| Capítulo 12. Pelo Que Sou Grata |

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Outono. Décimo primeiro mês daquele ano. Numa manhã em tons de folhas cítricas do Feriado de Ação de Graças Americano. Valerie, pegava a estrada. Pegava a estrada literalmente, afinal, ela já havia passado pelas estradas de cenário movimentado e pelo núcleo concentrado de veículos variados da cidade grande, e agora, seguia caminho por uma área pavimentada, cercada por pinheiros altos, paisagens e planícies térreas onde a flora e a fauna isenta dos ares urbanos, passeavam livremente. Quilômetros de rodagem depois, enquanto subia pelo trajeto íngreme das colinas locais, já era possível avistar a "Pousada dos Anjos". Propriedade de Tim Buckley, irmão do padastro de Val, e que o filho mais velho do mesmo, Ray , na compainha de sua noiva Stacy, terminavam de alojar algumas belas "Guirlandas de Outono" á fechada de entrada enquanto o carro da moça adentrava pelos portões principais.

Estacionando o veículo, Valerie desceu do mesmo com uma caixa de papel pardo em uma das mãos e uma sacola preta, com um selo de vinícola italiana. Era quase que impossível não parar e atentar-se ao ambiente por alguns segundos. Ar puro, verde e fresco, folhas secas ao chão que faziam aquele barulhinho "Craquelado" conforme Valerie caminhava com suas botas de couro marrom.

- Valerie! - May, uma das primas postiças de Val descia às escadarias para recepcioná-la com um afetuoso abraço - Quanto tempo...

- É verdade... Acho que foi na Páscoa do ano passado a última vez que a família resolveu se reunir aqui

- No caso, que vocês resolveram se reunir aqui com a gente, nos conhece bem, até mesmo a cura de um resfriado é motivo pra nos reunirmos - Sorri - Mas é mesmo muito bom te rever, você está ótima!

- Você também May... - Suspira - Está mais radiante do que nunca

- É... Um dos benefícios da gravidez

- Fiquei muito feliz pela notícia... Já sabe o que vai ser?

- Mais uma para o nosso time - Referia-se num sussurro - Estava torcendo por isso, os homens estavam muito convencidos por estarem quase passando a nossa frente

Essas riem.

- Mas vamos entrar, minha mãe vai adorar te rever - Entrelaça um dos braços á Valerie conduzindo-a para o lado de dentro da residência

Os gêmeos Scott e Stevie , cortavam lenha no quintal de trás da casa, as primas Sarah e Becky cantavam alguns clássicos dos anos oitenta na sala enquanto o primo Griffin tocava violão próximo á lareira fazendo compainha ás duas, Tio Tim, Tio Theo e Troy confratenizavam entre si jogando sinuca no andar de cima, em sumo, Ellie, Diana e Lois, estavam na cozinha de onde emanava o aroma saboroso de alguns pratos típicos do feriado, como Torta de Abóbora, Pão de Milho, Purê de Batata Doce e em especial, o Peru assados da ocasião que já estava em processo de forno há algumas horas.

- Olhem só quem acabou de chegar?! - May achega á cozinha na companhia de Val

- Se não é a nossa Valerie... - Num abraço caloroso, Tia Diana vinha acolher a moça num ato de afeto - Que saudades estávamos de você minha querida... Você está linda! - Aconchegava suas mãos dóceis, quentes e de esmalte vermelho ao rosto dessa

- Obrigada Tia... É muito bom revê-la também

- Ahh... Mas eu também quero um abraço... - Se aproxima de Valerie, a mais altas delas, Tia Ellie

- Como têm passado a senhora?

- Melhor agora meu bem, com toda a certeza... - Sorria aprazívelmente

- Tudo bem, vocês duas podem ser as tias mas eu sou a mãe... O que quer dizer que sou a que mais têm direito á esse abraço - Diz aos risos Lois enquanto vêm ao encontro da filha - Ahh... Como foi de viagem meu amor?

- Foi tudo bem... No caminho, pra não chegar de mãos abanando, aproveitei pra comprar essa Torta de Nozes e... Também trouxe uma garrafa de vinho, mais uma no caso

- Só a compainha de vocês aqui... Já vale por todo o feriado - Indagou Tia Diana, essa que era casada com o Tim - Agora, enquanto trabalhamos por aqui, por que você não sobe pro seu quarto que arrumamos mais cedo com todo o carinho, tira essas botas de couro, toma um bom banho, descansa bem... E mais tarde, desce para confratenizar conosco? - Propõe Diana entrelaçando seu braço ao de Val

- Tenho uma idéia melhor mamãe... Por que não, depois de já descansada, você ir com as meninas para um passeio no mercadinho da cidade? Certeza que elas adorariam ouvir sobre as novidades da sua vida na cidade grande, elas só falam nisso - Propôs May

- Vai ser ótimo... - Respondeu num sorriso

- É muito bom tê-la conosco minha querida... - Disse Tia Diana

Após um bom banho e descansar um pouco, Valerie na compainha de algumas primas, foram passear pela reserva florestal nos arredores, a moça, havia levado sua câmera e registrou muitos momentos divertidos com essas que eram além de encantadoras, eram muito risonhas e agradáveis.

