A morte não é o fim

695 45 9
                                    

Morrer

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Morrer.

Morrer com dignidade.

Ser digno de algo é a mesma coisa que merecer. No entanto, ninguém deveria merecer morrer, não é?

Morrer é um castigo, uma penalidade da vida para aqueles menos afortunados. É o ponto final de uma longa vida, ou apenas um atropelamento abrupto e repentino que a interrompe.

Quando meus dedos sentiram o gatilho afundar, apenas remeteu a vaga sensação de um peso saindo dos ombros. Um fardo carregado retirado.

A bala atravessou a parte dura do crânio, rompendo ali em um mísero buraco. Deixara uma marca, a lembrança de um fim.

Um fim dado por mim.

Apenas eu tive o poder de terminar com a minha própria vida.

Não foi o maldito destino inexistente ou a porra da Pavel. Fui eu, o único capaz de disparar aquela arma, o último a morrer pelas minhas mãos...

Mesmo que tivesse acabado, não me sentia livre e, o fardo de antes? Transformou-se em chumbo, pesando mais e forçando meu corpo para baixo.

Para baixo aonde? Insistem em perguntar.

A resposta é mais clara do que as águas turvas do Rio Estige. O rio do ódio que escorre pelo submundo, abominando diversas almas.

No desconhecido.

Talvez minha consciência se esvaia antes que consiga identificar para qual lugar me levavam. Não parecia andar por conta própria, era uma sensação próxima de empuxo.

Como se uma energia desprendesse a alma do corpo e cortasse o último resquício de conexão. Algo inexplicável, sem palavras precisas existentes para descrever.

O barulho do puro nada foi interrompido por gotas de água ao longe, abafadas por um cobertor de pele. Em outra situação, consideraria tratar-se de pingos de chuva.

Agora percebo ser o indício de que o fim estava mais próximo.

E, por todos os Deuses existentes, rezava para o Tártaro abrir sua boca monstruosa e me engolir de uma vez.

Mas preces não são atendidas por aqui. Elas são abafadas pelo calor das chamas, antes de queimarem intensamente.

A pequena voz sussurrou como uma promessa fúnebre.

Eu não era uma prece. Nunca fui para ninguém e nunca serei, mas senti um calor assombroso envolver cada partícula, essência ‒ qualquer outra coisa relacionada a isso ‒ do meu ser.

Uma parte de mim sabia que não seria recebida pela barca do Caronte. O Reino dos Mortos não bastava para me receber.

Uma alma condenada como a minha deveria perecer no vazio, nas profundezas da escuridão e solidão eterna.

Eu não estava com medo. Qualquer lugar que mandassem minha alma, não chegaria aos pés do que passei sendo criado por aqueles monstros em armaduras de carne.

Escuridão? Passei no escuro por dias na floresta, caçando restos de animais quando não estava enjaulado numa sala fétida e pressionado a matar pela minha sobrevivência.

Solidão? Perseguia minha existência em forma de praga. Antes de eu conhecê-la...

Assumiu forma de mulher, passando do sentimento solitário para o amargo gosto da traição.

Nenhum fim era digno de mim.

‒ Mas a morte não é o fim.

Sussurrou outra voz desconhecida.

Dessa vez o tom enfraquecido distante adquiriu firmeza e entonação, tornando-se mais presente do que antes.

Mais feminino.

Você é minha redenção - Ryu SioOnde histórias criam vida. Descubra agora