Capítulo 1 - Feira

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Quando cheguei em casa, joguei o que havia sobrado para os porcos, desta vez sem os cuidados que eu costumava tomar. Ainda estava nervosa, meu coração doía e minha respiração não se regulava por nada.

— Comam porquinhos, comam tudo! — Eu dizia meio apreensiva, mas quando vi os três se juntando para comer, era tão fofo que finalmente consegui me acalmar um pouco e suspirar com um sorriso de canto. — Fiquem bem hoje. Eu vou sair com minha mãe! Vocês sabem quanto tempo eu tenho esperado... Eu vou conseguir ajudar.

Por um momento, a preocupação e o medo me deixaram, para que eu pudesse aproveitar o sentimento que eu buscava: liberdade! Eu ia conhecer a cidade afinal de contas. Quantas coisas esperavam para serem descobertas por mim?

Voltei à realidade, correndo para dentro, apenas para pegar meus sapatos, que eram pouco usados por mim, apenas para correr de volta para fora. Com um balde, peguei água da fonte, e lavei meus pés da melhor forma que pude, e que a pressa deixasse. Então, calcei as sapatilhas de couro, que minha mãe havia feito. Tinham a parte da frente aberta e tinha a cor avermelhada no couro. Sempre achei eles chiques demais e nunca tive motivo para usar, até hoje.

Amarrei eles na lateral e sai correndo, percebendo que era menos doloroso correr de sapato do que descalça. Eu segui o caminho que uma vez havia sido proibido para mim, o caminho para a cidade. Meus olhos brilharam, e meu coração parecia querer saltar para fora. Ao longe, pude ver minha mãe, ela estava me esperando.

Parte dela parecia desapontada, mas eu sabia o motivo: ela esperava que eu mudasse de ideia, e não aparecesse. Me perguntava sempre, o que ela tanto temia? Por que minha ida para a cidade causa tanta dor a ela? Quando em outros dias, sempre que perguntava a ela esses motivos, a resposta era a mesma: “Um dia você entenderá.” Enquanto o papai dizia: “Precisamos ter cuidado, pois, seu irmão como General de guerra tem muitos inimigos.”

A frase do papai era verdade, mas não passava sinceridade. Eu conseguia saber quando ele estava mentindo, e essa era uma das ocasiões. De volta ao agora:

Quando me aproximei de minha mãe, ela tinha um sorriso no rosto. Diferente do sorriso que tinha sempre que chegava em casa depois de um longo dia de trabalho, mas dava para ver que estava se esforçando para se manter para cima. Ela me ajudou a subir na carroça, ao seu lado.

— Pronta? — Aquela perguntava era um claro sinal de alguém que queria que a outra mudasse de ideia.

— Nunca estive tão pronta, mamãe. — O sorriso em meu rosto era evidente. Eu não daria para trás agora, de forma alguma.

Ela respirou fundo, acariciando minha cabeça e então voltando a segurar as rédeas da carruagem, fomos para a cidade.

A viagem não demorou muito, ou pelo menos não deveria demorar, o problema era que minha mãe não parava de repetir as mesmas regras, fora os avisos extras de cuidado, o que só fazia o caminho parecer maior. E a paisagem quase não dava para distinguir se estamos de fato indo para qualquer lugar. As árvores permaneciam grandes, mostrando que a floresta era ainda maior do que eu sabia ou que eu imaginava. Saímos e entramos em bifurcações, e cada vez parecia mais que estávamos chegando, com o solo ficando mais desgastado, mostrando que era um caminho muito utilizado.

Uma hora de viagem nos fez chegar na cidade, quase atrasadas. Acordamos muito cedo todos os dias apenas para minha mãe conseguir chegar ali antes das 6:30. Ela não montava uma barraca só para ela, ficava junto de uma já conhecida, em parceria com uma mulher que cobrava pouco pelo local.

Agora, enquanto nos aproximávamos da cidade, eu a via crescendo. As muralhas se tornavam ainda maiores e mais intimidantes. Os arqueiros, que ficavam lá em cima, eram assustadores. E aqueles guardas que ficavam na entrada, também. Não dava para ver nada que tinha lá dentro ainda, pois a nossa frente tinha uma fila muito grande esperando os guardas liberarem.

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⏰ Última atualização: Jan 05 ⏰

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As Crônicas de Prata: A Queda Do ReinoOnde histórias criam vida. Descubra agora