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Você havia estragado tudo e ter ciência disso era o que deixava tudo pior.
Agir daquele jeito com Satoru foi um puro ato de desconforto e vergonha. Não, você não estava desconfortável com ele ou vergonha do que havia feito, mas você sentia aquilo de si mesma.
Você se lembra da primeira vez que o viu pelos corredores do prédio. Seus olhos encontraram os dele por alguns segundos antes dele abrir um grande sorriso e piscar um olho na sua direção. Você odiou aquele atrevimento e o jeito que ele te olhou de cima a baixo.
O que piorou sua situação, foram os barulhos. Sim, aqueles barulhos que te mantinham acordada quase a noite inteira e, quando você o encontrava novamente nos corredores, ele lhe dava um sorriso e piscava os olhos para você.
Você o odiava. Odiava aqueles olhos extremamente azuis. O sorriso malicioso e sacana. Mesmo assim, acabou sendo rendida por ele e deixou que todo aquele ódio virasse um sentimento de quase amizade. Quase. Você estragou tudo antes que pudesse ser algo além.
Então, no dia seguinte, após aquela discussão na frente de seu apartamento, você o encontra ao lado do elevador. Satoru se vira e olha na sua direção. Parecia estar esperando por você.
── Entregaram suas cartas na minha casa ── Ele estende os envelopes na sua direção e você os pega ── Hm...tenha um bom dia.
Você tenta não encarar seu rosto cansado ou os olhos avermelhados. Ele havia chorado?. Sua voz estava baixa e tudo nele parecia sem brilho. Ele não parecia ser o mesmo cara irritante que conheceu há alguns dias.
Satoru se vira em seguida e nem ao menos espera por sua resposta. Você empurra as cartas para dentro do bolso do casaco e segue seu caminho.
Dois dias depois você recebe mensagens dele. Você ainda se sente mal consigo mesmo e, principalmente, com a forma que Satoru ainda tenta manter contato depois de tudo que aconteceu.
