Capítulo I: A Carta

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20 de fevereiro de 2019 - Lockhart, Texas;

16h15min da tarde.

Inferno. É como eu me sinto. No inferno.

Mas vamos, Chloe Perry Winters, você escolheu isso, não é?

Escolheu ser pneumologista. Escolheu casar com um idiota. Escolheu morar em uma cidade minúscula e fazer uma viagem todo dia para um hospital lá no quinto dos infernos.

Você escolheu não escutar a Peny. Várias vezes.

Ah, mas vamos, Perry. Você é uma renomada pneumologista do Texas. Do Texas. Que ótima escolha de lugar. Mas pelo menos renomada...

Você é a única médica da área presente num raio de consideráveis quilômetros. Por isso, nunca me falta trabalho. Recebo um ótimo salário, minha carreira é bem sucedida, já escrevi livros e participei de eventos e conferências... Tenho um carro bom e uma casa ótima, aconchegante e de tamanho perfeito. Tenho uma amiga maravilhosa, Penélope Smith, e um marido... Bom, eu tenho um marido.

Vida perfeita. É isso. Sua vida é perfeita.

Sem motivos para explodir de estresse.

É com essa tentativa miserável de pensamentos positivos que enfim chego em casa e estaciono o veículo na garagem. Desço do carro e entro em casa.

A casa é realmente aconchegante, mas não luxuosa. Tem apenas dois andares, um sótão e um porão. No primeiro andar, a entrada é um pequeno hall. À frente dele, fica a escada para o segundo andar. À esquerda, uma passagem para a sala de jantar e, à direita, uma passagem para a sala. Na sala de jantar, na parede ao fundo, à direita, está a passagem para a cozinha. A cozinha tem uma porta para o quintal de trás e uma passagem para a sala. Na sala, uma porta para um banheiro.

No andar de cima, há um pequeno corredor com três portas. A porta localizada no fim é a de um segundo banheiro, maior do que o do andar inferior por conter uma banheira. No andar abaixo, o banheiro possui apenas ducha. A porta à esquerda era a do quarto. À direita, a porta do meu escritório.

Assim que piso os pés dentro de casa, escuto o barulho da TV. Caminho para a sala e - olha que surpresa! Quem poderia adivinhar? - encontro Kevin sentado no sofá, com a cara fixa no celular e escutando a TV. Escutando, não assistindo. Ele escutava as novelas como se fosse em um rádio. E quem paga a conta de energia depois? Claro que é a tonta aqui.

Mas eu também tinha culpa de não exigir muito dele. Por outro lado, como vou exigir algo de alguém que tem o QI de uma samambaia? Pelo menos ele era bonito. Loirinho do olho azul e corpo de atleta. Pelo menos.

Acho que ele nem nota que cheguei, porque nem diz nada. Respiro muito fundo, sentindo minha cabeça latejar. Talvez conversar com ele ajudasse a diminuir o estresse...

Me aproximo e me sento ao seu lado.

- Oi, meu amor! Cheguei. O que está fazendo?

- Perry, eu estou ocupado. Depois converso com você, OK?

Babaca. Respiro fundo outra vez.

Não vou me alterar, não vou.

- Mas o que tem de tão importante aí? - Abraço o braço de Kevin e repouso a cabeça em seu ombro, tentando ver a tela do celular.

Não pude conter a decepção em meu rosto. Era um design para a propaganda da academia da qual ele era dono. Em letras brancas, com fonte chamativa, lia-se "Uma vida melhor é uma vida saudável!". Lembro de ter visto essa mesma frase no rótulo de uma bolacha diet.

Caso EX9-19B - O UltimatoOnde histórias criam vida. Descubra agora