- [...] E aí Val? Achamos que você iria chegar acompanhada... - Insinuou Becky uma das primas dessa que haviam levado a moça para uma volta pelo mercado de Souvenire's

- Não dessa vez meninas.. - Respondeu enquanto registrava uma paisagem em tons de outono, cujo havia uma trilha aos derredores de folhas secas

- Deve ser incrível acordar todos os dias com a agitação da Cidade Grande né? - Pergunta a outra

- Falando em geral, àquela "Agitação" toda, acaba incentivando a gente a seguir a vida no mesmo "Pique". Mas se vocês perguntarem pra qualquer um, se gostaria de trocar uma semana na Cidade Grande por uma semana aqui, nessa pousada por exemplo, só pra desacelerar um pouquinho da loucura do dia-a-dia... Sei que não iriam pensar duas vezes, principalmente, se fosse pra passar um tempo com vocês... - Sorri a mesma

No mais tardar, próximo da hora de cearem em família, lá estava Valerie novamente em seus aposentos, de frente para um espelho á penteadeira de mógno talhado a mão, essa terminava de atarraxar um delicado par de brincos á orelha, brincos que havia comprado em uma tenda de acessórios artesanais próximo á pousada, quando trouxe á memória, o exercício de "Reflexão" sugerido pelo seu Psicoterapeuta, no caso, ela tentava imaginar quando e como seria sua experiência quanto á isso. Mas, como nada lhe veio á mente, ela desceu para se reunir com a família que ao redor da mesa, após um minuto de graças e prece num sentimento mútuo de gratidão, confratenizaram entre si, naquela mesa farta e receptiva. Já nas últimas horas do feriado, alguns já haviam ido dormir, porém, as mulheres tomavam uma xícara de café na cozinha enquanto terminavam de guardar as sobras, e algumas crianças desenhavam sob uma mesa de centro que ficava de frente para a TV. Melissa, uma das priminhas de Val, havia convidado essa para lhe fazer compainha, e a mesma, descalçada de seus saltos, e assentada ao carpete do piso em madeira, desenhava com ela trocando alguns sorrisos quando a vinheta do "Plantão Noticiário" soou pelo aparelho teletransmissor.

- [...] Foi preso agora, na noite desse feriado, Kevin Wendell Crumb, o sequestrador em série procurado pelas autoridades locais. Crumb, foi encontrado numa Área de Zona Industrial. No local, foi encontrado um grupo de quatro jovens garotas que haviam sido sequestradas e feitas reféns do criminoso conhecido por "A Horda", devido suas diversas identidades, prestes á completar um ano de sua descoberta após uma outro grupo de jovens terem sido encontradas mortas, a cidade agora, se encontra em dívida com o departamento policial que já o apreendeu e o conduziu á um Hospital Psiquiátrico para um período de avaliação antes de seu julgamento.

Naquele momento, a mão de Valerie, que coloria em verde, as folhas de um Girassol em desenho, cessou o movimento de pintura. Agora, essa enquanto ouvia o que a âncora relatava, olhava inerte para a tela da televisão. Sua expressão, era vazia, e o único gesto que reproduziu naquele momento, foi de um entreabrir de lábios, isso, antes dela sentir o toque ligeiro e dócil da mãozinha de Mel contra sua mão que ainda segurava o lápis.

- Val? - Ressurge num volume crescente a voz da garotinha - Perguntei se gostou do desenho que eu fiz de você? - Mostrou numa folha de papel a ilustração de Val frente á uma casa com flores á janela e um sorridente sol acima do telhado

Valerie se atentou àquele desenho, e subitamente, a imagem que via, por mais lúdica que fosse, lhe remeteu ao sonho de duas noites anteriores àquele dia, ela tomou aquele papel em mãos e limitava sua atenção sob o mesmo, ao seu sonho em um Flashback reproduzido inconsientemente e ao noticiário cujo relatava a apreensão de Kevin.

SPLIT: AndrômedaOnde histórias criam vida. Descubra agora