21 de novembro de 2018 - Antártida Oriental;
04h23min da madrugada.
O Sol irradiava sobre a brancura cegante e infinita. Máquinas gigantescas operavam tão incessantemente quanto sua potente luz. Contudo, ao mesmo tempo, o calor da viva estrela também era impotente de uma forma patética, pois não importava sua intensidade, o ar continuava gélido e o solo aterrado por uma profunda camada de neve e gelo de mais de dois quilômetros de espessura. Isso não impedia, entretanto, aqueles homens de continuarem seu trabalho árduo, protegidos com grossos trajes especiais e óculos escuros.
Enquanto a loucura das máquinas dominava o cenário afora, Arnold Coland, o futuro General da base em construção, se encontrava aconchegado em sua cama, profundamente adormecido, após quase duas noites em claro. Sua administração na base nem ao menos começara, mas já lhe rendia longas horas de trabalho. Aquela região foi escolhida para transformar-se em uma das maiores bases de pesquisas científicas existentes. Sua ansiedade para sua finalização era enorme, mais pelo fato de desejar o alívio de não precisar mandar relatórios e mais relatórios, reler documentos, assinar, pedir assinaturas e mais tantas outras coisas que exigiam interrupções em suas horas preciosas de sono.
Apesar de implorar ao destino para poder descansar em paz por uns instantes, não foi escutado. Acordou agoniado, encolhendo os ombros, ao escutar o alarme do telefone, o qual indicava algum chamado de emergência. Suspirando de frustração, sem levantar da cama, apertou um botão para atendê-lo, dizendo em seu costumeiro tom autoritário:
- General Arnold Coland na escuta.
- Senhor... - A voz de um rapaz jovem respondeu do outro lado. - Temos um problema. Dos grandes.
- Qual o problema? - Esfregou os olhos, que ardiam e lacrimejavam de sono.
- O Dr. Trelawney está convocando o senhor no laboratório.
- Diga ao doutor para aguardar cinco minutos.
- Sim, senhor.
Desligou o telefone apertando novamente o botão. Arranjando forças de onde não tinha, levantou, vestiu-se em meio minuto e saiu andando o mais rápido que conseguiu.
A estalagem improvisada era como uma espécie de hotel em formato de cubo. Havia quartos suficientes para abrigar toda a equipe envolvida e, em seu centro, localizava-se alguns laboratórios, onde, entre eles, havia um destinado especialmente ao cientista-chefe da operação, o Dr. Trelawney. Dirigiu-se ao laboratório do doutor, encontrando-o inquieto, encostado à mesa no centro do cômodo com as mãos enfiadas no bolso do jaleco. Era um homem altivo, de quarenta e poucos anos. Seus olhos acinzentados encararam o General com nervosismo. Disse-lhe com a preocupação nítida em sua voz:
- Sinto muito incomodá-lo, senhor... Mas encontramos um grave problema.
- Qual o problema?
- Primeiramente, fizemos uma descoberta fantástica. Segundo, infelizmente talvez isso signifique uma interrupção nas escavações.
- O que quer dizer? - Suas sobrancelhas ergueram. Por dentro, remoia a possibilidade de precisar prolongar seu sofrimento.
- Veja o senhor mesmo.
O doutor guiou-o até um balcão, onde estava um computador. Trelawney indicou-lhe a tela do monitor. Exibia ali imagens de uma câmera fixada ao traje de uns dos operadores da escavação. O General tentou conter a expressão intrigada, uma tarefa complicada ao considerar o que estava diante de seus olhos.
O homem olhava para baixo, estava descendo por um elevador de construção. A escavação havia atingido os 1500 metros. Estava aproximando-se cada vez mais das bordas de um buraco de mais ou menos dois metros de diâmetro nas profundezas da cratera que haviam aberto, iluminado por algumas luzes potentes ali colocadas para enxergar seu interior. O buraco revelava a vista aérea de uma espécie de corredor completamente branco. O General mantinha-se em silêncio, apenas assistindo.
O elevador pousou na borda do buraco. O homem agachou-se, aproximando-se o máximo possível. Enfim, disse:
- É uma caverna... De cristais, talvez...?
