27 de fevereiro de 2019 — Lockhart, Texas;
17h30 min da tarde.
Isso foi uma péssima ideia. Realmente péssima.
Penélope quis porque quis vir para minha casa no caso de algo acontecer. Em outras palavras, agora estamos eu, Peny e Kevin na sala de estar, sentados no sofá. Meu marido com uma expressão mal humorada, minha amiga puta da vida e eu querendo estrangular os dois.
Que clima agradável do cacete!
— A gente podia ver um programa legal, né? — Peny reclama... Da novela do Kevin.
Vejo dois olhos azuis muito claros fitando Peny com um ar mortal. Ele diz, num tom ácido:
— Minha novela é um programa legal.
— Vai fazer um tricô, vovó. — Ela revida. Eu preciso virar o rosto para conseguir esconder o riso contido.
Kevin rosna.
— Vai alisar a crina, cavala!
— O QUE DISSE?!
Tomo um leve susto quando a vejo pular do sofá, colocando-se em pé em um segundo. Kevin quase faz o mesmo, mas sua tentativa de difamar Peny é cortada por um trovão estrondoso e um clarão causado por um raio. Ele grita agudo de susto e eu dou um leve pulinho.
O tempo lá fora combina perfeitamente com o clima aqui dentro. Está caindo o céu. Uma chuva torrencial faz um barulho tremendo e o vento balança com violência as árvores na rua. Os trovões abafam de vez em quando o xingamento dos dois, contudo também nos assustam e fazem Kevin se tremer inteiro. Peny sorri com malícia.
— Está com medinho da chuva, Kevin?
— Não enche! — Ele exclama, pegando uma almofada e abraçando.
— Bom... Ok... Vamos voltar ao foco por alguns instantes. Vai anoitecer daqui a pouco tempo e ainda não aconteceu nada.
— Sim... — Respiro fundo, aliviada e agoniada ao mesmo tempo. — Vamos esperar só mais um pouco. Se não acontecer nada, estou convencida de que era só uma idiotice.
Ficamos mais um tempo na sala, apenas esperando. A chuva continuava feroz lá fora, a novela permanecia desinteressante e meu alívio era cada vez maior. Quando as dezoito horas se aproximavam, estava tão tranquila quanto jamais estive. Apesar de terem acontecido coisas que não podiam ser exatamente explicadas, poderia ser apenas paranoia, não é? Vamos apenas aceitar essa conclusão por um instante... E esquecer tudo.
Deito minha cabeça no ombro de Kevin e fecho os olhos. Sinto seu braço forte me envolvendo carinhosamente. Um cansaço lentamente toma conta de mim. Todo o estresse, o medo, essa situação, no geral, tem me deixado esgotada. Estar tensa o tempo todo é enlouquecedor. Preciso relaxar agora... Afinal, descobriu-se que não vai acontecer nada. Eu posso dormir tranquila e sossegada no ombro do meu Kevin...
A campainha toca.
Ergo a cabeça lentamente e abro os olhos. Não consigo esboçar uma reação certa, mas meus sentidos se perdem por um instante. Meu coração dispara tão subitamente que sinto falta de ar. Um calafrio percorre meu corpo. Estremeço e sinto um suor gelado umedecer as palmas das minhas mãos.
Pode ter sido impressão. Coisa da minha cabeça, uma alucinação auditiva... Olho para os dois na esperança de confirmar essa hipótese, mas eles estão tão apavorados quanto eu.
Alguém tocou a campainha. E alguém vai ter que atender. Engulo em seco e encaro cada um, arriscando perguntar:
— Quem atende...?
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Caso EX9-19B - O Ultimato
Science FictionUm homem é encontrado inconsciente em uma construção subterrânea na Antártica, sendo imediatamente socorrido e levado para a Área 51. A Dra. Perry, uma pneumologista de absoluto sucesso, é convocada para participar da operação e estudar o curioso ho...