extenso vácuo absorvendo minha essência.

Entreabro os lábios, um suspirar arrancado.

As batidas do peito oscilaram, ecoando bem nos meus ouvidos. Eram marteladas agonizantes, sem espaço de tempo preciso.

Meus movimentos não existem.

Enquanto tenho a visão dominada pela vertigem, não há sinal de nenhum ponto para manter-me fixo. Hora uma corda me puxa para cima, outra...

Pareço cair.

Despencar, sendo mais exato.

O sopro de vida que carregava dançou em minha frente, subindo em forma de fumaça esbranquiçada. Rondou pelos ares por longos segundos.

Tento agarrá-la, mas meus dedos abraçaram o vazio absoluto. O mesmo que abria sua enorme boca e desejava me consumir.

Contrariado, insisto.

Insisto até parecer um boneco infeliz balançando nas cordinhas. Até meus próprios membros congelarem ao lado do corpo e se negarem a me obedecer.

Que tipo de bruxaria é essa?

Pouco a pouco meu corpo começa a elevar, afastado de um chão que não existia. Alguma força maior guiava. Sequer podia comparar com a primeira vez, pois, diferente de quando atravessei o véu naquela imensa esteira...Agora não andava.

Praticamente flutuava.

Uma alma miserável pendurada.

Talvez esse, sim, fosse o meu castigo. Não andar eternamente, mas perder o controle da última coisa que me restou, passando cada minuto consciente disso.

Ciente de que havia perdido.

Minhas escolhas me levaram até aqui. Uma conseqüência terrível, mas não monstruosa a ponto de trazer arrependimento para meu interior.

Entrei em um estado de inércia. Algo sussurrava, bastante além, certificando-se que me mantinha acordado, focado na espécie de cantarolar por trás da imensidão.

A voz mal faz cócegas, não em alguém cuja própria vida tirara com um simples movimento de dedos. Apenas pressionando um gatilho.

Estava á deriva.

Outra vez preso em meu inferno pessoal.

A letra ganha uma suave melodia, acompanhada de notas suaves. Teclas de piano tomaram forma, transformando-se em batidas.

Não próximas de um pulsar, mas sim de um ritmo pouco conhecido. Não era de todo estranho.

Suavizo a visão apertada.

Meus olhos enfim se acostumaram com a escuridão. Em dado momento não soube definir com precisão se permanecia acordado ou em sono profundo.

Arqueio minhas costas subitamente.

A maneira que pressionaram meus pulmões era latejante. Uma chama misteriosa que consumia minha carne e espírito pela força do vento.

Esta mesma brisa, logo virou um lampejar. Carregados de ondas furiosas que se misturavam com os fios negros de meu cabelo.

Calafrios tomam posse de meu âmago, transpassando meus nervos adormecidos. Quase como se alguém respirasse em meu rosto.

Numa tentativa de me acordar, presumi.

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⏰ Última atualização: Feb 21 ⏰

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