𝟢𝟤.

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𝖠𝗌𝗁𝗍𝗋𝖺𝗒

— Que merda! — a vagabunda loira grita quando entra na sala. Rue vem logo atrás dela, cada uma com um cara grande as agarrando.

A última a entrar é Olívia. Ela é a única que fica quieta e aceita as ordens do cara que agarra seus braços. Quando passa por mim, me encara fundo.

Talvez não seja o momento certo, mas reparo no qual bonita ela é, até assustada.

Fico puto por ter Rue ter trazido ela até aqui.
Fico puto por ver Olívia assustada.
Fico puto por não conseguir tirar ela dessa merda de situação.

𝖮𝗅𝗂𝗏𝗂𝖺

Um cara careca e com tatuagens na cara anda por toda a sala encarando cada um de nós. Seu olhar é fundo e raivoso. Parece ter sangue nos olhos.
Permaneço intacta e olhando pros próprios pés. Não está nos meus planos fazer com que qualquer um deles memorizem meu rosto.

— Não hesita porra. Tá me ouvindo? — de um segundo pro outro, o tatuado prensa o rosto do homem que Fezco estava conversando contra a parede. Ele geme de dor — Você vem na porra da minha casa, com um moleque de quinze anos, três putas viciadas e com um filha da puta que eu não conheço? — ele me chamou de puta viciada?!

O homem finalmente solta ele.
Ele começa a andar em círculos pela sala. Diz que está em condicional e que não está envolvido em nenhuma atividade ilegal.

— A gente não mexe com quem 'tá em atividade ilegal! — ele aponta pra uma mulher em outro cômodo da casa. Ela está sentada em uma cadeira em frente a uma TV — Olha a Loire ali. Ela não merece passar por isso. — pelo jeito que fala, provavelmente está doente.

Essa mulher, Loire, chama o careca. Ele vai até ela e nos dá alguns segundos de silêncio é pura tortura. Percebo diversos olhares pesados sobre mim, mas não estremeço. Meu corpo está tão duro quanto uma pedra.

Procuro algum olhar que me passe segurança, conforto, mas todos estão assustados demais. Rue e Faye nem disfarçam que estão morrendo de medo. Até Fezco hesita, mas Ashtray não.

Quando olho em seu rosto, Ashtray já está me olhando. Não tira os olhos dos meus nem por um segundo, e eu encontro pelo menos um pingo de esperança de que vai dar tudo certo ali.

𝖠𝗌𝗁𝗍𝗋𝖺𝗒

— Vamos. — ele aponta pra gente — Todos vocês, fiquem pelados, agora mesmo. — é a primeira vez que vejo Olívia vacilar sobre meu olhar. É a primeira vez que olha para o homem. Seu olhar é de desespero.

— Não adianta, gatinha. Você ouviu o que ele disse. Tira a roupa. — o mesmo desgraçado que trouxe Olívia até a sala fala pra ela. Meu sangue ferve. Se estivéssemos em outras circunstâncias, esse cara já estaria morto.

𝖮𝗅𝗂𝗏𝗂𝖺

Ashtray estava pronto pra tirar a roupa, mas o tatuado impediu.
— Você não, cara. Ninguém quer te ver pelado. — ele faz sinal pro cara que me trouxe até qui pega-ló — Pega ele e coloca na porra do armário.

Ashtray tenta fugir de seu toque, mas o homem o pega mesmo assim.Fezco olha pra ele preocupado, mas Ashtray não retribui o olhar. Está olhando pra mim.

— Vai logo, criança.

— Mano, ela é menor de idade. — ele mal termina de falar e recebe uma coronhada. Sua testa começa a sangrar e Ashtray aperta os dentes de dor.

— Eu não sou seu irmão, caralho.

— Por favor cara, ela é menor de idade. — Fezco tenta intervir. Ele permanece com a mesma calma na voz. Quase ajoelho e beijo seus pés em forma de agradecimento.

Tento falar alguma coisa. Se conseguisse falar, pediria para ir embora, diria que quero minha irmã e que não tenho nenhum grampo no meu corpo, mas as palavras não saem.

— Você trouxe uma menor de idade pra cá, merda! — o careca bate a cabeça do homem com nariz quebrado contra a parede. A parece quebra.

Como se fosse uma deixa, Ashtray é levado pro armário com uma arma apontada em sua cabeça. Quando Ashtray sai da sala, me sinto mais vulnerável do que já estou. Mordo minha boca até sair sangue e aperto minhas mãos até ficarem vermelhas.

[...]

Rue foi levada para um banheiro, mas voltou rapidamente. Toda. Encharcada. Faye aceitou tirar sua roupa numa boa, parece até achar engraçado. Fezco e seu amigo também. Como podem levar isso como se fosse algo normal?

Rue permaneceu do meu lado o tempo todo. Senti seu braço tocar no meu a todo momento.

As pessoas dizem "ano novo, vida nova"
Mas eu definitivamente não quero que esse seja o meu novo estilo de vida.

𝖡𝖮𝖱𝖭 𝖳𝖮 𝖣𝖨𝖤 - 𝖺𝗌𝗁𝗍𝗋𝖺𝗒Onde histórias criam vida. Descubra agora