Conflito de personalidades

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Acordei cedo no dia seguinte, olhei para o lençol da cama, ele estava manchado de sangue, sangue que vinha de meus braços, e tudo voltou em minha mente.

Havia cortado meus pulsos de madrugada, não para tirar minha vida, mas para descarregar minha raiva e dor, não entendia realmente como aquilo poderia me ajudar, mas ouvi que as pessoas faziam isso e tentei, era ruim no começo, mas logo tornou-se um vício...Porém, meus reais sentimentos não importavam, ainda teria que ir para a escola e fazer meu teatrinho de boa menina.

Hinamy me mandou uma foto de Jake me traindo, eu sinceramente não dava a mínima importância pra isso, afinal, nosso namoro não passava de uma farsa!

Ao chegar na escola pude notar olhares feios e risadinhas maldosas direcionadas a mim, fui então perguntar para Hinamy o porquê :

- Ei, My, oque está acontecendo?

- Bem...

Antes que ela pudesse falar, Jake e sua "gangue" chegaram:

- Oi ex, não precisa se desculpar, agora entendo que esta seguindo os passos de sua mãe, pena que ela não esta aqui para se orgulhar hahahaha!

Ele se retirou e eu fiquei mais confusa:

- Hinamy, o que está acontecendo?

- Jake mandou um e-mail para todos, dizendo que você o traiu com vários outros, e que aprendeu com sua mãe, pois ele descobriu que ela trabalhava num...

- Num o que?

- Como posso dizer sem ser rude... Num Cabaré!

- Cabaré? Tipo...

- É!

Engoli o choro e fingi estar bem:

- Tudo bem, isso não importa, de qualquer jeito eu sou... F-feliz!

Disse que tinha um compromisso e fui falar com Lucas:

- Oi Lucas, como estão seus machucados?

- Estão doendo, mas todo soldado tem uma lembrança de guerra!

Achei o comentário engraçado, mas estava sem animo para rir, Lucas logo se deu conta e ficou sério:

- E você? Com a morte de sua mãe e agora Jake sendo um idiota, você não esta bem, né?

- Sinceramente, como poderia estar bem com isso?

Eu nunca havia comentado com ele sobre meus cortes, no fundo acho que ele sabia, mas não tinha coragem para me perguntar, assim como eu não teria coragem para responder. Ele deitou minha cabeça em seu colo e fez um cafuné, era uma sensação boa, que só ele consegui me fazer sentir, uma sensação de estar segura e de ser amada.

Passou-se um tempo e eu me levantei, tentei segurar, mas minhas lágrimas caíram sem permissão:

- Parece que o mundo me castiga pelo simples fato da minha existência, eu não pedi para nascer!

Ele se assustou com aquelas palavras, que para mim, foram libertadoras, como se fosse arrancada um corda de meu pescoço!

Lucas me abraçou e enxugou minhas lágrimas, depois liberou doces palavras:

- Você faz toda a diferença em minha vida, se você não existisse, não sei o que faria!

- Mas você é apenas uma pessoa de seis bilhões no mundo!

- E isso já não basta?

- Mas e sobre meus pais? Eles...

- Tendo você em minha vida... Nada mais importa! Eu estarei sempre com você para compensar o que passou com eles, serei sua luz quando estiver na escuridão! E outra, você não faz ideia do quanto eu...

Ele engasgou, como se não pudesse dizer o que queria, foi nesse momento que ele se aproximou e me beijou, um beijo suave e doce, que parecia ser exclusivo dele!

Eu estava flutuando e ao mesmo tempo me perguntando por que ele havia feito aquilo, e também não conseguia entender o que estava sentindo, mas era realmente algo bom!

Ele tomou conta de suas ações, pude perceber que estava envergonhado, e então ele correu para longe me deixando confusa, afinal, ele havia me beijado, então gostava de mim? Mas se gostava, por que correu?

Esse assunto correu em minha mente o dia todo, estava numa certa felicidade, mas também rodeada de confusão!

A escola nos liberou mais cedo, então cheguei em casa antes do esperado. Escutei risos que vinham do quarto de meu pai, nunca o escutei rir daquele jeito, ele parecia feliz! Estava animada, e movida pela curiosidade fui até seu quarto, onde o vi com a empregada aos beijos, poderia dizer onde aquilo iria parar e não quis ficar para ver, acabei correndo para fora de casa sem ser percebida, decidi que voltaria apenas na hora certa!

Quando voltei corri para meu quarto, eu havia caminhado por horas, e só conseguia me sentir mais triste, mas havia um outro pensamento em mim, que desejava a morte de todos aqueles que me fizeram mal! Levantei uma questão: Por que na escola finjo estar tão feliz, mas apenas me sinto vazia? Por que quando chego em casa tenho pensamentos estranhos?

:- Será que eu simplesmente não sou merecedora da vida?

-Seria melhor para todos se eu morresse?

- Acho que devo me matar... Mas não tenho coragem...

Peguei uma faca que deixava escondida na gaveta de minha cômoda e a encarei, me perguntava se aquilo deveria continuar, me cortar doía muito, mas não tanto quanto a dor de meus sentimentos, comparada a esta a dor física era apenas uma pequena distração.

Lembrei-me da primeira vez que cometi esse "pecado", foi a muito tempo atrás, eu estava muito triste, havia levado socos e tapas da empregada novamente, foi quando li uma matéria falando sobre automutilação, logo procurei sobre isso no google, alguns diziam que a dor era descarregada e que era uma boa sensação, peguei uma faca e comecei a tentar, mas estava tremendo muito, com medo da dor, respirei fundo e fiz pequenos cortes, minha consciência começou a pesar e eu não parava de chorar, mas com o tempo o tamanho dos cortes aumentou e eu já não me importava mais!

Ri de minha antiga reação e continuei com os cortes, dessa vez mais curtos, porém mais profundos...

Uma raiva invadiu meu ser:

- Por que eu devo me punir? Os culpados são eles! Vou matar um por um, até não sobrar nada além de órgãos, pele e ossos! Posso até começar pela empregada!

Estava rindo insanamente, quando voltei ao normal:

- Não posso tirar uma vida!

Uma voz surgiu em minha cabeça e tomou conta de mim:

- Claro que posso!

- Não!

Minha cabeça começou a doer, estava explodindo de tantos pensamentos, meu corpo queimava de febre e de ódio, meu coração batia forte em desespero, e eu me perguntava:

- Oque esta acontecendo?

Oque eu sou quando estou sozinha?Onde histórias criam vida. Descubra agora