De um vozerio ao fundo, a voz de uma mulher podia ser escutada:
- Não... Cristais não se formam desse jeito. E estaria quente se fosse cristal.
- Como um túnel desse tamanho se formou nessa profundidade?! Não tem água corrente aqui capaz de fazer isso. - O homem com a câmera exclamou, ainda observando a caverna. - Não é fundo. Tem no máximo dois metros. Vou pular lá dentro.
- Tudo bem, mas vamos garantir e colocar os equipamentos em você. - A mesma mulher disse.
Após o homem vestir-se com os equipamentos de segurança, entre elas uma enorme corrente presa à cintura para ser puxado de volta caso necessário, caminhou até a borda do buraco. Observou-o atentamente por mais alguns segundos e pulou para dentro.
Seu imapcto fez soar um barulho surdo que ecoou pela caverna. Ligou uma lanterna presa ao seu peito e caminhou de modo cauteloso. Com o pouco que podia ver, concluiu que aquilo era um sistema complexo de uma rede de túneis de uma caverna subterrânea. Após longos momentos de tensão e silêncio absoluto, o homem com a câmera comentou:
- As paredes e o teto são gelo, mas... Não faz o menor sentido... - Olhou para cima. Cristais de gelo pontiagudos com até meio metro nasciam do teto estranhamente curvo e regular, como uma bizarra decoração. Quanto mais andava, mais "corredores" encontrava. E maior era a hesitação de seus passos. As paredes eram lisas e retas. Os corredores não tinham a aleatoriedade que uma caverna deveria ter. Eram todos do mesmo tamanho, retos e exatamente iguais. - Isso não é natural... É uma construção.
- O chão, David. Olhe para o chão. Como você não escorregou? - A mulher voltou a falar, porém dessa vez a voz vinha com menor qualidade por sair da escuta que o homem carregava consigo.
- O que...? - David olhou para o chão. Agachou-se para olhá-lo com mais atenção. O chão era rochoso, áspero. Porém, tão perfeito quanto as paredes. - É rochoso. Talvez seja arenito ou algo do tipo.
- Uma caverna de gelo com chão de arenito... Não devia haver arenito aqui.
- Definitivamente alguém construiu esse lugar.
O homem continuou andando. O general e o doutor permaneceram estáticos, assistindo atentamente ao que se passava na tela do monitor. Após muita andança, a escuta de David começou a chiar. As imagens no monitor perdiam gradualmente a qualidade e o vídeo começava a travar. A mulher disse, sua voz saía entrecortada e quase inaudível:
- David vo... Fora... Comunicação... Volte.
- Tudo bem... - David paralisou antes de alcançar o fim de um dos extensos corredores. Sua lanterna iluminava fracamente algo diferente ao longe, caído no chão. - Tem algo aqui.
Com muita cautela, aproximou-se devagar até a luz poder revelar com nitidez a surpresa que a caverna guardou-lhe no interior de suas entranhas.
- Puta merda... - Exclamou, completamente atônito. Via com clareza uma pessoa estirada no chão, caída de lado e de costas para si. Esquecendo-se do cuidado, correu até o sujeito. O vídeo agora passava-se por frames, a cada frame, aproximava-se mais do sujeito.
Um dos frames revelou o estranho. Era um homem de aproximadamente 30 anos. Usava roupas pesadas de pele e seu cabelo ziguezagueava no chão como uma cobra, preso em uma trança comprida e frouxa. Ela chegava mais ou menos em suas coxas. A mulher exclamou:
- David... Ele está...?
David agachou ao lado do homem, puxando-o para o lado e colocando-o de barriga para cima. Colocou a mão sobre seu peito. Tomou um susto. Seu coração batia com tanta rapidez que não sabia como não explodira.
- Puta que o pariu, ele está vivo! Merda, ele está vivo!
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Caso EX9-19B - O Ultimato
Science FictionUm homem é encontrado inconsciente em uma construção subterrânea na Antártica, sendo imediatamente socorrido e levado para a Área 51. A Dra. Perry, uma pneumologista de absoluto sucesso, é convocada para participar da operação e estudar o curioso ho...